Pedaladas incansáveis

Clique para AmpliarClique para AmpliarO cearense Alfredo Montenegro foi o único brasileiro a participar de uma das mais importantes provas de maratona de mountain bike, no início deste mês, entre o deserto do Marrocos e cidade de Granada, na Espanha. Foram seis dias de muito esforço sob calor escaldante, passando por terrenos irregulares

Na aventura radical desta semana vamos fazer uma viagem do extremo norte da África, a terra dos encantadores de serpentes e das tribos nômades dos beduínos, o Marrocos. De lá, vamos até a cidade de Granada, na Espanha, em uma competição repleta de aventura e emoção na companhia do único brasileiro que participou deste desafio de resistência e superação, o cearense Alfredo Montenegro.

A aventura que vamos acompanhar começou antes mesmo de a competição ter seu início. O Titan Desert é uma prova de Maratona de Mountain Bike em que, durante seis dias, 510 competidores atravessaram o deserto do Marrocos em suas bicicletas, enfrentando terrenos pedregosos, longas e íngremes subidas, descidas radicais, leitos secos de rios, etc. Sempre levando o corpo ao limite de sua resistência. E como nosso aventureiro fazia parte de uma equipe de uma única pessoa, ele teve de superar dificuldades que a grande maioria dos competidores não enfrentam.

Desencontros
Você deve estar imaginando que qualquer atleta antes de iniciar uma prova desgastante como essa relaxa e guarda suas energias para utilizá-la nos dias da prova. Contudo, esse não foi o caso. Para começar, Alfredinho teve sérios problemas de comunicação com a organização da prova que o fez perder o voo que levou todos os atletas para o local da prova.

E enquanto seus adversários estavam chegando ao local da primeira largada, ele ainda estava no aeroporto de Casablanca, a maior cidade do Marrocos, tentando comprar uma passagem que o levasse mais próximo possível de Erfoud, local da largada do Titan Desert.

O resultado de toda essa correria foi que nosso representante só conseguiu se juntar aos demais competidores faltando duas horas para o início da competição, sem dormir e tendo ainda de montar rapidamente sua bicicleta se não quisesse ser desclassificado antes da corrida.

Passado esse susto inicial, começou a prova e Alfredinho percebeu que estava em outro planeta. "Acho que posso dizer que o vilarejo de Erfoud possui uma paisagem quase lunar. Algo realmente de outro planeta onde o tempo parece ter parado na Idade da Pedra. Lá, o céu emenda com a terra, literalmente, pois em um determinado momento, não conseguíamos mais saber onde terminava o céu e começava a terra", relatou Alfredo.

Desgaste
Nesse dia, os atletas pedalaram mais de 80 Km em meio ao calor escaldante do deserto do Marrocos, atravessando dunas e perigosas trilhas de pedras soltas, sem ver uma única sombra. Segundo Alfredo, mesmo estando sem dormir, ele tinha de andar forte e não aliviou, terminando essa primeira perna da prova entre os 20 primeiros do pelotão de sua categoria, a Sênior, para atletas acima de 50 anos.

Ao final do primeiro dia, quando ele acreditava que iria descansar e recompor as energias, percebeu que teria uma noite mais longa que a anterior. Os alojamentos eram compostos de barracas e as camas eram tapetes espalhados sobre as pedras do deserto onde todos os 510 competidores tinham de se acomodar. Resultado? Mais uma noite em claro, pedindo a Deus que o dia amanhecesse logo para retornar ao selim de sua bicicleta.


NUTRIÇÃO
Alimentação foi vilã e heroína
Tudo no Titan Desert virou adversidade para o ciclista Alfredo Montenegro. Após o segundo dia de provas, ele conheceu o peso do tempero e dos condimentos da culinária marroquina. Segundo o atleta, cerca de 20 competidores tiveram problemas com desidratação causados por disenterias e vômitos devido ao forte tempero da comida. E a esperança de finalmente ter uma merecida noite de descanso foi substituída por intermináveis horas de dores abdominais agudas. "Eu pensava que tinha engolido uma daquelas cobras Naja, que por aqui a gente vê em todo lugar no deserto. Já estava para sair correndo atrás de um encantador que controlasse aquela serpente dentro de mim. Nem andar direito eu conseguia", conta.

Com isso, já dá pra imaginar como foi o terceiro dia de competição. O Titan Desert estava apenas na metade e Alfredinho praticamente não tinha mais forças. Contudo, como ele mesmo diz, essa é a realidade de uma maratona de mountain bike e mais uma vez precisaria reunir forças para completar mais um dia de prova.

Reta final
O quarto e o quinto dia também foram nessa mesma condição: fortes dores abdominais durante a noite e desgaste físico no limite durante o dia. Isso sem falar na grande amplitude térmica as quais os atletas são submetidos, pois, se na parte do dia o sol era escaldante, à noite o frio no deserto era de rachar os ossos. Fraco e debilitado, nosso herói tinha de gerenciar o tempo inteiro sua energia para não ter de abandonar a prova.

Nesse trecho da competição, Alfredinho ainda enfrentou problemas quando o passador de marchas de sua bicicleta quebrou e ele não tinha a chave para fazer um conserto e seguir em frente. Acreditando que alguém o ajudaria, ele passou a abordar os retardatários que passavam por ele até que surgiu um mecânico com a chave que ele precisava. Alfredo então escolheu uma marcha média, já que dali em diante ele não poderia mais trocar de marcha.

Ajuda
Na manhã do último dia, quando pensava em desistir, Alfredo leu uma passagem bíblica na qual Moisés estava doente e pedia para que Deus o curasse. Milagrosamente, depois de ler essa passagem, as dores cessaram e a organização chamou todos os competidores para um café-da-manhã reforçado, que deu ânimo ao cearense para completar a prova.

SAIBA MAIS
SEGURANÇA
Seis caminhonetas com policiais fortemente armados formavam o comboio para afastar os piratas do deserto dos atletas e da organização

LOGÍSTICA
Dez caminhões, sendo quatro 4x4 e outros comuns, diariamente desmontavam todo o circo da prova após as largadas e o montavam novamente na locação seguinte. Além disso, o Titan Desert ainda contou com 25 mecânicos, 21 fisioterapeutas, 100 pessoas (espanhóis e marroquinos) na organização do evento, 32 guias das regiões, 13 emissoras de televisão e cinco fotógrafos oficiais

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