De volta à elite do futebol após sete anos, Tricolor baiano abre as portas para os refugos, os 'bad boys', as eternas promessas... RENAN CACIOLI DIÁRIO SP COMPARTILHE TAMANHO DA LETRA IMPRIMIR

Imagine ligar sua TV depois da novela e escutar aquela musiquinha grudenta do "BBB": "Se você pudesse me dizer...". Mas se, em vez de rostos desconhecidos, surgissem as caras dos meias Ricardinho e Carlos Alberto, do centroavante Souza e do técnico René Simões? Pois o Bahia, de volta à elite do futebol brasileiro após sete temporadas, vem reunindo um elenco digno de "reality show".

Só tem figura. Carlos Alberto, apresentado anteontem, antes do empate por 3 a 3 com o Flamengo, em Pituaçu, é a mais recente. "Gosto de jogar em equipes de massa como o Bahia. Já fiquei arrepiado com a galera gritando meu nome", declarou o meia que, neste ano, vem cravando a incrível média de uma camisa de clube beijada a cada dois meses e meio ? antes, ele estava no Grêmio.

Mas ele não é um jogador problemático? Pfff... No Bahia, meu amigo, Carlos Alberto pode ficar à vontade. Por exemplo, você se lembra do Jobson, flagrado em exame antidoping há dois anos por uso de cocaína (que ele jurou de pé junto ser crack)? Está lá, também.

Aliás, a rodinha de atletas com a imagem, digamos, levemente arranhada não para de crescer: na semana passada, Ricardinho desembarcou em Salvador. Em 2006, uma pesquisa feita pela revista "Placar" junto aos jogadores apontou: o meia era o mais odiado do país.

"Eu não tenho inimigos no futebol. Agora, as pessoas podem gostar ou não do meu trabalho", rebateu Ricardinho, durante sua apresentação no Tricolor baiano. Bem, uma dessas pessoas que não vão com a cara dele é Dorival Júnior. O treinador falou em "traição" no episódio que culminou com a saída do jogador do Atlético-MG, no começo de abril.

HeterogêneoMas pode ficar sossegado, caro torcedor tricolor. Nem só de "bad boys" vive o Bahia. O elenco também está recheado de promessas. Porém, não ligue se este rótulo já foi utilizado em outros clubes.

Jancarlos, por exemplo, tinha tudo para ser a solução da lateral direita do São Paulo, em 2008. Chegou com moral do Atlético-PR. Não funcionou. Na temporada seguinte, Jancarlos era o lateral-direito ideal para o Cruzeiro. Nada feito. Tudo bem, o lugar de Jancarlos estava reservado no Botafogo, um ano depois. Ficou no quase.

Já o corintiano Lulinha subiu ao time profissional com apenas 17 anos e 297 gols marcados na base. Recebeu sondagens de Chelsea e Barcelona. Sua multa rescisória foi multiplicada. Lulinha, hoje com 21 anos de idade, nunca mais foi o mesmo.

O Big Brother Bahia conta, ainda, com a turma dos gringos ? ainda em formação, representada pelos colombianos Mosquera e Tressor Moreno.

Mas quem lidaria com elenco tão pitoresco? Ora, alguém de visão a longo prazo: René Simões, o treinador que chamou Neymar de "monstro". No mau sentido, é claro. "Ele é um fenômeno, mas estava perdendo o rumo", disse, ao DIÁRIO. Nem Pedro Bial faria melhor.

Clube tem priorizado acordos mais longos
O Bahia não vem apenas dando espaço a jogadores em busca de uma nova chance na carreira. O clube também propõe contratos mais extensos a seus reforços. São os casos do volante Fahel, vindo do Botafogo, e de Ricardinho. Ambos firmaram acordo até 31 de dezembro do ano que vem. "Não queremos contratar 18, 19 jogadores
a cada início de ano", diz o gestor de futebol do Bahia, Paulo Angioni.

Categorias de base são o próximo alvo
Vice-campeão da Copinha deste ano, o Bahia tem oito atletas da base treinando com a equipe principal. A meta é subir mais garotos para a próxima temporada.

'Esse grupo é desafiador'
René Simões diz que sua maior dificuldade no Bahia é despertar o interesse dos veteranos

DIÁRIO_ Como tem sido lidar com um elenco recheado de caras rodados, como Souza, Ricardinho, Carlos Alberto...?
RENÉ SIMÕES_ É legal porque eles sabem lidar com o peso de uma camisa como a do Bahia. O segundo passo é harmonizar tudo isso, conciliar os sonhos dos mais jovens com os dos mais antigos. O jovem quer ter carro, casa. Agora, se o cara já fez muitos gols, tem um bom salário, o que o motiva?

É o grupo mais difícil com o qual já trabalhou?
Todo grupo é difícil, mas esse é bastante desafiador. Acho até que essa diversidade é muito legal. Não gosto de unanimidade, gosto de unidade.

O Bahia contratou bastante. Mas contratou bem?
Quando cheguei, diziam que o Souza não podia jogar, o Lulinha estava acabado, o Boquita era uma contratação errada... E agora todo mundo começa a ver diferente. Foram aquisições de qualidade, também.

Tempos atrás você reclamou do comportamento do Neymar, disse que estavam criando um monstro. Mantém a opinião?

Reagi não por mim, mas pelo futebol brasileiro. Continuo vendo nele um fenômeno, mas ele estava perdendo o rumo. Aquilo foi um chamamento não só ao Neymar, mas a todos. Agora está tudo bem, não se falou mais nada a respeito dele.

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