Depois de 19 dias de batalha, Magnus Carlsen finalmente alcançou a vitória e venceu o Campeonato Mundial de Xadrez nesta quarta-feira, em Londres. Ele é o dono do título desde 2013.
Desta vez, o norueguês venceu o americano Fabiano Caruana por 3 a 0 no desempate por partidas rápidas - desfecho para uma disputa que se iniciou em 9 de novembro.
Carlsen, de 27 anos, receberá um prêmio de valor superior a US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,8 milhões). Ele confirma também a atribuição de ter talvez o principal rosto da renovação deste jogo, criado há mais de 1.500 anos.
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Oligopólio soviético
Para começar, Carlsen não nasceu na União Soviética ou em algum país do Leste Europeu, região que lidera no ramo desde a Guerra Fria.
Até o surgimento desta estrela norueguesa, somente dois enxadristas conseguiram romper o oligopólio soviético e de seus aliados desde 1937: o americano Bobby Fischer e o indiano Viswanathan Anand.
Nenhum deles, porém, chegou ao nível de excelência de Carlsen.
Nem mesmo o russo Gary Kasparov, que ficou famoso mundialmente por seus duelos contra computadores nos anos 90.
Carlsen se tornou um fenômeno inédito e global no xadrez desde que conquistou o primeiro título mundial, aos 22 anos.
Além da genialidade no tabuleiro, sua imagem protagonizou propagandas de relógios de luxo, de carros esportivos e da grife holandesa G-Star Raw.
Um documentário sobre sua vida já chegou a 56 países e, em 2013, seu nome figurou entre as 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista TIME.
Outro indicador de sua popularidade foi ter aparecido... em um episódio do desenho Os Simpsons.
Rivalidade entre irmãos
"O xadrez era visto como um esporte de homens mais velhos", explicou à BBC Kate Murphy, diretora da Play Magnus, uma empresa criada por Carlsen para o mercado de aplicativos de xadrez.
Mas "Carlsen mudou essa percepção ao ganhar o título e motivar os mais jovens a jogar xadrez", destacou.
O norueguês foi introduzido ao jogo pelo pai, aos 5 anos - mas inicialmente não deu muita bola para a atividade.
O interesse mudou após ganhar de sua irmã mais velha, que até o momento era quem se juntava ao progenitor da casa, Hendrik Carlsen, para jogar.
"Ganhar dela era minha principal motivação e, nesse processo, o xadrez me cativou", disse o campeão mundial em uma entrevista em 2016.
Aos 9 anos, Carlsen começou a ganhar do pai.
Mozart do tabuleiro
Aos 13, Magnus Carlsen já era um grande Mestre Internacional de Xadrez, um título vitalício concedido pela Federação Internacional de Xadrez.
Com isso, ele passou a ser chamado de "Mozart do xadrez", destacando o impressionante talento de uma pessoa com origem em um país distante de ser uma potência no esporte.
Ele é o único norueguês entre os 100 primeiros na classificação mundial.
A Rússia, por sua vez, tem mais de 20 representantes - seguida pela China (9), Reino Unido e Estados Unidos (7) e Índia (6).
A guinada de Carlsen coincidiu também com o avanço tecnológico que sacudiu o mundo no século 21.
Graças à internet, o jogo teve uma exposição jamais vista - multiplicando-se em diferentes plataformas nas redes sociais e nos smartphones.
O site Chess.com assegura contar com mais de 2 bilhões de usuários no mundo.
Jovens no poder
"Kasparov foi um jogador brilhante e um perfeito embaixador do esporte, mas Magnus Carlsen chegou na hora e no lugar certo para se beneficiar da internet e das mídias sociais", diz Peter Doggers, um dos diretores do Chess.com.
Uma das mudanças mais óbvias ocorreu na demografia da população que pratica a atividade: seis dos dez melhores jogadores do mundo hoje têm menos de 30 anos.
Entre as mulheres, a proporção é ainda maior: nove das dez, incluindo a número um do mundo, a chinesa Hou Yifan.
"Essa é uma das consequências mais imediatas de como os computadores influenciaram o xadrez. Hoje, qualquer criança com um laptop ou celular pode treinar duro e melhorar", acrescenta Doggers.
"Mas não há dúvida de que Carlsen é o modelo a ser seguido e, graças a ele, a visibilidade do jogo aumentou".
O oponente
A final de Londres ofereceu uma experiência completamente nova para Carlsen: foi a primeira vez que ele disputou com um rival mais novo.
Seu oponente foi Fabiano Caruana, número dois do mundo.
De origem italiana, Caruana buscava ser o primeiro jogador nascido nos EUA a se tornar campeão desde que Bobby Fischer surpreendeu o mundo com sua espetacular vitória em 1972 sobre Boris Spassky, um dos representantes da era soviética.
Esse duelo, acontecido em Reykjavik, na Islândia, é conhecido como o "Duelo do Século" - inspirando filmes e musicais da Broadway.
"Fischer chegou a ganhar mais dinheiro do que Mohamed Ali, o que mostra o impacto de sua vitória sobre Spassky", diz o jornalista Brin-Jonathan Butler, autor do livro sobre o famoso duelo.
"Mas ele também mostrou como a genialidade e a loucura andam de mãos dadas no xadrez".
Butler faz referência à negativa feita por Fischer de defender novamente o título em 1975 e a posterior obscuridade na qual caiu o americano.
Durante anos, o enxadrista precisou viver recluso e ficou famoso por sua batalha legal contra o governo dos EUA, após desafiar um embargo e jogar na antiga Iugoslávia, em 1992.
"Fischer foi um artista do tabuleiro. Magnus joga como uma máquina e às vezes isso é frustrante, se o que você está procurando é um jogo mais emocionante. Embora ainda seja extraordinário", opina Butler.
Capitão América versus Thor
Caruana se tornou o Mestre Internacional de Xadrez mais jovem dos Estados Unidos a alcançar esse reconhecimento, com 15 anos.
Agora, ele era um dos protagonistas de "Capitão América versus Thor", como seu duelo contra Carlsen foi promovido nos Estados Unidos.
A comparação de Magnus com o guerreiro norueguês também alude ao seu excelente estado físico.
Jogos de alta performance podem durar até seis horas e, no caso do norueguês, acredita-se que sua resistência tenha sido um ingrediente crucial na vitória.
Varjota Esportes - Ce. / MSN.
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