Brasiliense empata sem gols com o Gama e é heptacampeão

Brasiliense empata sem gols com uruguaio Alberto Martin Acosta Martínez, mais conhecido como Acosta, chegou para jogar no Brasiliense em julho do ano passado. Esquentando o banco de reservas na maioria das partidas, o atacante teve a oportunidade de entrar nos últimos dois jogos da fase de classificação — contra o Ceilândia e contra o Brasília —, antes do quadrangular final, que começa amanhã com o clássico Gama x Brasiliense.
No primeiro jogo, marcou um gol. No segundo, anotou mais dois — quis o destino, o milésimo da história do time. “Nem sabia que era o gol mil. Quando saí do campo, uma repórter veio me perguntar como eu estava me sentindo por causa desse gol. Não entendi nada na hora, depois que me falaram. No vestiário, alguns jogadores vieram brincar comigo dizendo ‘pôxa, a gente está há mais tempo aqui e não teve o prazer de fazer o gol mil. Você, que é gringo, fez. Não pode”, diverte-se o uruguaio com um espanhol quase intacto — vestígios de português são raros apesar de ele morar no Brasil há quatro anos.

Com o tal gol que ele nem sabia de que se tratava, o jogador escreveu seu nome na história do time. E, de certa forma, adicionou nova marca na própria história, recheada de altos e baixos.

Em um breve espaço de tempo — de 2007 a 2010 —, Acosta passou da glória ao declínio no futebol brasileiro. Agora, aos 34 anos, tenta recomeçar. Mais que isso: quer mostrar que não desaprendeu depois de sofrer com lesões e perder o posto em um grande time. Para quem não se lembra, Acosta, em 2007, virou sensação. Contrariando ao fato de que a maioria dos jogadores se sobressaem ainda jovens, aos 30 anos, transferido do Peñarol para o Náutico, o uruguaio se destacou no campeonato pernambucano daquele ano e supreendentemente terminou a Série A do Brasileirão com a vice-artilharia, com 19 gols, atrás apenas do atacante do Paraná, Josiel, que fez 20.

“Até arrepio quando penso em tudo o que aconteceu nessa época. Conquistei tanta coisa que nem imaginava que um dia conseguiria. Cheguei a entrar para a seleção do campeonato. Um dos campeonatos mais importantes do mundo”, comenta. Acosta começou a jogar futebol ainda criança e parou aos 19, quando nasceram suas duas primeiras filhas. Trabalhou quatro anos em um mercadão vendendo frutas até que veio o convite para jogar no Cerrito, time uruguaio. “Não queria voltar a jogar de jeito nenhum, estava bem e feliz sem o futebol. Mas minha esposa me incentivou e eu acabei aceitando”, recorda. Lá, ele se deu bem. Subiu com o time para a primeira divisão, foi vice-campeão uruguaio e, após uma rápida passagem pela Grécia, foi parar no Penãrol e na seleção uruguaia.

“A oportunidade de ir para o Náutico surgiu quando um empresário brasileiro assistiu a uma partida do Peñarol e me viu jogando. Ele me procurou, mas, na época, estava feliz no time para qual eu sempre torci. Nunca tinha passado pela minha cabeça jogar no Brasil”, conta. Mas a proposta era boa e o fisgou. “Eu e minha esposa analisamos e vimos que seria a oportunidade de conseguirmos comprar nosso apartamento, um carro, ter uma vida melhor. Mas não imaginava que iria jogar tão bem e ainda ser vice-artilheiro do Brasileirão.”

Quase no São Paulo
» A repentina fama de Acosta no Náutico atraiu grandes clubes. Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Fluminense e Cruzeiro apareceram como interessados. O uruguaio analisou as propostas com sua fiel escudeira, a mulher, Daniela Capullo, e ficou entre São Paulo e Corinthians. “Ela queria São Paulo. O Corinthians tinha caído para a Série B e eu queria jogar Libertadores. Mas quando fui assinar com o tricolor, o Corinthians aumentou os valores e ficou difícil dizer não.” Vestindo a camisa de uma grande equipe, uma lesão o tirou de campo por oito longos meses. “Tinha começado bem, fiz gols, mas aí, em um jogo contra o Criciúma, levei uma pancada e fraturei a tíbia. Fiquei muito tempo sem jogar, nunca tinha me machucado tão sério”, lamenta. “Para a cabeça, ficar parado por contusão é ruim demais. Quando comecei a voltar a trabalhar com bola, sentia dores e não conseguia jogar. Nunca fui religioso, mas aí decidi entrar em uma igreja e disse: ‘Deus, se você existe mesmo, me ajuda a voltar. Não preciso fazer gols, só conseguir jogar’”, lembra.

