Física e mentalmente sobrecarregados, atletas olímpicos se aproximam das competições

 Eugene, Oregon – Sam Parsons sentiu que estava em sua melhor forma física quando se posicionou para a largada dos cinco mil metros no evento Drake Relays, em abril. Ele havia aproveitado o adiamento de um ano das Olimpíadas para intensificar seu treinamento com o objetivo de competir pela Alemanha nos Jogos Olímpicos de Tóquio neste verão do Hemisfério Norte.

Sam Parsons posa para fotos em Eugene, no Oregon, em 25 de junho de 2021. (Alexandra Garcia/The New York Times)© Distributed by The New York Times Licensing Group Sam Parsons posa para fotos em Eugene, no Oregon, em 25 de junho de 2021. (Alexandra Garcia/The New York Times)

Mas, à medida que sua performance melhorava, também crescia a pressão para que se qualificasse para as Olimpíadas, depois de ter investido tanto esforço e tempo extras nessa busca. "Eu sentia constantemente aquela tensão, e conheço vários atletas que exigiram demais de si mesmos só porque queriam muito participar dos Jogos. Muita gente continuou em ritmo acelerado por muito tempo, e não é possível aguentar tanto", disse Parsons.

Simone Manuel em disputa qualificatória dos 50 metros livres olímpicos em Omaha, Nebraska, em 20 de junho de 2021. (Hiroko Masuike/The New York Times)© Distributed by The New York Times Licensing Group Simone Manuel em disputa qualificatória dos 50 metros livres olímpicos em Omaha, Nebraska, em 20 de junho de 2021. (Hiroko Masuike/The New York Times)

Para o atleta, o estresse reprimido finalmente veio à tona depois que ele ficou em décimo lugar, resultado decepcionante para um corredor cujo sonho de repente corria o risco de ficar fora de alcance. Ele se lembrou de que, enquanto dava seus primeiros passos vacilantes em uma corrida de desaquecimento, seu coração estava tão acelerado que parecia que ia explodir.

Parsons contou que teve a sorte de estar com Jordan Gusman, um de seus companheiros de equipe do Tinman Elite, clube de corrida com sede no Colorado. Sentindo que Parsons poderia desmaiar, Gusman o segurou e lhe garantiu que ficaria bem. Mais tarde, o corredor soube que estava tendo um ataque de pânico: "Nunca mais quero passar por isso. Felizmente, obtive ajuda."

Para muitos atletas considerados fortes candidatos a uma medalha, o último ano e meio foi um período de grande incerteza e ansiedade crescente. À medida que atletas como Parsons seguiam adiante mesmo com a pandemia, tinham de lidar com locais de treinamento fechados, competições canceladas e orçamentos apertados. Havia também a grande incógnita: se os Jogos de Tóquio seriam realizados.

"Acho que foram 15 meses muito difíceis para um monte de atletas", comentou Steven Ungerleider, psicólogo esportivo do Oregon que participa do conselho executivo do Comitê Paraolímpico Internacional.

A tensão foi especialmente acentuada para aqueles cujo esporte é exibido especialmente nas Olimpíadas: nadadores e mergulhadores, ginastas e remadores, corredores e saltadores. Muitos são criaturas de hábitos rígidos e objetivos firmes, e a pandemia foi a ruptura máxima.

"Eles são obcecados em se levantar de manhã, comer certas coisas, sair para correr, encontrar o treinador e conversar com ele. O pior que pode acontecer a um atleta de elite é a incerteza. Isso os estava enlouquecendo", disse Ungerleider.

Os próprios atletas estão declarando isso, falando abertamente em entrevistas e nas mídias sociais de sua saúde mental, assunto que não carrega mais o estigma que teve um dia tanto no esporte quanto na sociedade.

Simone Manuel, quatro vezes medalhista em natação nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, destacou alguns desses problemas de saúde mental depois que conseguiu um distante nono lugar nos cem metros livres nas seletivas olímpicas dos Estados Unidos em junho, revelando que havia sido diagnosticada em março com síndrome de overtraining. Seus sintomas incluíam dores musculares, perda de peso e fadiga. Mais tarde, classificou-se nos 50 metros livres para os Jogos de Tóquio. "Durante esse processo, fiquei definitivamente deprimida. Eu me isolei da minha família", contou ela aos repórteres.

