Diretor do Grêmio abre o jogo sobre 'selo de produção' de joias, Flamengo, interesse em Everton e muito mais

Klauss Câmara © Gazeta Press Klauss Câmara
Desde janeiro de 2019, Klauss Câmara é o executivo de futebol do Grêmio. Chegou com o desafio de manter um elenco competitivo, mas sem grandes "extravagâncias" orçamentárias, o que é marca da atual gestão presidida por Romildo Bolzan Jr. No período, viu o time gaúcho ser campeão estadual, chegar a duas semifinais (Copa do Brasil e Libertadores de 2019), e, em muitos momentos, estar nos holofotes pela qualidade individual de atletas que ganharam reconhecimento com convocações para a Seleção Brasileira.
Everton Cebolinha, Pepê e Matheus Henrique despertaram então o interesse de gigantes do futebol europeu. O primeiro ficou muito perto de ser negociado depois de ser campeão da Copa América no ano passado, mas o desfecho foi diferente. O calendário do futebol pode ter prejudicado a janela de transferências no meio de 2019, conforme opinou o executivo do Grêmio, em entrevista exclusiva à ESPN Brasil. Era final de agosto, o Grêmio, além de muitas consultas/sondagens, teria recebido proposta oficial de um clube europeu, o Everton, pelo que foi noticiado, e do chinês Beijing Guogan. Com contrato até 2023, o valor pedido pelo tricolor era de 40 milhões de euros.
Com o mundo em adaptação e ainda entendendo as consequências do coronavírus, o mercado de negociações no futebol será impactado. Por enquanto, sem o retorno iminente das competições, não é possível dizer exatamente como será esse "futuro". Os clubes seguem monitorando vendas e negociações contratuais, e o Grêmio sabe dos ativos valiosos que tem. Everton, de acordo com o Diário La Stampa, jornal italiano, é observado pelo Milan para o ano de 2021. O atacante está no radar desde o ano passado, quando uma proposta abaixo de 30 milhões de euros foi recusada.
Nessa temporada, o Grêmio fez contratações pontuais com a ideia de repetir êxitos de um passado recente, usando "cautela" em qualquer negociação. Foram sete reforços, mas ainda nenhuma venda robusta. Inevitavelmente, a próxima janela promete baixas no elenco levando em consideração as sondagens frequentes; em compensação, bons negócios aos cofres e um "respiro".
Confira a entrevista na íntegra:
Klauss, você comentou recentemente que seria favorável a uma unificação do calendário brasileiro com o da Europa. Agora seria a hora certa para isso?
Essa é uma opinião minha, na pessoa física do Klauss. A minha visão é que seria muito benéfico para o futebol a busca de uma unificação com o calendário europeu em aspectos técnicos e até aspectos econômicos, que são interligados e favoreceriam muito toda a nossa prática. Se a gente não consegue encontrar uma solução para o nosso calendário, que seja então benéfico para todo o contexto do mundo. Essa minha ideia tem relação com o fato de nós termos o país com a melhor qualidade do produto “jogador de futebol”. É o país que mais exporta, é o país que tem mais jogadores nas principais ligas. O executivo de futebol tem a maior dificuldade de estar “confeccionando” jogadores a cada seis meses, é um fator prejudicial para gente, na nossa função. Além de outros fatores, claro.
O início do calendário lá é o nosso meio, então acabamos perdendo os principais atletas. Isso nos traz prejuízos técnicos, esportivos e financeiros, porque se temos todos os jogadores disponíveis até o fim, é maior a probabilidade de termos sucesso esportivo. Passando de fase, sendo campeões, temos mais receita, e os próprios atletas passam a ser um produto mais valioso. Além da preparação desde o começo do ano. Física, técnica, emocional, para que os atletas possam seguir o calendário até o término da sua temporada. Sem essas intervenções de perda de jogadores e sequencia de jogos.
O Grêmio vai precisar vender atletas?
A saída de jogadores é algo que já estamos acostumados. Os atletas passam por momentos excepcionais dentro dos clubes para alcançar então situações desportivas e financeiras ainda maiores na Europa. Nós sabemos que a saída está iminente. Mas o fato do clube ter uma gestão equilibrada ajuda nesse contexto, porque não é só vender por conta da crise, mas saber realmente qual o valor para isso. O selo de produção do Grêmio é um selo de qualidade de altíssimo nível. O que eu acredito é que essa é uma condição para todos clubes, a sobrevivência e a responsabilidade financeira é de extrema importância. Estamos passando por um ano muito atípico, todos clubes passarão por um período de revisão.
