Uma fabricante de café. Uma empresa de serviços de pagamento. Uma corretora de patrocínios. Em comum: contratos com o Corinthians, um sócio que não aparece muito e uma coincidência de datas. Nos últimos meses, o Corinthians assinou pelo menos três contratos com empresas ligadas a Antonio Manuel Carvalho Baptista Vieira, empresário português que foi denunciado na Operação Lava-Jato – a denúncia do Ministério Público Federal foi recusada pelo juiz Sergio Moro. Duas das empresas foram constituídas ou alteradas em maio de 2016, pouco antes da assinatura de contratos com o clube.
Um dos contratos foi assinado em agosto de 2016 com a empresa Apollo Sports Solution, que comprou (mas ainda não começou a pagar) espaço nos uniformes de jogo e treino do Corinthians, além de acesso à base de dados do Fiel Torcedor, placas no Centro de Treinamento e ingressos no setor mais caro do estádio.
O diretor de marketing do Corinthians, Gustavo Herbetta, afirma que o contrato é de R$ 30 milhões por três anos, mas cópia do contrato obtida pelo GloboEsporte.com com outros dirigentes do clube mostram que o valor é inferior.
Seriam R$ 21 milhões pelo espaço nas costas da camisa durante três anos e mais R$ 2 milhões pelo uso das mídias sociais, ativação e exploração dos sócios torcedores. E o Corinthians vai demorar a receber: os R$ 2 milhões só começam a ser pagos em 2019.
Há ainda a previsão de pagamento de um bônus de R$ 4 milhões caso a Apollo consiga "concretizar negócios atingindo mais de um milhão de sócios torcedores, com rentabilidade superior à média do mercado em operações específicas". Hoje o Corinthians tem 131 mil sócios-torcedores.
Procurado, o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, respondeu por meio de sua assessoria de imprensa:
- O Sport Club Corinthians Paulista negociou o contrato com o CEO da Apollo, o Sr. Michael Gruen, e a empresa passou pelo crivo financeiro e jurídico do clube, assim como todos os patrocinadores. Os órgãos competentes que regulam o mercado que a Apollo atua validaram a composição da empresa. Portanto, o Corinthians não tem nada a declarar a respeito disso.
Segundo seus próprios sócios, a Apollo pertence a um fundo de investimentos chamado San Francisco, que ainda está em fase pré-operacional. O portal "Uol" revelou nesta segunda-feira que os R$ 121 milhões que o fundo diz ter são terrenos ligados a Antonio Manuel de Carvalho Baptista Vieira.
Registro da Apollo na Junta Comercial de São Paulo revela que parte do capital da empresa é formada por terrenos em Itanhaém (SP), São Desidério e 50% das quotas da empresa Café Bom Dia Ltda. O GloboEsporte.com obteve cópias atualizadas das escrituras dos terrenos: nem todos pertencem a Antonio Manuel - em alguns casos, ele é dono de apenas parte das propriedades.
O mesmo grupo que comprou o espaço no uniforme do Corinthians também chegou a negociar a aquisição dos naming rights da Arena. Segundo a administração da Arena Corinthians, foi a falta de garantias financeiras que interrompeu a negociação.
Corretora de patrocínio
Constituída em 19 de maio de 2016, a Apollo atua como uma intermediadora de patrocínio, que compra espaços (como as placas no CT e as costas da camisa) e os revende para atuais interessados. A primeira empresa a aparecer no uniforme corintiano foi o Café Bom Dia.
Segundo documentos obtidos pelo GloboEsporte.com na Junta Comercial de Minas Gerais, o Café Bom Dia acaba de sair de um processo de recuperação judicial que durou três anos. Trata-se de medida jurídica adotada quando uma empresa perde a capacidade de pagar suas contas.
Michel Gruen, presidente da Apollo, disse que não conhece os investidores do fundo, nem conhece a relação de Antonio Manuel com o Café Bom Dia.
- Nossa relação é com Sidney Paiva [CEO do Café Bom Dia]. Eles já conseguiram sair da recuperação judicial e vão conseguir se beneficiar do relacionamento com o Corinthians - disse o presidente da Apollo.
Mas Antonio Manuel Baptista Vieira tem ligações com o Café Bom Dia. Ele é avalista e corréu numa ação movida (e vencida) recentemente pelo BicBanco, que cobrava uma dívida de R$ 3 milhões. A empresa aceitou fazer um acordo: pagou R$ 250 mil e se comprometeu a pagar 48 parcelas de R$ 60 mil. Por enquanto, está pagando em dia.
Serviços de Pagamento
Há mais. Em 1 de outubro de 2015, o Corinthians assinou contrato com uma empresa chamadaVector Serviços de Pagamento que, como seu nome sugere, opera meios de pagamento. Na prática: ao comprar um ingresso de jogo ou uma camisa na loja do Corinthians, você paga para a Vector, que então repassa ao clube - depois, claro, de reter sua parte pelo serviço: 4% e mais R$ 0,50 de cada transação.
Quando o contrato foi assinado, a Vector tinha dois sócios. Mas eles se retiraram da sociedade em 3 de maio de 2016, quando a empresa foi comprada por Clifford Michael Gruen, Hercilio Minchetti Garcia e... Antonio Manuel Carvalho Baptista Vieira.
Segundo Gruen, as operações da Vector e da Apollo são separadas. Além disso, ele afirmou que o acordo entre Corinthians e Vector "ainda não foi ativado". Em nota, o clube informou:
– O contrato da Vector com o Corinthians foi assinado em 2015 pelos proprietários da Vector, após uma concorrência com empresas do segmento. Mas o processo não foi efetivado, o que ocasionou a rescisão de contrato que está em andamento.
Denúncia foi rejeitada por Moro
Antonio Manuel Carvalho Baptista Vieira foi acusado pelo Ministério Público Federal de lavar US$ 3,2 milhões para João Procópio, um funcionário do doleiro Alberto Yousseff em 2013.
O escritório de advocacia que defende o empresário português afirmou que a denúncia contra ele foi rejeitada pelo juiz Sergio Moro, e disse que ele não falaria sobre sua ligação com a Apollo, a Vector ou o Café Bom Dia.
De fato, Moro recusou a denúncia contra Antonio Manuel. Numa decisão proferida em 24 de julho de 2014, o juiz da Lava-Jato escreveu:
- Ilustrativamente, apesar da denúncia reportar-se às comunicações entre João Procópio e Antônio Manuel, e às transferências entre contas operadas supostamente por ambos, não há maior esclarecimento do motivo, ainda que ilícito, de tais transferências, sendo que Antônio Manuel sequer foi ouvido ainda na investigação. Talvez as motivações subjacentes a estas estranhas transações não possam ser descobertas, mas pelo menos justifica-se o aprofundamento das apurações, inclusive com a oitiva dos envolvidos e a eventual espera da documentação completa do exterior ou melhor e completo exame da documentação apreendida, antes do oferecimento da denúncia quanto a este tópico. Assim, quanto ao tópico VI da denúncia, por entender que ela é prematura e que necessita de aprofundamento da investigação, não deve ser acolhida, sem prejuízo de sua oportuna renovação presentes novas provas.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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