'Fundo abutre', chinês misterioso e dívida bola de neve: como Milan chegou ao fundo do poço

Yonghong Li posa com a camisa do Milan depois de se tornar dono do clube italiano
© Getty Yonghong Li posa com a camisa do Milan depois de se tornar dono do clube italiano

O futebol italiano pode até estar de férias durante a Copa do Mundo, mas a próxima semana será crucial como poucas para o Milan. Mais especificamente, para seu atual dono, Yonghong Li, que tem apenas sete dias para quitar uma dívida de 32 milhões de euros (R$ 142 milhões) com um chamado “fundo abutre”, caso não queira perder o clube que adquiriu há pouco mais de um ano.
A dívida do bilionário chinês é oriunda de um empréstimo feito pelo Elliott Management em 2017, que permitiu a compra da equipe rubro-negra. Acontece que, se Li não quitar uma parte desse valor até o próximo dia 6 de julho, o fundo pode ter direito de assumir o Milan, o tirando do atual dono.
É nesse contexto que está inserido o interesse de compra do Milan do bilionário ítalo-americano Rocco Commisso – dono da Mediacom, que controla empresas como a NFL Network, NBA TV e YES Network, e também do New York Cosmos. Segundo o “New York Times”, ele colocou proposta de 500 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões) sobre a mesa para ser o novo proprietário do clube.
A proposta, também segundo o jornal norte-americano, é por 70% do Milan e inclui também o pagamento de dívidas, o que resolveria o problema com o fundo Elliott. O problema é que a negociação com Li vive um impasse, e Comisso disse que só fechará o acordo “sob seus termos”.
Para Li, o problema é o tempo, já que precisa quitar a dívida de 32 milhões de euros com o Elliott até a próxima sexta. Um “problema” que teve início para o chinês com a entrada do fundo para resolver um imbróglio que se arrastava desde agosto de 2016, quando Silvio Berlusconi acertou a venda do clube para o grupo Sino-Europe Sports, em um acordo de 740 milhões de euros.
O problema se deu por que o conglomerado, com sede em Hong Kong, teve dificuldades para honrar os compromissos financeiros assumidos com o Milan. Li Yonghong, então, usou outra empresa, a Rossoneri Sports Investment, de Luxemburgo, para concluir a compra. Graças, porém, ao Elliott.
A empresa aportou 253 milhões de euros no negócio, sendo € 180 milhões para a transação em si e € 73 milhões como um empréstimo direto ao Milan, para cobrir dívidas e investimentos. Cifras até modestas para um conglomerado que gerencia mais de 32 bilhões de dólares, segundo a mídia norte-americana.
O Elliott foi fundado em 1977, pelo norte-americano Paul Singer, com capital de apenas 1,3 milhão de dólares. O crescimento avassalador faz com que o fundador, hoje, esteja entre os homens mais ricos do mundo, segundo a revista “Forbes”, com fortuna estimada em US$ 2,9 bilhões (R$ 9,1 bilhões).
O fundo é conhecido como “abutre” pela atuação com investimentos em papéis de empresas e de governos em crise, que são considerados “lixo” no mercado financeiro. Grupos do tamanho do Elliott, contudo, têm força suficiente nos bastidores para conseguir lucrar com isso, ainda assim.
Foi o que aconteceu na Argentina, depois de mais de uma década de conflitos na Justiça. Em 2008, o fundo comprou títulos de investidores que se recusaram a aceitar a proposta de renegociação da dívida do país sul-americano em 2005. Os papéis tinham valor de face de 428 milhões de dólares, mas foram adquiridos por cerca de 30 e 40 centavos de dólar para cada US$ 1 do valor nominal, segundo o governo argentino.
O Elliott, contudo, conseguiu levar a melhor em um processo que se arrastou por anos na Justiça dos Estados Unidos e recebeu sentença favorável para cobrar quase US$ 2 bilhões da Argentina, que acabou obrigada a sentar e negociar com o "fundo abutre" - assim como teve que fazer com outros grupos do mesmo segmento, que ameaçavam quebrar, mais uma vez, o país vizinho, em uma dívida total de mais de US$ 9 bilhões.
Voltando ao futebol, o empréstimo do Elliott aos novos donos do Milan, segundo o jornal "Gazzetta dello Sport", também tem possibilidade de ganho generosa. Os chineses têm 18 meses para devolver os 253 milhões de euros, com juros de 11,5% sobre os € 180 milhões usados para a compra do clube, de acordo com a publicação italiana.
A sombra do "fundo abutre", contudo, não parecia preocupar Li, principalmente considerando os gastos do Milan na última janela de transferências, com mais de 200 milhões de euros (cerca de R$ 890 milhões na cotação atual) investidos apenas em contratações.
A conta veio nesta semana, já conturbada por tudo que envolveu o processo de venda e compra do clube: por infringir regras do fair play financeiro, o Milan foi excluído da primeira competição europeia que se classificar nas próximas duas temporadas – no caso, a Liga Europa 2018/19. 

  Varjota Esportes - Ce.               /             MSN.

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