Após uma temporada no futebol japonês, Kayke está cada vez mais de acertar a volta ao futebol brasileiro. O atacante de 28 anos desembarca nesta terça-feira em Porto Alegre para realizar exames médicos e assinar com o Tricolor gaúcho. Não há mais entraves na transação com os japoneses do Yokohama Marinos, que aceitaram a liberação por empréstimo – a multa rescisória é considerada fora dos padrões do Brasil.
O GloboEsporte.com conversou com o jogador na última sexta-feira de 2016, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De regata e óculos escuros sob sol escaldante, muito diferente do clima encontrado do outro lado do mundo, o jogador destacou o crescimento como profissional, comemorou os primeiros meses como pai e ainda falou do Grêmio, com o qual já obteve acerto e está em fase final de negociação. Ao saber que Renato Gaúcho o colocou na lista de interesse durante entrevista no Jogo das Estrelas, no Maracanã, o sorriso apareceu junto com os elogios ao atual campeão da Copa do Brasil.
- O treinador tem que conhecer o grupo que tem na mão, e o Renato (Gaúcho) faz isso com perfeição. Não é a toa que pegou o Grêmio no meio do caminho, poderia ter se arrasado em uma competição de mata-mata, que é muito difícil pegar numa fase final (...) O treinador fecha uma pirâmide. Começa lá de baixo, mas se o treinador não quiser lá em cima nada vai acontecer. O fato dele ter aprovado me deixa muito feliz e muito animado para o que possa vir acontecer no Grêmio, porque é uma grande equipe. Seria um prazer, ainda mais com o aval de um treinador como o Renato. Um time que recentemente foi campeão da Copa do Brasil, acredito que venha muito forte para o próximo ano, deve fazer algumas contratações para melhorar o elenco. Estamos conversando e escutando, não só do Grêmio, sondagens de times interessados. Expus minha vontade, mas não é tudo. Espero que vá por um caminho que eu fique feliz.
Seria um prazer (jogar no Grêmio), ainda mais com o aval de um treinador como o Renato Gaúcho."
Kayke
A temporada, em números, pode não ter sido a dos sonhos. Kayke terminou sem títulos a passagem no Japão e com nove gols marcados - em 2015 balançou a rede 26 vezes, pelo Flamengo. Consciente da evolução, mas com saudade da fase artilheira, o atacante confirmou o desejo de voltar ao Brasil, principalmente pelas mudanças na diretoria do Marinos.
- A carreira de futebol é muito rápida. Eu fui para o Japão por um propósito, que era atingir um nível diferenciado. Hoje estou num outro nível como jogador, aprendi bastante, mas infelizmente não alcancei os objetivos coletivos na liga, saímos na semifinal da Copa. A gente tinha tudo para conquistar pelo menos um título, mas não aconteceu. Acaba frustrando um pouco, porque você vai numa expectativa muito grande, o pessoal depositando muita confiança, no final você acaba pensando, “falhei”. E o planejamento futuro do Yokohama também, uma troca de diretoria, de presidência, mudança drástica no elenco, jogadores importantes estão de saída, como o Nakamura, lenda nossa do Japão. Tem outro brasileiro, o Fábio, que está indo para o Gamba Osaka. Isso conta muito para mim como jogador, tenho contrato de três anos. Deixei bem claro para a diretoria que não quero voltar para um time montado de qualquer jeito, mas sim para um que queira ser campeão, que busque reforços. Minha vontade é realmente estar aqui.
Japão, pai e tudo mais
O dia 7 de março de 2015 marcou o fim da passagem de Kayke pelo Flamengo e o início da era no futebol japonês. Uma temporada depois, o jogador revelou estar adaptado, mas não foi fácil, principalmente nos primeiros meses. Entre os complicadores, a língua. Fluente no inglês, acabou "batendo a cara na parede" ao ver que por lá apenas o japonês era falado. Aulas de nihongo (dialeto japonês) depois, algo melhorou, principalmente dentro de campo.
A vida com os familiares também é ponto positivo, especialmente pelo tempo disponível para passar com o pequeno Yan, filho que nasceu em fevereiro de 2016. Futebolisticamente falando, a evolução tática é a grande herança da passagem pelo futebol japonês.
