O jornal Sunday Times revelou neste domingo que a candidatura do Catar para 2022 quebrou as regras da Fifa por ter executado operações secretas de sabotagem aos rivais, de acordo com documentos revelados ao jornal. Um delator enviou e-mail para o jornal com documentos que mostram a contratação de uma empresa de relações públicas dos Estados Unidos e ex-agentes da CIA para manchar a candidatura dos concorrentes, especialmente os Estados Unidos e Austrália.
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O foco era contratar pessoas influentes dos países candidatos para fazerem campanha contra a sede da Copa. O objetivo era criar uma propaganda negativa e dar a impressão que sediar o evento era algo não apoiados domesticamente. Fazer isso vai contra as regras da Fifa para candidaturas à Copa do Mundo e é uma infração que elimina quem o fizer. Os organizadores da Copa do Catar, que eram parte da equipe da candidatura, negaram todas as acusações.
O Catar venceu a disputa contra Estados Unidos, Austrália, Coreia do Sul e Japão para sediar a Copa do Mundo de 2022, em uma eleição decidida pelo então Comitê Executivo da Fifa, em dezembro de 2010. As controvérsias da eleição, que também escolheu a Rússia como sede de 2018, acabou desembocando no escândalo Fifagate. Diversos dirigentes da Fifa caíram desde então, incluindo o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e o secretário-geral, Jérôme Valcke.
A nova presidência da Fifa, comandada por Gianni Infantino, mudou a forma como a eleição para sediar a Copa do Mundo é feita, dissolvendo o Comitê Executivo e abrindo a votação para escolher as próximas sedes da Copa para todos os 211 membros. O voto também passou a ser aberto.
Segundo as regras da Fifa, os candidatos não devem fazer “nenhuma declaração escrita ou oral de qualquer maneira, sejam adversas ou não, sobre as propostas ou candidaturas de qualquer outro membro da associação”. A candidatura do Catar já foi acusada de corrupção e compra de votos, mas foi inocentada em uma investigação interna da própria Fifa.
O que os documentos mostram
- Os documentos mostram que um respeitado acadêmico recebeu US$ 9 mil para escrever um relatório negativo no enorme custo econômico de uma Copa do Mundo nos Estados Unidos, que foi distribuída à imprensa em todo o mundo.
- Jornalistas, blogueiros e figuras de grande destaque foram recrutados em cada país para exaltar os aspectos negativos das campanhas dos seus próprios países.
- Um grupo de professores de educação física foi recrutado para pedir a membros do Congresso Americano para se oporem à Copa do Mundo com base no argumento que o dinheiro seria melhor usado em esportes para Ensino Médio.
- Protestos de base foram organizados em jogos de rúgbi na Austrália para se oporem à ideia da candidatura do país.
- Relatórios de intelig6encia foram compilados sobre pessoas envolvidas em candidaturas adversárias.
Os documentos que o Sunday Times recebeu foram enviados por um delator que trabalhou na campanha do Catar 2022 e estariam indisponíveis durante a investigação da Fifa. O time do Catar 2022 contrataram o escritório de comunicação Brown Lloyd Jones, conhecido agora como BLJ Worldwide, juntamente com uma equipe de ex-oficiais de inteligência para conduzir uma campanha visando minar um dos principais critérios da Fifa no processo de candidatura: que cada proposta deve ter forte apoio em casa.
O Comitê Supremo para Entrega e Legado do Catar (basicamente, o Comitê Organizador da Copa 2022) respondeu às acusações dizendo que “rejeita toda e qualquer alegação apresentada pelo Sunday Times”. “Nós fomos minuciosamente investigados e fornecemos todas as informações relacionadas à nossa candidatura, incluindo a investigação oficial liderada pelo procurador norte-americano Michael Garcia”, responderam os organizadores da Copa 2022. “Adotamos estritamente para todas as regras e regulamentos da Fifa para o processo de licitação da Copa do Mundo de 2018/22”.
A citação à investigação de Michael Garcia é o processo conduzido pela própria Fifa, que inocentou Catar e Rússia, algo que a Trivela mostrou na época que era uma enorme cara de pau.
Com tudo isso, porém, ainda é preciso esclarecer todos os documentos recebidos pelo Sunday Times e ouvir os acusados. Certamente um dos pontos que serão levantados é que o Catar certamente não foi a primeira candidatura a espionar os rivais, nem usar de táticas de inteligência secretas. Aliás, a candidatura da Inglaterra para 2018 foi acusada de espionar os adversários.
O mais importante, do ponto de vista do Catar, é que de fato o país passou por uma investigação e foi inocentado. O problema disso é que a investigação da Fifa foi muito questionada até mesmo por quem a conduziu, Michael Garcia, que acabaria se demitindo depois por não poder divulgar o que encontrou. O chamado Relatório Garcia acabou sendo divulgado em junho de 2017 e, ainda que não prove compra de votos, deixa muitos indícios que mereciam mais investigação. Que, claro, nunca foi feita.
Se o Catar infringiu as regras da candidatura, a Fifa ficará pressionada a tomar uma atitude. Ao menos será preciso lançar uma investigação nova, já que tirar o evento do país seria algo muito arriscado, juridicamente, para a entidade. Um processo bilionário certamente seria aberto e poderia causar um enorme problema.
Com o crescimento da influência da Arábia Saudita na Fifa, a pressão na entidade irá aumentar. Os sauditas são os líderes de um bloqueio econômico e político ao Catar. Há uma pressão para que a Copa de 2022 já tenha 48 seleções, algo previsto apenas para 2026. Com isso, o Catar seria obrigado a dividir a organização da Copa com os países vizinhos, o que poderia ser uma enorme derrota política do país – e uma vitória, claro, dos sauditas, cada vez mais poderosos. A Fifa estará em maus lençóis para lidar com essa situação.
Varjota Esportes - Ce. / MSN.
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