Rumo a Brasília
A disputa do uruguaio Acosta no ataque do Corinthians era ingrata, afinal tinha de brigar posição contra Ronaldo Fenômeno. Com isso, acabou emprestado de volta ao Náutico. Mas para azar do atleta, várias lesões e apenas cinco jogos. De volta ao Corinthians, surgiram duas propostas em 2010: uma do Atlético-GO e outra do Brasiliense. “Tinha um amigo no Atlético-GO, mas o Luiz Estevão chegou a me ligar umas quatro vezes fazendo uma proposta e decidi aceitar”, conta. O uruguaio fez as malas e veio para Brasília sozinho em julho. A família — mãe, mulher e as três filhas — mudaram-se em dezembro do ano passado. “Ninguém queria vir. Foi um sofrimento porque elas adoram São Paulo. E o povo daqui é muito fechado, está sendo difícil a readaptação, mas estamos bem”.

No banco do Brasiliense, Acosta sabe que o retorno a um time de ponta — nessa idade — não será fácil. “Lógico que passa pela cabeça de qualquer jogador ter uma supercarreira, jogar na Europa, na seleção do seu país. Mas eu sempre fui realista e nunca quis muita coisa. Sempre penso em um objetivo que eu posso e tenho condições de alcançar. E, agora, é voltar a jogar bem, fazer gols. Estou bem, sem lesões e acho que tenho chance. A meta atual é ajudar o Brasiliense a seguir na Copa do Brasil e ganhar o Candangão”, enumera.

“Espero um dia voltar a jogar em um grande time, de preferência em São Paulo, lugar onde minha família gosta”, conta ele, que tem contrato com o Brasiliense até novembro. “Mas vai que aqui também tenho o contrato renovado e fico mais um tempo? Futebol é muito dinâmico. Tudo muda.”

Chuchu com sede de gol

A história do meia Iranildo Hermínio Ferreira, 35 anos, pode ser dividida em duas fases bem distintas. A primeira, nos anos 1990, quando, ainda muito jovem e franzino, fez parte da equipe campeã brasileira do Botafogo, em 1995, e chegou a vestir a 10 do Flamengo até o fim da década. E a segunda, no Brasiliense, onde desembarcou em 2003 e fundiu seu caminho como atleta com a trajetória do clube.

Nos últimos cinco anos, Iranildo foi o protagonista de todas as decisões — a maioria delas, vitoriosa — envolvendo o Jacaré no futebol local. Começou com o bicampeonato candango e foi até o hexa, sem saber o que era perder o torneio. E até mesmo no ano passado, quando chegou a brincar com a chegada do hepta e acabou derrotado, também foi o centro das atenções.

Neste 2011, porém, nada é como aquele ano que passou. Nenhum deles. Em meio a uma tendinite difícil de curar e um certo isolamento político dentro do próprio clube, o meia sumiu. Este é o oitavo campeonato candango disputado por Iranildo, e também o que ele menos jogou. Teve menos importância, apesar da boa campanha do Jacaré na fase de classificação. “Sinto falta da imprensa me ligando, mesmo sendo com assuntos polêmicos. Faz bem para o nosso ego, ouvir que os adversários se preocupam com a gente. Qualquer um sente. Mas o melhor mesmo é jogar, fazer gol, ter seu nome gritado pela galera. Mesmo que a torcida não seja tão grande, a emoção é imensa. Quando eu era do Flamengo então, chega arrepiava”, admite o atleta, nitidamente saudoso.

Iranildo é o responsável pelas principais conquistas do Brasiliense e também já liderou algumas “revoluções para derrubar técnico”. Mas ele diz que isso faz parte do passado. No entanto, se hoje está jogado para escanteio, a habilidade para lidar com os holofotes é a mesma dos momentos mais gloriosos. “Estou pronto para jogar toda essa fase final. Só falta a gravata para eu entrar na festa. Mas nesse sábado não seria a de garçom, e, sim a de artilheiro. Pois contra o Gama, até quando a gente perde, tem gol do Iranildo”, provoca o ídolo.

A marra do pernambucano não para por aí. “Vou deixar um pouco de modéstia de lado. No Brasil, não há mais jogadores com a mesma característica que eu. Tirando o Ganso, que é acima da média. Por isso, cheguei à conclusão de que posso jogar ainda por muitos anos se eu não me machucar. Só quero uma chance para provar isso aí”, avisa. É até possível, mas seu destino dificilmente será o Brasiliense. O contrato do jogador termina em dois meses e não deve ser renovado.
 o Gama e é heptacampeão

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