Abel é apresentado no Flu e avisa: "É preciso ter alma. Estamos longe disso" Treinador assina contrato de dois anos com o Tricolor, mas estará à beira do campo apenas em 2017. Reconhece que a principal missão é recuperar a essência do time

A apresentação de  Abel Braga como técnico do Fluminense, no começo da tarde desta sexta-feira, no Salão Nobre das Laranjeiras, deu o tom de como será a terceira passagem do treinador pelo clube: é preciso recuperar o time. Em uma cerimônia que misturou emoção pela terceira passagem no Tricolor e com o acidente com a delegação da Chapecoense,o comandante disse que é fundamental recuperar a alma da equipe, que, por exemplo, não vence há novo jogos no Brasileirão. 
Por se sentir torcedor do Flu, Abel sabe que o 2016 do time não foi bom - apesar do título da Primeira Liga. Foram três treinadores, contando com Marcão, que, aliás, estará à frente do comando diante do Inter, na última rodada do nacional. O novo treinador começa a trabalhar em 2017, terá contrato de dois anos e a velha equipe que já esteve no próprio time carioca nas outras duas passagens, 2005 e 2012/2013. 
- Venho buscar uma cara, o time de hoje não tem. Até 2012 existia. Acima de tudo é preciso ter alma, e estamos longe disso. Já fica o aviso. Vai ter que noção do escudo que carrega no peito.

Abel Braga, Fluminense (Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)



Peter Siemsen (atual presidente) e Pedro Abad (presidente eleito) foram os responsáveis por apresentar Abel. O ex-zagueiro do clube irá comandá-lo pela terceira vez - tem 219 partidas (115 vitórias, 44 empates e 60 derrotas), com três títulos conquistados (dois Cariocas e um Brasileiro).  Peter, aliás, disse ter se arrependido de ter demitido Abel em 2013, após cinco jogos sem vencer no Brasileiro.  

- Me sinto mais leve. Peter disse que tinha de ter lutado mais pela minha permanência em 2013. Fui demitido e ganhei troféu, foi algo curioso. Se ficou um pouco da dor, ela desapareceu hoje - comentou Abel.
Abel terá na comissão técnica Leomir (auxiliar técnico), Marquinhos (preparador de goleiros), Marcelo Chirol (auxiliar de preparação física) e Fábio Moreno (observador técnico).
Confira a íntegra da coletiva:
Volta ao clube x luto pela Chape
A volta ao clube me faz amenizar a dor que estou sentindo pelo momento. Estive em Curitiba anteontem. Era fiador do meu filho no apartamento, que era do Gil, da Chapecoense. Convivi nos Emirados Árabes com Caio Junior, frequentava a casa dele. Josimar foi meu jogador no Internacional. Há um mês, perdemos Carlos Alberto Torres. Só o futebol poderia amenizar a dor. Não vou falar do Mário Sérgio pois não consigo... Tomara que possa confirmar trabalhar com o Alexandre Torres, filho do Carlos Alberto. Só o futebol proporciona isso. Estou muito abalado, mas hoje um pouco aliviado. O clube formou o meu caráter, a minha lisura, a minha honestidade. Entrei em junho de 1968. 
Saída de 2013
Peter não precisava lembrar de 2013. Mas o clube é diferente. Vim aqui buscar uma coisa que o torcedor quer. O time precisa de caráter. É um time que tem de existir alma. Isso está longe de acontecer. Tem de ter alma, caráter, tem de ter noção do escudo do peito. Conheci o CT. Chamar de CT é muito pouco. Aquilo lá é muito maior. O clube centenário passa a ser diferente. É algo extraordinário.
Formação do elenco
A formação do plantel... estarei muito próximo do presidente, do Pedro Antonio e Marcelo Teixeira. A direção não precisa me prometer reforços. O que mais quero, a fidelidade, eles já me prometeram. A promessa que fiz é de resgatar a imagem de campo. Não importa os nomes. Tem de pensar no número ideal de jogadores para fazer isso.
Abel Braga, Fluminense (Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)

