Lateral-direito George Lucas, atualmente no Clube do Remo, relembra histórias curiosas com o craque do Barcelona, Neymar, seu companheiro no Santos na temporada 2010 (Foto: Samara Miranda/GloboEsporte.com)
Da época da segunda geração dos Meninos da Vila, George Lucas tem as melhores lembranças de sua carreira. Foi no Santos de 2010 que o lateral-direito, cria do Grêmio e atualmente no Remo, jogou ao lado do astro Neymar, de Paulo Henrique Ganso, André e Zé Eduardo, em um time mesclado com a experiência de Edu Dracena, Giovanni, Léo e Elano. Um ano e meio com a camisa do Peixe lhe rendeu o título do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, além de histórias inesquecíveis dos bastidores da bola.
– Depois do jogo nos ofereceram uma festa. O Neymar, meu parceiro no hotel, saiu para comprar uma roupa especial, estava preocupado em se apresentar bem, afinal, ele já era o craque do time. Chegou a se aprontar todo, mas acabou barrado, pois tinha menos de 21 anos e não podia entrar no baile. E foi uma frustração para ele, porque a maioria do time foi se divertir. Quando voltamos, ele já estava dormindo, e a encarnação foi muito grande. Ficaram ele, Ganso e André, tudo menor de idade – brinca.
Depois do jogo ofereceram uma festa. O Neymar saiu para comprar uma roupa especial, estava preocupado em se apresentar bem, afinal, ele já era o craque do time. Chegou a se aprontar todo, mas acabou barrado, pois tinha menos de 21 anos e ele não podia entrar no baile (nos EUA)"
George Lucas, lateral-direito e ex-companheiro de Neymar no Santos
Cerca de um mês depois, em maio de 2010, Dunga anunciava os 23 jogadores convocados para a disputa da Copa do Mundo da África do Sul apenas com Robinho entre os selecionados do Peixe. Neymar e Ganso, as revelações do país àquela altura, estavam fora mesmo depois da pressão de jornalistas e torcedores brasileiros. George Lucas relata a expectativa do elenco e certo descontentamento com as duas ausências.
– Estávamos concentrados para jogar (contra o Grêmio, pela Copa do Brasil), e todo mundo parou para assistir à convocação da Copa. A nossa expectativa era muito grande para que Ganso e Neymar estivessem na lista. O Ganso parecia mais preparado, tinha características de segurar a bola e visão de jogo, e o Neymar em uma crescente absurda. Acabou indo só o Robinho e ficou aquele clima meio chato. Demos forças para eles, jovens ainda, pois sabíamos que iriam acontecer as convocações no futuro – relembra.
Ao astro do Barcelona, George Lucas também não economiza nos elogios dentro e fora das quatro linhas e aposta na superioridade de Neymar sobre Lionel Messi. Antes de chegar ao clube do litoral paulista, o lateral vinha de quatro temporadas consecutivas no Campeonato Espanhol, pelo Celta de Vigo, onde enfrentou o clube catalão com o argentino e mais Andrés Iniesta, Samuel Eto’o, Thierry Henry e companhia.
– Quando voltei da Europa, cheguei com bagagem ao Santos. Logo no primeiro treino, encontro o Neymar com 17 anos. Fui marcar ele e levei um elástico com dois toques. É muito difícil fazer isso. Ele é um monstro e uma pessoa fantástica, tem uma estrutura familiar incrível. Eu enfrentei o Barcelona com o Messi e afirmo que ele não perde em nada e acho ele até melhor. O Messi sai na frente por ter um time inteiro em função dele, e o Neymar vai chegar nesse nível lá, assim como a seleção brasileira joga para ele – acredita.
CARREIRA PROMISSORA E PARCERIA COM LUXA E TITE
George Lucas chegou ao Grêmio com dez anos e se profissionalizou aos 18, em 2002, com Tite no comando. O então garoto foi logo apadrinhado pelo treinador e virou titular por dois anos até o Tricolor gaúcho ser rebaixado. Mesmo com o descenso, o jogador permaneceu em alta após o final do Brasileirão, e a diretoria gremista resolveu deixá-lo na vitrine da Série A para chamar atenção do mercado internacional. Foi aí que Tite, já no Atlético-MG, levou-o junto, emprestado, mas o casamento durou apenas seis meses, até que o lateral fosse negociado com os espanhóis.
Já no Velho Continente, George Lucas conheceu Vanderlei Luxemburgo, à época treinador dos galácticos do Real Madrid e que mais tarde lhe traria de volta ao Brasil, para o Santos. E é essa dupla de treinadores que o jogador não cansa de chamar de "especial", sobretudo pelo aprendizado adquirido e pelas oportunidades proporcionadas.
– Trabalhei com Tite naquela época do Grêmio. Deu-me a oportunidade de jogar sem medo e hoje é um dos melhores técnicos. Não tenho dúvida que foi o cara que mais me ensinou no futebol. Luxemburgo também é fantástico. Ele me viu jogar pelo Celta quando treinava o Real e depois me ligou chamando para o Santos. A gente aprende com todos os técnicos. Eu trabalhei com Marcelo Martelotte, Dorival Junior, que foram importantes, mas esses dois são especiais e representaram muito na minha carreira. São agregadores e diferenciados – afirma.
Depois que deixou o Santos, a carreira não foi a mesma. Uma passagem pelo Sporting Braga, outra pelo Sport e mais uma pelo Avaí salvam o currículo. A seguir, somente equipes medianas como Pelotas, Ituano, Veranopólis e América-RN até desembarcar em Belém para disputar o estadual pelo Remo e, quem sabe, a Série D do Brasileiro. Mesmo assim, o lateral não esconde a empolgação com o desafio e espera uma nova chance entre os grandes.
– Cheguei ao Sporting Braga, clube de Portugal, e acabei disputando mais uma Copa da Uefa. Fui bem lá e decidir voltar. Quando retornei, voltaria para o Grêmio, mas mudou a diretoria e melou a negociação. Acabei indo para o Avaí na Série A. Depois joguei no Sport, América de Natal, outras equipes menores e agora no Remo, muito feliz por sinal. Tive alguns problemas nesse caminho, por isso perdi um pouco de espaço, mas agora estou na melhor forma, bem fisicamente, pois me cuido muito mais que antes. Tudo na minha vida é desafio – disse.
VIDA FINANCEIRA E CASAMENTO DURADOURO
A vida de George Lucas nem de longe é badalada. Nada de redes sociais, carros de luxo, bebidas e mulheres. Ele casou cedo com Priscila e tem uma filha, Lívia, de três anos. As duas moram em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul e visitam o jogador a cada 15 dias na capital paraense. Financeiramente, porém, o lateral está estabilizado depois de fazer o pé de meia na Europa e nos grandes clubes do Brasil. Tem casa própria, automóvel e ainda ajuda familiares mais próximos.
– Conheço minha esposa desde os 15 anos e temos uma filha de três anos. De 15 em 15 dias elas estão aqui comigo. Apesar da distância, não posso reclamar, pois é meu trabalho, e o futebol me proporcionou uma situação financeira tranquila. Sempre fui um cara que guardei muito, pois o dinheiro é suado, a começar por ter de abrir mão da nossa família. Eu aprendi com meu pai que o dinheiro não pode te mover. O que te move são as conquistas, por isso nunca me acomodei, estou batalhando. O maior presente que me dei foi a minha casa – finaliza.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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