Deve ser uma sensação gostosa. O torcedor do Atlético Paranaense que foi dormir cedo no domingo, irritado com a derrota para o Santos que deixou o clube paranaense a seis pontos de uma vaga na Libertadores, acordou dentro da zona de classificação para a principal competição sul-americana. Porque a Conmebol decidiu mudar as regras do jogo com ele em andamento. Como era esperado, o Brasil terá mais espaço na Libertadores com o inchaço do torneio. A surpresa é que ganhou duas vagas, e o G4 virou G6.
A Conmebol confirmou, na madrugada desta segunda-feira, a mudança que já havia sido anunciada durante a semana. A Copa Libertadores passará a ser disputada do final de janeiro ou começo de fevereiro até fim de novembro ou começo de dezembro. O número de participantes subirá de 38 clubes para 44, e essas vagas adicionais serão distribuídas da seguinte maneira: uma para o campeão da Sul-Americana (que já se classificava, mas ocupando o lugar de uma das vagas do seu país, o que não acontecerá mais), duas para o Brasil, e uma para Argentina, Colômbia e Chile.
De acordo com a Conmebol, a distribuição das vagas adicionais foi definida de forma unânime pelo Conselho Executivo, “baseando-se em critérios comerciais e esportivos, inclusive o número de equipes em relação à população total e tamanho de mercado”.
Temos alguns problemas. O mais urgente é a maneira apressada como a Conmebol conduziu esse processo. Em uma semana, o assunto surgiu, foi aprovado e já valerá para a próxima temporada. Não importam que todos os processos de classificação estivessem em andamento ou os eventuais impactos causados aos torneios. Agora, até o São Paulo tem chance de ir para a Libertadores (está a sete pontos de distância).
Por outro lado, equipes que perceberam estar longe demais das quatro primeiras posições e livres do rebaixamento podem ter se acomodado no meio da tabela e perdido um ponto aqui e outro ali por causa do relaxamento. Certamente encarariam de outra maneira o campeonato se soubessem, desde o começo, que haveria seis vagas para a Libertadores.
O Grêmio passou por uma acentuada queda de rendimento. O time que antes brigava pelo título de repente estava longe da disputa até mesmo por vaga na Libertadores. Entrou em crise, Roger pediu o boné e chegou Renato Gaúcho. Houve um clima de fim de temporada, preparação para a próxima, com o clube confortável no meio da tabela, sem ambições, nem risco de rebaixamento. Será que a situação não poderia ser diferente se, apesar da derrocada, o clube soubesse que continuava próximo da zona de classificação à competição sul-americana? Teria havido quebra de projeto?
Se a Conmebol quisesse copiar a Europa em alguma coisa, poderia ter sido nisso: as mudanças da Champions League valem apenas para a temporada 2018/19, porque os torneios que classificam para 2017/18 já haviam começado na época do anúncio – e a maioria estava nas primeiras rodadas, o que não causaria tanto impacto, diferente do Brasileiro.
O segundo problema é a banalização: a vaga na Libertadores era uma conquista difícil, tanto que poucas das nossas equipes conseguiram passar vários anos seguidos disputando a competição. Agora, é carne de vaca. Mais de 25% do Brasileirão classifica-se, sem contar a vaga da Copa do Brasil. Pode haver mais competitividade no meio da tabela, mas desvaloriza a segunda conquista que o campeonato oferece. Não me parece uma boa troca.
E é exagerado haver sete clubes de um mesmo país – com potencial de nove, caso brasileiros vençam a Libertadores e a Sul-Americana - em uma competição com 44 participantes. Considerando que nossos times geralmente passam sem problemas pela fase preliminar, podemos ter esses sete na fase de grupos, que foi mantida com 32 equipes. Proporção de 22% que pode chegar a 28% no caso de dobradinha brasileira nas competições sul-americanas.
Somando os clubes brasileiros com os seis argentinos, quatro colombianos e quatro chilenos, quase metade da Libertadores será formada por equipes de apenas quatro países, o que corrói a identidade do torneio. O lado bom seria aumentar o nível técnico. Mas será que acrescentar o sexto colocado do Brasileirão causa esse efeito? Caso fosse esse o objetivo da Conmebol, seria melhor diminuir o número de clubes e não aumentá-lo.
A mudança do calendário para que a Libertadores seja disputada ao longo de todo o ano foi boa e merece ser elogiada, como fizemos. Mas, na distribuição das vagas, ressurgiu a velha Conmebol. Entregou-as de presente para as federações mais fortes para evitar reclamações políticas, sem pensar direito na influência que isso teria dentro de campo.
A Copa Sul-Americana também seria disputada ao longo de todo o ano: de março a começo de dezembro. Serão 54 participantes, contando dez eliminados da Libertadores, que caem para a competição secundária, no estilo Champions League/Liga Europa. Além disso, são seis vagas para Brasil e Argentina e quatro para todas as outras federações sul-americanas.
Se ganhou duas vagas na Libertadores, o Brasil perdeu esse mesmo número na Sul-Americana. Caiu de oito para seis. Segundo o L!, duas serão entregues para os campeões da Copa Verde e da Copa do Nordeste e restam quatro para serem distribuídas no Campeonato Brasileiro, do sétimo ao décimo colocado, seguindo critérios técnicos – até a temporada passada, a Uefa dava vaga nas Liga Europa por fair play, por exemplo.
O presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, havia dito que a decisão da Libertadores seria disputada em jogo único e campo pré-definido. No entanto, nada disso foi confirmado após a reunião do último domingo e segue sendo uma incógnita. Na última quarta-feira, o presidente do Atlético Mineiro, Daniel Nepomuceno, havia dito que a ideia era “um teste”. Segundo o UOL, isso ainda está sendo estudado.
Confirmada a mudança de calendário da Libertadores, a participação mexicana entra em xeque. Na semana passada, o presidente da Liga MX, Enrique Bonilla, havia ameaçado deixar a competição. “Semana passada, recebemos um documento da Conmebol no qual nos asseguravam que, se uma equipe mexicana chegasse à final, e de acordo com o regulamento, o último jogo poderia ser no México, mas depois mudaram as coisas”, disse. “Temos que esperar que a Conmebol nos dê toda a informação, analisá-la, levá-la ao comitê de desenvolvimento esportivo e depois à assembleia e estará nas mãos deles se continuamos ou não na Libertadores”.
O México sempre deu prioridade à Concachampions e enviava à Libertadores os três melhores times que não estivessem nessa competição, que costuma ser disputada de agosto a abril. Agora, por exemplo, um clube mexicano poderia ter compromissos com a Libertadores no segundo semestre de 2017 e se classificar para a Concachampions de 2017/18. Não haveria data para disputar as duas competições ao mesmo tempo.
Varjota - Ce. / MSN.
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