Brasil Afora: berço de Mano, Felipão, Tite e Roth, Caxias aposta em Argel Na Série C do Brasileirão, equipe da Serra Gaúcha confia no ex-zagueiro para ressurgir e revelar mais um treinador de sucesso no cenário nacional


  Técnico o Caxias (RS) faz em casa. A frase que se tornou celebre e virou lema no Flamengo pela formação de craques, principalmente pela geração encabeçada por Zico, na década de 1980, pode perfeitamente ser adaptada para a equipe da Serra Gaúcha. Se em campo o título estadual de 2000 e a revelação de Washington, o Coração Valente, surgem como feitos mais expressivos em 76 anos de história, fora dele, logo ali, no banco de reservas, a equipe grená se acostumou a impulsionar talentos que ganharam o país. Lá, despontaram Tite, Celso Roth e Mano Menezes, além de Felipão, que, se não exerceu a função de treinador, criou-se como zagueiro e profissional da bola. E é confiando nessa tradição que o clube aposta em Argel, para recolocar a equipe no mundo das vitórias e depois, sim, seguir seu rumo Brasil afora.
Mano, Roth, Tite e Felipão quando defenderam o Caxias, os três primeiros como treinadores, enquanto o outro deu os primeiros passos como zagueiro (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
Gaúcho de Santa Rosa, o ex-zagueiro de Inter, Santos, Palmeiras, Porto e Benfica segue a linha de seus antecessores bem-sucedidos e retornou ao Caxias há um mês para sua segunda passagem com uma missão: devolver ao Falcão Grená o posto de terceira força do futebol do Rio de Grande do Sul. Fora da elite do Brasileirão desde 1979, o clube disputa atualmente a Série C, e o sonho do acesso passou a ganhar cores justamente após a contratação de Argel.
Técnicos revelados pelo Caxias
Mano Menezes: atual treinador da Seleção dirigiu o clube entre 2004 e 2005, quando seguiu para o Grêmio
Celso Roth: passagem de sucesso em 96 o fez assumir o Internacional
Tite: dirigiu equipe em 99 e 2000, quando foi campeão gaúcho e se transferiu para o Grêmio
Felipão: campeão do mundo pela Seleção, não dirigiu o Caxias, mas começou a vida no futebol no clube, onde foi zagueiro entre 73 e 79
Com oito pontos – sete conquistados em três jogos com o novo comandante, que assumiu na zona de rebaixamento -, o time caxiense é o terceiro colocado do Grupo D faltando duas rodadas para o fim da primeira fase, quando os dois primeiros se classificam. Retrospecto empolgante para Argel, que sabe o quanto o Caxias pode alavancar sua carreira.
- Nesse clube, como treinador, surgiram nomes importantes como Mano, Tite, Celso Roth... Todos saíram daqui para grandes clubes. Essa é minha segunda passagem e não tenho interesse em sair. Depois que deixei o Caxias, em 2009, passei por sete clubes, e nenhum tinha a estrutura que tenho agora. Meu projeto de carreira passa por sair daqui só se for para um Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, Corinthians... Para algum grande. Quero me consolidar aqui e buscar meu espaço com calma. São bons exemplos de treinadores de alto nível.
Há quatro anos na função, o ex-zagueiro, de apenas 36 anos, já dirigiu 10 equipes na curta carreira e tem a seu favor três acessos – com o Mogi-Mirim, para Série A do Paulista, em 2008, e com Guaratinguetá e Criciúma para a B do Brasileiro, em 2008 e 2010, respectivamente. Pelo Caxias, ele passou em 2009 e levou o clube à final do Gauchão, quando perdeu por 8 a 1 para o Inter. A frustração, no entanto, ficou no passado, e Argel acredita que novamente pode ir longe.
Argel, técnico do Caxias (Foto: Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)Ex-zagueiro, Argel é aposta da vez no Falcão Grená
(Foto: Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)
- Conheço o Caxias como a palma da minha mão. Passei por aqui em 2009 e fizemos um bom trabalho. Peguei o clube em situação muito parecida, na zona de rebaixamento do Gaúchão, e fomos para a final do campeonato. Estou fazendo o papel de bombeiro, e acho que isso é bom. Até mesmo pelas características de trabalho.