- Eu já me achava um pouco diferente dos atacantes que só jogaram no Brasil. Eu atuei três anos na Dinamarca antes de voltar ao Flamengo, joguei na Suécia, na Noruega, passagem rápida pela Alemanha. Aprendi bastante nos treinamentos, jogos, no tempo que estive lá fora para poder voltar. Quando você cai num time que exige muito da sua parte tática isso fica mais visível, dá para ver que o cara consegue fazer. Quando cai num time que não necessita tanto da parte tática, eu como um atacante, as pessoas acabam não tendo muito essa percepção. Foi com certeza mais um aprendizado. Da mesma forma que eu não queria ter ido para o Japão, percebi que estava lá por um propósito quando cheguei, e era esse, aprender nessa temporada, jogando e sendo mais forte taticamente.
O nível do futebol japonês não surpreendeu o atacante, que fez questão de apontar o Mundial de Clubes como um dos grandes exemplos para justificar a qualidade dos clubes do país. A vitória do Kashima Antlers contra o Atlético Nacional e o jogo duro diante do Real Madrid na decisão foram motivos de comemoração para o brasileiro.
- A maior resposta é o Mundial, né? Fiquei muito feliz do Kashima ter chegado à final, passado pelo campeão sul-americano, que bateu em todos os brasileiros, ganhou a Libertadores com sobra. Se o melhor time da América do Sul perdeu taticamente, fisicamente, perdeu para tudo contra um time japonês, mostra que o futebol do Japão não é aquilo que as pessoas imaginam. Se você vai para lá achando que vai ser fácil está muito enganado. Outra prova disso é o número de gols que fiz na temporada, só eu sei a dificuldade que foi para estar marcando os nove. Eles marcam muito forte, os espaços entre as linhas de meio-campo, defesa e ataque praticamente não existem, eles são bem disciplinados taticamente, se esforçam muito para serem perfeitos. Os japoneses têm essa cultura para tudo, no futebol entram na bola carregando a cultura.
"Vasco está bem longe de ser um Flamengo"
Como não é segredo para ninguém, Kayke tem uma relação próxima com o Flamengo. Criado na base do clube, voltou à equipe em 2015 e teve o carinho da torcida renovado. No meio de sondagens do mercado de negociações, o atacante falou sobre profissionalismo de ter que aceitar propostas de outras equipes no futebol brasileiro. Contudo, no atual cenário dos clubes, afirmou que não aceitaria defender o rival Vasco.
Hoje eu não jogaria no Vasco, sendo bem sincero, porque o Vasco está bem longe de ser um Flamengo."
Kayke
- É uma pergunta difícil. Analiso muito o momento. Hoje, eu não jogaria no Vasco, sendo bem sincero, porque o Vasco está bem longe de ser um Flamengo, fazendo a comparação. Não pela rivalidade, acho que ela é válida fora das quatro linhas, mas sendo profissional, hoje, acho que o Vasco está bem abaixo dos outros times grandes do Brasil. Não que seja um clube grande, eu considero sim, mas não dá para comparar com o Flamengo hoje, é uma realidade bem diferente. Não é um pensamento só meu, no mercado os jogadores iriam dar preferência a outros clubes do que o Vasco. Não sabemos amanhã, o passado também foi diferente, o Vasco já foi campeão da Libertadores, enfim, futebol é momento. Se no momento tiver oportunidade de ir para um clube que estiver bem, com uma estrutura legal, o cara tem que ser profissional.
Mesmo com o fuso horário trocado, o atacante sempre acompanha o Flamengo pela internet. Já pensa até mesmo no futuro rubro-negro do pequeno Yan. As muitas mensagens dos torcedores nas redes sociais pedindo o retorno chegam a assustar o jogador, que retribui o carinho com declarações de amor ao clube.
- Pelas redes sociais recebo muita mensagem, cara. Me deixa muito feliz, é um fato que chega até a ser surpreendente para mim pelo fato de ser pouco tempo de convívio no ano de 2015. Foi impactante. Acho que o fato de eu ter começado no Flamengo conta muito. Fui torcedor, torço para o Flamengo, todos sabem. Eu ia nas arquibancadas, sei do que estou falando. Sei o que eles pensam porque eu pensava igual. Hoje sou profissional, mas quando eu era moleque estava lá no Maracanã vendo os caras. Basicamente é isso, quando vem da base é um carinho diferente, começou aqui no time que eu torço, está desde os oito anos, gosta do clube, tem identificação. É aquela coisa do amor da camisa, que não existe mais.
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