Quais são esses "ativos" do Grêmio hoje?
É difícil nominar quando temos um elenco mesclado com jogadores experientes e jovens talentos, nesse modelo que o Grêmio tem adotado nos últimos anos, e que é de sucesso. A gente tem nos mais jovens a maior atratividade. Temos o Cebolinha, Pepê, Jean Pyerre, Darlan e Matheus Henrique. Alguns jogadores que surgiram na base e estão se consolidando no profissional. Nós não sabemos os valores que vão vir por tudo que estamos passando. E toda negociação precisa encontrar os objetivos do clube e do atleta também para que o negócio aconteça. Não por uma questão de necessidade, o Grêmio tem um modelo de gestão que é referencial, e acredito que a gente consiga ter esse equilíbrio ainda mais duradouro com as pessoas que estão hoje no clube.
Klauss Câmara falou em exclusividade com a ESPN Brasil © Fornecido por ESPN Klauss Câmara falou em exclusividade com a ESPN Brasil
Chegou alguma proposta recente pelo Pepê?
Não, absolutamente nenhuma proposta. Tudo o que temos escutado são especulações. Mas é natural pelo potencial, pela qualidade que ele tem, o Pepê vem num nível de progressão muito grande, é um jogador promissor. Ele faz parte desse grupo de atletas oriundos e formados nas nossas divisões de base.
O que aconteceu com a situação do Cebolinha pós Copa América?
Ele é um grande exemplo para consolidar a questão do nosso calendário. A Copa América aconteceu no meio do ano, ao término da competição, já estava próximo o fechamento da janela dos principais compradores, do mercado europeu. Isso já é uma demonstração do quanto a questão do nosso calendário acaba sendo antagônica e prejudicial no quesito de comercialização. Não só pela perda desportiva, mas pelo momento da janela, pelos prazos. Nós tivemos duas situações que foram muito próximas ao fechamento, mas não teria nem tempo hábil. Ele estava em viagem, no Paraguai para jogar a Libertadores. Ficou numa situação de inviabilidade com o que chegou ao Grêmio de maneira concreta. Mas em termos de sondagem, foram as mais diversas, de vários clubes, que não se consolidaram. Consideramos uma proposta concreta apenas quando é oficializado. Fizemos todo um trabalho de conscientização com o atleta, que é natural, porque é uma grande expectativa que se gera. Em caso de não acontecer, que foi mesmo o desfecho, nós precisávamos fazer todo um trabalho na questão emocional e mental do atleta. Ele é um atleta exemplar, comprometido, ele concentrou todas forças e foco no Grêmio para que agora, quando abrir a janela, pelo atleta que ele é, pode ser que apareça algo de concreto. Ano passado, nós tivemos um clube da China e um clube da Europa.
O sucesso do Flamengo pressionou os outros clubes no quesito contratações?
Acho que o segredo está aí. Quando você vê o Flamengo com a sua capacidade financeira de angariar receitas muito acima que os clubes em sua grande maioria, nós não podemos nos deixar levar por essa questão, porque o Flamengo tem um potencial de receita diferente. Pelo fato do Flamengo ter se organizado, ter tido essa capacidade mais agressiva no mercado, não significa que os clubes tenham que fazer no mesmo modelo, até porque temos que fazer o melhor que podemos, dentro das condições que temos para realizar. Aqui no Grêmio foi o grande segredo, da forma mais criativa, estudando, analisando o mercado. Não adianta queremos realizar como o Flamengo, o potencial é diferente do nosso. Mas isso não significa também que ele terá vantagem única e exclusivamente por isso. Tem grandes exemplos pelo mundo, que desportivamente equilibram essa força. É desafiador montar um elenco assim.
Por que o Grêmio apostou no Thiago Neves?
O Thiago pelo contexto que ele viveu, que é o passado recente do Cruzeiro, gerou mais uma dúvida e incerteza. Mas nem sempre as contratações se baseiam no passado recente do atleta, a gente busca características, comportamento que ele exerce em campo, qual é a condição que ele pode nos trazer pelas características que queremos para nosso jogo. O Thiago é um jogador que a história já diz isso, que entra na área, que finaliza, que tem uma bola parada muito boa. Existem elementos técnicos que contribuíram muito para termos ele no nosso elenco. 

 Varjota Esportes - Ce.          /            MSN.

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