tenho mais vivo até hoje. Foi a realização de um sonho para mim. Mas no começo não foi fácil. Quando eu saí do Santos para o Palmeiras, lembro que teve uma reunião em casa e minha mãe falou que não era para eu ir, que a torcida quebrava tudo. Só minha avó me apoiou.
Quando cheguei ao clube, em 1991, teve um problema de afastamento de jogadores com o (técnico) Nelsinho (Andrei, Evair, Ivan e Jorginho), depois houve um episódio com o Marião (José Mário, preparador de goleiros), que foi ameaçado por torcedores armados na rua. Após um jogo contra a Ponte Preta, atiraram rojões na gente, em outro jogo contra o Flamengo também. O clima era muito hostil. A torcida estava impaciente e passando dos limites.
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Passei por tudo isso. Saía dos jogos duas ou três horas depois, no carro da polícia. Mas em 1993 nós viramos essa página. O primeiro jogo (derrota para o Corinthians por 1 a 0) aumentou a expectativa. Mexeu muito com o nosso brio pela comemoração do Viola e pelas reportagens durante a semana. O Palmeiras vinha de um passado de sempre chegar e perder, um histórico de que o time amarelava em finais.
A torcida estava muito ansiosa para gritar. Os palmeirenses mereciam. E o time vencia e convencia. O nosso comprometimento era muito grande, mas tinha briga e sérios problemas toda semana. Só que quando a equipe entrava em campo eram todos vencedores mesmo. A união é muito importante para a sequência de um projeto.
Depois da primeira partida, nós fomos para Atibaia. Lá no interior, afastados de tudo, nós dormíamos e acordávamos com o Corinthians na mente. Eu machuquei o tornozelo no primeiro jogo e só fui treinar na sexta-feira antes da segunda partida. Fiz uma infiltração na quinta à noite para treinar e jogar. O médico da seleção brasileira até me perguntou depois como eu tinha conseguido atuar naquele estado.
O Vanderlei fez uma preleção em que ele nem falou da parte tática ou técnica. Ele fez um levantamento das entrevistas, o Viola imitando o porco... E antes de subirmos para o campo, no túnel, o Evair pediu para todos olharem nos olhos dele e falou que quando todos voltassem para o vestiário seria com o título. Ele falava que quem não tivesse esse espírito não deveria subir a escada, que os problemas ficariam ali. Todos voltariam campeões.
Falam do José Aparecido,
mas nós atropelamos o Corinthians"
mas nós atropelamos o Corinthians"
César Sampaio
No jogo, fomos bem superiores, não deixamos a equipe deles jogar. E se tem um gol de pé direito do Zinho é porque tinha de ser nosso mesmo. O chute de direita do Zinho era pior que o da minha filha (risos). Mas ele conseguiu colocar a bola no cantinho.
É lógico que qualquer vantagem em uma final é importante, mas o gol do Zinho não bateu o martelo. A jogada foi uma consequência da postura do time, que pressionou desde o começo e criou muitas chances. Naquele dia fizemos um dos melhores jogos nossos no campeonato.
Falam que o José Aparecido poderia ter expulsado o Edmundo no lance com o Paulo Sérgio, mas não pegou. E nós atropelamos o Corinthians dentro de campo.
Eu tinha um pacto com o Evair, sempre falava umas palavras para ele antes dos pênaltis. Mas nesse jogo, ele olhou para trás e ficou me procurando, mas eu não estava nem aí. Eu estava querendo ver o gol logo (risos). Mas falei de longe. O Evair batendo pênalti era 99% de êxito. Ele foi, bateu com aquela calma... De todas as conquistas que eu tive, essa foi a de maior expressão e mais inesquecível.
O Palmeiras foi o time de maior referência na década de 1990, não só de conquistas, mas de futebol bonito. Na época, eu estava na Seleção, mas era mais gostoso jogar pelo Palmeiras do que pela seleção brasileira.
Quando o árbitro José Aparecido de Oliveira apitou o fim da partida, eu peguei a bola, coloquei por baixo da minha camisa e pensei em ir para o vestiário para guardá-la. Mas entrou um monte de gente, torcedor, rasgaram minha camisa, tiraram a minha chuteira... Na comemoração eu fiquei só de calção e meia, e a bola ficou pelo caminho. Quase fiquei pelado no gramado.
Aquele time, como o Flamengo da década de 1980, o São Paulo da mesma época, mostrou que era possível ganhar jogando bonito, para frente, com poucas faltas. É esse o futebol que o torcedor que ver em campo, um time de qualidade, sem frescura, sempre transformando a qualidade em gols.
É muito gostoso ver o jogo novamente. Eu tinha uma fita VHS e agora passei para DVD, e sempre assisto. Infelizmente, hoje não vemos mais tanta qualidade no futebol. Era uma qualidade transformando lances em gols e não jogando a bola para trás, dando chapéu e caneta. Nós tínhamos sempre o objetivo de atacar e fazer gol.
Ganhei 21 títulos na carreira, mas esse foi o mais importante e marcante da minha vida.
* César Sampaio, que hoje mora em Londres, na Inglaterra, fez este relato ao repórter Felipe Zito, especial para o GLOBOESPORTE.COM
Nota da redação: após perder o primeiro jogo por 1 a 0, o Palmeiras precisava vencer o segundo jogo (independentemente de placar) para levar a decisão à prorrogação. Quem vencesse no tempo extra seria campeão. Em caso de nova igualdade, pênaltis. O Verdão fez 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 nos 30 minutos adicionais.
Nota da redação: após perder o primeiro jogo por 1 a 0, o Palmeiras precisava vencer o segundo jogo (independentemente de placar) para levar a decisão à prorrogação. Quem vencesse no tempo extra seria campeão. Em caso de nova igualdade, pênaltis. O Verdão fez 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 nos 30 minutos adicionais.
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