Importância do treinador
Treinador não joga, dirigente não joga. Vamos procurar dar a equipe as condições de jogo. Aquilo que a gente quer. Peter estruturou o clube, Pedro vai dar continuidade. Existem coisas de serem resolvidas. A gente vai ter de virar a situação do time. Nas duas vezes anteriores, a situação não era fácil. Estou perdendo o posto de segundo maior treinador para um uruguaio. Acho que faltam 80 jogos. Presidente, preciso disso. Não me manda embora antes.
 Realização da última rodada do Brasileiro
É muito complexo. Não há alegria. O jogo entre Chapecoense e Atlético-MG, sim, não deveria acontecer. Outras equipes necessitam da rodada. Tem times que dependem do futuro... Tem vaga na Sul-Americana, na Libertadores. Não sei te falar, não tenho conhecimento jurídico. Seria insanidade fazer a Chape entrar em campo.
Medo de avião
O grande problema é que há muitos jogos. Por mais que se tente... Na Europa, se muda de país em 40 minutos. Passei sufoco maior na ida para Equador, em 2006, com o Inter contra a LDU. Algo muito pior do que em 2012 pelo Flu, da volta de São Paulo (viagem de Presidente Prudente ao Rio após título brasileiro). Talvez agora se faça algo mais sensato com o número de jogos... é uma maneira de melhorar.
Alma do time
Quero que o time tenha a minha alma da época de jogador. Acho complicado nos chamarem de medalhão. Eu tenho muitas medalhas, são 23 títulos. Mas sempre tenho de aprender. Isso não acaba. Me sinto mais leve. Peter disse que tinha de ter lutado mais pela minha permanência em 2013. Fui demitido e ganhei troféu, foi algo curioso. Se ficou um pouco da dor, ela desapareceu hoje.
Eleição
Não trabalho para oposição. Não sou cabo eleitoral de ninguém. Fui colocado como o treinador de dois candidatos (Celso Barros a Mário Bittencourt). Mas quem me contratou foi o terceiro. Essa é a verdade. Não trabalhei para ninguém. Alguém viu isso? Sou treinador, sou profissional. Quero dar a equipe o que o torcedor quer ver.
Trabalhar sem a Unimed-Rio
O maior patrocínio que pode existir é o Fluminense (aponta para a bandeira do clube). O Flu terá outra vida com o CT. Até acho que tem de ser chamada de Vila dos Guerreiros. Atingiu a maioridade. Vai sair deste lugar lindo aqui (Laranjeiras), mas que não é para um time treinar.
Paixão em trabalhar
O dia que deixar de ter paixão, deu. Não posso ir a clube que não goste. Caso não tenha paixão, tenho de ficar em casa. Fiquei um ano por opção. Sou apaixonado pelo Flu.
O que fez no período sem trabalhar
Devo ter visto uns 500 jogos. Escrevi umas 7 mil folhas. Estive em muitos lugares. Não preciso dizer isso. Me relacionei muito bem com o futebol. Vi até novos jornalistas surgindo. Vejo na TV alguns mudando jogadores no campinho tático. Se fosse tão fácil fazer isso no campo... Estou melhor, estudei, mas não falo em ano sabático. 
Situação do Inter
É muito claro: não gostaria de ver o Inter rebaixado. É muito grande. Está pagando um preço, não sei se de acordo, ou muito grande, por algo que fez errado. A gente nunca pode prever nada no futebol. Em 2013, o Flu não caiu por pouco. Uma das causas, acho, foi a minha saída. Em dezembro, após meu contrato, não voltei ao Inter. Aguirre, Argel, Falcão, Roth, Lisca... Isso tem um preço.
Tempo de contrato
Serão dois anos. É a primeira vez que assino contrato com esse período. 

  Varjota  Esportes - Ce.         /                Globoesporte.

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