Nos últimos anos, o futebol feminino tem ganhado mais destaque dos veículos de comunicação. Durante a última Copa do Mundo, realizada na França, no ano passado, a partida de estreia da seleção contra a Jamaica dobrou a audiência da TV Globo no Rio de Janeiro e teve um crescimento de 90% em São Paulo, segundo a emissora.
Dados do Ibope mostram que houve um aumento de 30% do consumo do futebol, de uma maneira geral, do público feminino, entre 2014 e 2018. Fóruns, congressos, mesas de debates têm proporcionado mais voz às mulheres.
Temas como o machismo e aceitação da mulher no esporte, melhores condições de trabalho e transmissões dos jogos, aparecem com frequência nos eventos envolvendo a modalidade. Para a zagueira Erika, do Corinthians e da Seleção, houve uma ligeira melhora, mas o caminho ainda é longo.
''A mudança não foi brusca, é pequena ainda. Estamos caminhando, não estamos correndo. Tivemos uma evolução na parte financeira, o interesse dos clubes, infelizmente, não precisava ser uma obrigação da Conmebol, mas isso facilitou o desenvolvimento do esporte. O futebol feminino é uma dificuldade tremenda. Eu agradeço por estar em um clube onde não posso reclamar de nada.''
Com experiência de 20 anos no jornalista esportivo, tendo cobrido e comentado diversos campeonatos, a jornalista Carla Matera, atualmente na rádio Band News FM, acredita que para vermos mudanças significativas no esporte, é preciso ter mais ação das partes envolvidas em seu desenvolvimento.
''Não adianta debater mais o mesmo. Isso cansa. Temos que colocar em prática. Não sou a favor de mais congressos porque precisamos executar. Nós queremos ver mulheres jogadoras, técnicas, repórteres, cinegrafistas e outras funções.''
Quebra de recordes
Em novembro do ano passado, a torcida do Corinthians lotou a Arena em Itaquera para ver a equipe vencer o São Paulo por 3 a 0, na final do Paulista. As 29 mil pessoas presentes estabeleceram um novo recorde de público para a modalidade no país.
Apesar do apoio vindo das arquibancadas, Erika aponta diferenças entre o perfil do torcedor que vai ao jogos do time masculino e do feminino.
''A torcida é fiel mesmo, eles vão em todos os esportes, mas o público que vem nos ver, é diferente. Vem muita família, com criança e idoso. Estamos fazendo as pessoas nos enxergarem e ao final do jogos, nós atendemos a maioria dos torcedores que podemos. As pessoas se identificam com isso.''
Bons públicos, com quebra de recordes, tem sido cada vez mais comum. No ano passado, o Campeonato Espanhol registrou pouco mais de 60 mil pessoas para assistirem Barcelona e Atlético de Madrid. Uma nova marca mundial para uma partida envolvendo clubes.
Também em 2019, na Itália, 39 mil pessoas foram ao Allianz Stadium, em Turim, assistir Juventus e Fiorentina, pelo Campeonato Italiano, um novo recorde para o futebol local.
Futebol na mídia
O crescimento do interesse pelo esporte feminino também é percebido na imprensa, com os principais canais de TV produzindo conteúdos específicos e colocando mulheres em transmissões de jogos, seja narrando e comentando, além da reportagem de campo, como forma de aumentar a representatividade.
Para Carla Matera, embora para alguns fãs ainda possa soar estranho a participação das mulheres em conteúdos ligados ao futebol, o resultado da mudança só virá com o tempo.
''Tudo é uma questão de hábito. Posso pegar o meu exemplo como comparação. Quando comecei, eu era a única mulher no Brasil que fazia a cobertura de rádio do campo. Hoje, está mais equilibrado, mas estamos falando de médio a longo prazo. A mulher passou a ter voz no futebol e em outros esportes.''
Embora reconheça o crescimento gradativo do espaço dado pela imprensa ao futebol feminino, a zagueira Erika pede que seja feito mais para a popularização da modalidade.
''A imprensa tem apoiado. O número de mulheres envolvidas com o esporte cresceu, mas precisamos mostrar o produto para que ele seja mais conhecido. Não é futebol feminino. É futebol! Espero que façam mais campanhas e eventos para que as pessoas saibam e se interessem pelo que é.''
Ausência de mulheres em campanha para o Mundial
No último dia 3, a Confederação Brasileira de Futebol foi até a sede da UEFA, fazer campanha para sediar a próxima Copa do Mundo, em 2023. O que mais chamou atenção na delegação brasileira foi a ausência de uma mulher. A técnica da Seleção, a sueca Pia Sundhage, não pode comparecer ao evento.
A entidade tem um presidente, oito vice-presidentes, um secretário-geral, um vice-presidente jurídico e 13 diretores: todos homens. Para Erika, o gênero não deve ser determinante para a atuação na gestão do esporte, mas o país possui mulheres capacitadas para integrarem a alta cúpula da CBF.
''Infelizmente, existem muitas mulheres competentes, mas algumas não querem se envolver porque sabem como funciona. Outras estão buscando por quererem mudar. Acredito que existe o medo de botar uma mulher lá e ela se destacar. Claro que não basta ser mulher, tem que ter qualidade, mas nós temos mulheres em condições de estarem nesses cargos. Tem que dar essas oportunidades.''
Já Carla Matera lamenta que, paralelamente à candidatura, o Brasil não estimule um conhecimento e identificação com o esporte. Para a jornalista, além de fomentar o futebol feminino, o país precisa dar oportunidades para que as mulheres se capacitem cada vez mais e contribuam para o desenvolvimento do esporte.
''Não adianta promover o evento mundial em um local onde as pessoas não entenderam o valor do esporte. As pessoas precisam ter acesso, desenvolver simpatia pelo futebol feminino. O mais importante nós já conseguimos, que é a mulher ser ouvida. Mas, como querer profissionais qualificadas se não permitimos que elas entrem no meio?''
De olho no futebol
A seleção foi derrotada ontem pela França, por 1 a 0, em um torneio amistoso no país europeu. Esta foi a primeira derrota em dez jogos desde que Pia Sundhage assumiu o time. Na próxima terça-feira, o Brasil encerra a sua participação na competição contra o Canadá. Na estreia, empatou em 0 a 0 com a Holanda, vice-campeã mundial.
No Campeonato Brasileiro, que conta com 16 times, já foram disputadas quatro rodadas. Ferroviária, de Araraquara, e Santos, estão invictos e dividem a liderança com 12 pontos. As equipes voltam a entrar em campo no próximo final de semana.
Varjota Esportes - Ce. / MSN.
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