E os planos do comandante para o Caxias são ambiciosos. Em entrevista em sua sala no estádio Centenário – o maior do interior do RS -, ele não economizou elogios à estrutura que tem para trabalhar e apostou no acerto em campo para que a equipe reapareça com força no cenário nacional.
- O Caxias precisa retomar seu rumo, tem que almejar novos objetivos, disputar a B, a Série A. Temos estrutura, tradição, camisa, história... Vamos trabalhar isso por partes. É um desafio grande, em uma competição importante, mas confio muito no sucesso. O Caxias tem uma estrutura que muito clube de Série A não tem. Agora, precisamos ter time. São coisas que caminham juntas e estamos buscando esse equilíbrio.
Para colocar em prática esse planejamento, Argel conta com o apoio irrestrito da diretoria. Também de olho no passado de grandes talentos que deram as caras no banco de reservas grená, o vice de futebol, Zoilo Simionato, abraçou o trabalho de quem ele aposta ser a nova “revelação caxiense”.
- Alguns técnicos efetivamente decolaram aqui. Tivemos essa sorte. Agora, apostamos no Argel. Se ele tiver juízo (risos), pode ganhar muita projeção para sua carreira. O Caxias tem uma marca conhecida por todo o Brasil, e isso ajuda. Aqui, oferecemos condições de estrutura para que surjam esses talentos a nível de comissão técnica.
Gestão com modelo empresarial e estrutura elogiável
Zoilo, por sinal, faz parte de um grupo que assumiu o Caxias em 2007 e tem sido responsável por uma mudança radical na administração do clube, que, apesar de não se tornar sociedade anônima, segue os moldes de uma empresa. Neste período, os bons resultados em campo ainda são raros, mas a reforma completa na estrutura física, com a construção e modernização do CT no complexo do estádio Centenário, é celebrada como um título.
academia do Caxias  (Foto: Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)Academia moderna compõe complexo no estádio Centenário (Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)
- Implantamos no clube o sistema de empresa. Não perdemos a identidade, mas a gestão é dessa forma. E a primeira preocupação em 2007, quando iniciamos esse processo, foi reestruturar a parte física do Caxias, com a construção do CT, onde trabalhamos a base e o time profissional. Além disso, temos refeitório, nutricionista, todo acompanhamento necessário – disse o dirigente.
vestiário do Caxias (Foto: Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)Vestiário não deixa a desejar ao de clubes muitos
da Série A (Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)
Com três campos à disposição da equipe de cima e de base, vestiários em ótimo estado, academia moderna e profissionais dos mais diversos ramos, o Caxias deu como completo o trabalho extracampo e aguarda ansiosamente o retorno dentro dele. Caso a resposta seja demorada, porém, a promessa é de que nada interfira no conceito preestabelecido há quatro anos.
- Mesmo no momento complicado, não mexemos no orçamento. É tudo predefinido. No futebol, normalmente, quando o resultado não acontece, as pessoas fazem loucuras. Nesse sistema empresarial, não permitimos isso. Não podemos mudar nossas diretrizes. A torcida às vezes não entende, mas temos que nos manter firmes – garantiu o vice de futebol.
Entretanto, se o processo de revitalização do clube ainda não gerou troféus, outros frutos já foram colhidos com a bola rolando. Com olheiros espalhados por todo o Sul do país, o Caxias deu atenção especial ao trabalho de base e descobriu nomes como Cristian Borja, ex-Flamengo e atualmente no Estrela Vermelha, da Sérvia, Everton, que defende o Coritiba, Gerley, do Palmeiras, e Edenílson, meia do Corinthians. Todos fundamentais para que o time grená equilibrasse o orçamento.
Assim, com a casa arrumada e apostando na repetição do passado, o Caxias entra em campo domingo, às 15h (de Brasília), para receber o lanterna Santo André, no Centenário, pela oitava rodada da Série C. Uma vitória coloca a equipe na zona de classificação para a segunda fase e aproxima ainda mais Argel de seus antecessores.
painel com jogadores na loja do Caxias (Foto: Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)Painel com imagens de Washington e Felipão em loja oficial do clube (Cahê Mota / GLOBOESPORTE.COM)

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