O fim de semana da teve um momento que passou em branco para muitos, mas que pode ser muito importante para o futuro da F1, e já ao curto prazo. Quando Lewis Hamilton voltou à pista após seu pit-stop, o britânico passou sem qualquer dificuldade por Esteban Ocon, da Force India. Não foi uma questão de talento do britânico ou de erro do francês: – no plural – para beneficiar Hamilton. É uma questão bem perigosa: se equipes medianas começarem a cooperar com aliadas gigantes, a competitividade da F1 como um todo passa a ser ameaçada.
Isso porque uma das graças da F1 é ver equipes do pelotão intermediário conseguindo grandes resultados. O pódio de Sergio Pérez em Baku foi incrível, assim como o de Lance Stroll em 2017 também foi. O abandono duplo da Haas em Melbourne não foi de quebrar o coração só porque trata-se de uma equipe carismática, mas também porque Kevin Magnussen e Romain Grosjean estavam batendo na porta do pódio. Se essas equipes e pilotos precisarem ceder posições às parceiras – no caso de Force India e Williams, a Mercedes; no caso da Haas, a Ferrari –, comprometendo resultados grandiosos, o fato surpresa do campeonato sofre um duro golpe.
Esteban Ocon deu uma força para Lewis Hamilton em Mônaco (Foto: Force India)
‘Ah, mas equipe nenhuma toparia comprometer um grande resultado só para ajudar uma parceria’. Sim, toparia. Isso não é uma questão de ajuda ou benevolência. Estamos falando de trocas de favores que beneficiam escuderias com orçamentos apertados. Entre um quinto lugar e um possível desconto no motor, a escolha é simples – mais vale economizar do que conseguir um resultado melhor.
É bem verdade que Ocon não comprometeu resultado nenhum em Mônaco – o francês abriu caminho para Hamilton quando ainda não tinha parado, e não estava em uma posição realística. Mas o precedente que se abriu é perigoso: quem garante que em uma corrida de recuperação, largando do fundo do grid, Lewis não vai ter carta branca para passar Esteban como bem entender? A condição de piloto de desenvolvimento da Mercedes, ocupada pelo francês da Force India, é importante demais para ser ignorada.
Claro, Mercedes e Force India não inventaram a roda. Já aconteceu mais de uma vez de os pilotos da Toro Rosso abrirem caminho para os da Red Bull – no GP do Brasil de 2012, por exemplo, já dava para ver Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne facilitando a vida de Sebastian Vettel, que fazia corrida de recuperação para alcançar o tricampeonato da F1. Muito tempo antes disso, no GP da Europa de 1997, em Jérez, Norberto Fontana tirou sua Sauber do caminho da Ferrari de Michael Schumacher, que tentava derrotar Jacques Villeneuve na briga pelo título.
O que impede outras equipes de ter o destino da Force India? (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
Então o que torna a manobra de Ocon e Hamilton tão importante? Em suma, o fato de que as relações entre equipes de ponta e medianas estão mais intensas do que nunca. A Mercedes tem um forte vínculo com a Force India, assim como tem com a Williams. A Ferrari tem uma relação recente com a Haas e uma longeva com a Sauber. Red Bull e Toro Rosso também, obviamente. Sem muito esforço, oito das dez equipes do grid foram citadas – só McLaren e Renault não tem vínculos tão intensos assim, apesar da relação de fornecimento de motor.
Se a moda pegar, a temporada 2018 já toma um novo rumo. Ferrari e Red Bull não vão ficar paradas ao ver a Mercedes se beneficiando desses vínculos. Alguém vai acabar levando a melhor nessa história, alcançando vitórias e o título. Ainda não sabemos quem. Mas já dá para imaginar que quem leva a pior é quem espera uma F1 de competitividade e disputas em todos os níveis do grid.
Varjota Esportes - Ce. / MSN.
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