Quando o assunto é Seleção Brasileira, não há como ignorar a importância histórica dos jogadores do Botafogo, principalmente na lateral esquerda. Se na Copa do Mundo de 1966, Rildo foi ofuscado por uma campanha desastrosa, algumas semelhanças podem ser estabelecidas entre Nilton Santos e Marinho Chagas, embora o potiguar não tenha conquistado o "caneco" em 1974.
Primeiro compromisso na Copa do Mundo de 1958. O Brasil vencia a Áustria por 1x0 com um gol de Mazzola aos 37 minutos do primeiro tempo.
No início da etapa complementar, Nilton Santos abandonou o campo defensivo e deixou o técnico Vicente Feola desesperado do banco de reservas: Volta Nilton, volta Nilton...
Apesar dos gritos, Feola não conseguiu frear o ímpeto de Nilton. O lateral-esquerdo avançou e marcou o segundo gol canarinho logo aos 4 minutos, na importante vitória por 3x0.
Em 1974, Zagallo viveu uma situação ainda mais delicada que o colega Feola em 1958; já que Nilton Santos, apesar do gol contra a Áustria, raramente se arriscava em aventuras ofensivas.
Ignorando o esquema cauteloso do "Velho Lobo", Marinho Chagas causava calafrios nos companheiros por suas constantes subidas ao campo de ataque.
Francisco das Chagas Marinho nasceu no dia 8 de fevereiro de 1952, em Natal no Rio Grande do Norte.
Criado no bairro Alecrim, Marinho começou sua carreira na modesta equipe do Riachuelo Atlético Clube em 1967.
Em 1969, teve seu passe negociado com o ABC de Natal e no início da década de 70 já estava jogando pelo Clube Náutico Capibaribe. Mas sua carreira estava próxima de um salto que marcaria sua afirmação no cenário nacional.
Em 1972 foi transferido para o Botafogo de Futebol e Regatas. Ganhou destaque rapidamente e foi premiado com a "Bola de Prata" da revista Placar.
Dono de um chute forte e colocado, Marinho era elogiado e criticado na mesma velocidade em que costumava apoiar o ataque.
Mimado no ambiente familiar, Marinho gostava mesmo era de cuidar de seu Ford Maverick amarelo. Outro prazer do jogador era se vestir bem. Tinha o cuidado de encomendar suas roupas com um alfaiate em São Paulo.
Durante os quatro anos em que permaneceu no Botafogo, Marinho sempre esteve em evidência com seu futebol envolvente.
Veloz e habilidoso, o jovem lateral teve seu nome relacionado no grupo que embarcou para disputar o mundial de 1974, na Alemanha.
Em entrevista publicada na revista Placar, Marinho revelou sua decepção com o ambiente da Seleção na Alemanha:
- Na Seleção de 74 não existia camaradagem. O que imperava era uma guerra de vaidades!
Na Copa do Mundo, Marinho fez grandes apresentações. Na derrota para a Holanda por 2x0, Marinho deixou o gramado reconhecido pelos adversários.
No confronto que decidiu o terceiro lugar diante da Polônia, Marinho continuou com suas subidas ao ataque, o que deixou Alfredo Mostarda no "mano a mano" com o veloz atacante Lato, o autor do gol que decretou nossa derrota por 1x0.
O lateral permaneceu no Botafogo até o início de 1977. Seu passe foi negociado em um jantar entre Charles Borer e o presidente do Fluminense, Francisco Horta.
Apesar do grande destaque, Marinho jamais faturou um título importante por equipes do Rio de Janeiro. Sua única conquista pelo time das Laranjeiras foi o Torneio Teresa Herrera em 1977.
Depois da passagem pelo Fluminense, Marinho Chagas recebeu um convite do futebol americano, onde defendeu o Cosmos e o FL Strikers.
Em 1981 voltou para o Brasil e acertou com o São Paulo. Conquistou o campeonato paulista de 1981 e novamente a Bola de Prata da revista Placar.
Ao todo, Marinho Chagas disputou 85 partidas entre 1981 e 1983. Foram 46 vitórias, 16 empates, 23 derrotas e 4 gols marcados.
Em seguida passou rápida pelo Bangu (RJ), Fortaleza (CE) e pelo América (RN), antes de voltar para os Estados Unidos.
Marinho também jogou no futebol alemão, no Augsburg.
Marinho Chagas faleceu no dia 1 de junho de 2014, na cidade de João Pessoa (PB). O ex-jogador passou mal quando participava de um evento para colecionadores do álbum de figurinhas da Copa do Mundo.
Diagnosticado com uma hemorragia digestiva no Hospital de Emergência e Trauma da Paraíba, Marinho não resistiu e faleceu algumas horas depois.