Vários corredores desistiram das recentes seletivas de atletismo olímpico dos EUA em Eugene, no Oregon, alegando lesões e fadiga. Colleen Quigley, atleta de corrida com obstáculos, escreveu num post em uma mídia social que estava se afastando para fazer uma pausa "tanto mental quanto física". Drew Hunter, um dos companheiros de Parsons no Tinman Elite, revelou que havia rompido a fáscia plantar. E Molly Huddle, uma das corredoras de longa distância mais condecoradas da história americana, retirou seu nome da competição por causa de problemas na perna esquerda. "Era mais difícil fazer qualquer coisa que envolvesse atletismo no que diz respeito a ter acesso a locais e a tratamento, e você acaba comprometendo todas as coisas que estava maximizando antes. Ao mesmo tempo, não parecia que podíamos descansar de verdade", disse Huddle em uma entrevista antes das provas.

Mesmo aqueles que persistiram comentaram que foi uma época como nenhuma outra. Emily Sisson, que ganhou os dez mil metros feminino nas seletivas, mencionou em entrevista recente que o fato de não ter podido correr muito no auge da pandemia gerou desafios próprios: "Você está treinando há algum tempo sem um objetivo final. Isso afeta sua renda anual também. Não há prêmio em dinheiro, taxas de participação – nada disso."

Antes de seu ataque de pânico, Parsons nunca havia considerado que poderia ser tão suscetível ao estresse de sua profissão. Meditava diariamente; estudou atenção plena. "Achei que estava fazendo todas as coisas certas para me manter equilibrado", contou ele. Mas o adiamento das Olimpíadas, de um jeito estranho, criou um senso de urgência que o consumia. "Você vai forçando cada vez mais, porque existe esse nível adicional de 'Tenho de fazer isso agora'."

Parsons também estava lidando com uma lesão crônica no tendão de Aquiles – "Imagine driblar uma bola de basquetebol murcha" – enquanto mantinha sua alta performance. Cinco anos depois de ter entrado no ciclo olímpico, ele não podia se dar ao luxo de fazer uma pausa longa, mesmo depois que lesionou sua panturrilha em fevereiro e desistiu de competir na temporada indoor: "Você tem toda essa energia armazenada, e de repente as Olimpíadas são adiadas; você sente que precisar levar isso adiante e mantê-la por mais um ano. Definitivamente, teve um preço, e acho que isso levou muitas pessoas a lugares sombrios."

Parsons, que foi um dos melhores atletas do estado da Carolina do Norte, caiu nesse lugar sombrio no Drake Relays, em Iowa, a abertura da temporada de competições que ele destacou como sendo a oportunidade de avaliar sua forma física. Quando sua corrida não saiu como o planejado e ele se viu atingido, sabia que precisava fazer mudanças.

Começou a se encontrar com Mareike Dottschadis, psicóloga esportiva que o ajudou a reformular sua abordagem. Parsons passou a aceitar a beleza de simplesmente tentar. "É um privilégio chegar até aqui, e ter uma equipe de apoio e talento para me colocar nesta posição de um por cento em que posso ser capaz de representar meu país", comentou ele.

Parsons se recuperou com um desempenho convincente em uma corrida em maio, depois viajou para a Europa antes do campeonato alemão no início de junho para ter a chance de garantir uma vaga nas Olimpíadas. (Ele cresceu em Delaware, mas sua mãe é alemã e ele tem dupla cidadania.)

Na manhã de sua corrida, confidenciou a Dottschadis que o tendão de Aquiles ainda o incomodava. Mas vinha convivendo com a dor fazia meses e achou que a adrenalina da corrida o ajudaria a superar isso. Dottschadis lhe pediu que visualizasse o pior cenário possível. "Só desisto se meu corpo não me deixar terminar", disse-lhe Parsons.

Depois de ficar com outro corredor, Parsons tentou acelerar para um último sprint faltando pouco mais de uma volta para o fim – e sentiu dor na panturrilha. Saiu mancando da pista com uma lesão muscular.

Parsons esteve em Eugene para apoiar alguns de seus companheiros de equipe nas seletivas americanas depois que um amigo o convenceu a comparecer. "Eu ainda estava sentindo pena de mim, quando ele me disse: 'Honestamente, Sam, ninguém se importa com o que está acontecendo com sua lesão porque há muitas pessoas passando exatamente pela mesma situação.' Provavelmente, era algo que eu precisava ouvir", revelou o atleta.

Relegado ao papel de espectador, Parsons estava sem muletas quando começou a pensar no campeonato mundial do ano que vem. "Tenho meses para recuperar meu corpo da maneira certa." Para isso, o atleta planeja usar todas as lições difíceis que aprendeu.

c. 2021 The New York Times Company 


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