Prestes a completar cem anos de história, no dia 7 de setembro, o União Mogi, ex-time do pai de Neymar, atualmente não tem patrimônio. Não existe nenhuma propriedade registrada no nome do tradicional clube de futebol de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. Há anos sofrendo com processos judiciais por causa de dívidas trabalhistas, a agremiação foi abraçada pela Sociedade Amigos do União (SAU), que resolveu apelar para o quadro "Lar Doce Lar", do programa Caldeirão do Huck, apresentado por Luciano Huck na TV Globo. O presidente da SAU, Delmiro Goveia, mandou uma carta à produção para tentar terminar a construção do CT, já iniciada, mas nunca concluída por falta de recursos.
O "Lar Doce Lar" consiste na reforma da casa de brasileiros que viram seu imóvel se deteriorar com o tempo. Os interessados devem se inscrever no site do Caldeirão do Huck, e, caso selecionados, precisam superar um desafio lançado pelo apresentador no programa para ter de volta o tão sonhado lar. Procurada pela reportagem, a produção do programa confirmou o recebimento da carta de Delmiro, mas informou que a demanda é tamanha que ainda não tem uma posição para o presidente da Sociedade Amigos do União.
- Pedi ajuda com a terraplanagem e a instalação de um campo com medidas oficiais. Além disso, faltará o gramado para concretizarmos esta primeira etapa. Se conseguirmos, a família unionista vai agradecer demais, até porque esse CT ficará para as gerações futuras. Assistindo ao programa, minha filha me deu a ideia de enviar o pedido. Seria uma ajuda ímpar - disse Goveia.
Idealizador da SAU, Goveia é advogado e sócio do União há mais de 35 anos. Entre 2007 e 2009 foi presidente do Alvirrubro - posteriormente, membro do Conselho Deliberativo. A sociedade fundada por ele é independente do clube e busca angariar recursos com empresários da cidade que estejam dispostos a ajudar o União.
- Quando criamos a SAU, o objetivo era fornecer uma casa para o clube: um local onde houvesse alojamentos, campo para treinos e toda a preparação que uma equipe precisa. Conseguimos comprar um terreno de 48.000m² no distrito de César de Souza, onde já construímos uma área de 250m² com alojamento, banheiros, vestiário, refeitório e cozinha, além de iluminação elétrica e rede de água e esgoto.
Atualmente, o União disputa o Campeonato Paulista da Segunda Divisão (equivalente a quarta divisão estadual) e é o vice-líder do Grupo 7, mas utiliza campos municipais para treinar e não oferece alojamento aos jogadores. Muitos deles moram em outras cidades e precisam viajar todos os dias para treinar.
A época de ouro e as dívidas trabalhistas
Apesar de nunca ter passado da terceira divisão do Paulista e ter apenas um título nos cem anos de fundação (Série B do Paulistão, em 2006), o União Mogi sempre foi uma equipe muito querida da torcida mogiana. Em alguns jogos comemorativos, contou com ilustres presenças, como a de Garrincha, já no fim da carreira, e revelou Neymar pai, que chegou a levar o craque, ainda criança, várias vezes ao campo com a camisa unionista.
Até 1998, o União Mogi contava com um bom patrimônio. Nas décadas de 60 e 70, o clube construiu um ginásio e um pequeno estádio, situado na rua Casarejos, no bairro Mogilar. Em 2000, porém, os dirigentes decidiram vender o local, que estaria defasado em relação às exigências da Federação Paulista de Futebol (FPF), para uma construtora da cidade. Em troca, a agremiação teria participação nos lucros do centro de compras erguido no local, o que, segundo Delmiro, nunca aconteceu.
- Até hoje isso não é muito bem explicado. Toda a área de 14.000m² foi vendida, e o União não teve retorno algum - contou Goveia.
Ainda em 1998, com a extinção do passe e a criação da Lei Pelé, os atletas deixaram de ter vínculo exclusivo e direto com os clubes para se tornarem donos de seus próprios direitos federativos. Foi quando começou a decadência unionista.
O clube tinha contratos que chegavam a R$ 80 mil. Com a nova lei, alguns jogadores decidiram entrar na Justiça do Trabalho, exigindo a quebra contratual e o recebimento das multas. A partir disso, o União se tornou devedor e viu processos se acumularem.
- Com a venda do estádio, o União deixou de ter recursos e ficou com cerca de R$ 1,5 milhão em dívidas trabalhistas - afirmou Delmiro.
Paralelamente às confusões, o União havia comprado um terreno no bairro Vila da Prata, onde começou a construir um CT. A ideia era transformar o espaço em um clube para os sócios. Mesmo sem o término das obras, o local contava com alojamentos, cozinha e até chegou a ser utilizado, mesmo que precariamente, até ser penhorado pela justiça.
- Com os processos anteriores ainda correndo, em 2006 o CT foi arrematado para o pagamento das dívidas trabalhistas. A partir disso, o União passou a não ter mais nenhum patrimônio - explicou o presidente da SAU.
Senerito Souza, atual presidente do União, dá outros números para o caso. Ele afirma que a dívida era de um valor bem mais baixo do que a citada por Delmiro, e ainda confirma o valor pelo qual o CT da Vila da Prata foi arrematado.
- Na época, as dívidas eram de R$ 33 mil, mas não sei o valor que ficou no fim. O CT foi vendido por R$ 200 mil.
O dirigente, no entanto, não quis falar sobre o pedido a Luciano Huck.
Confusões, desencontro de informações e muitos problemas jurídicos fizeram parte do dia a dia da Serpente do Tietê na última década.
Realidade e esperança
Há anos, o clube recorre a empresários para disputar campeonatos. A cada ano, chegam e saem jogadores, uma vez que o Alvirrubro não tem renda para montar os próprios times e categorias de base. Atualmente, um grupo comandado por uma empresa de marketing esportivo e ex-jogadores como Edu (ex-Santos e Seleção), Nelsinho (ex-São Paulo e Corinthians), Amaral (ex-Corinthians e Santos), entre outros, administram o futebol unionista.
- O futebol do clube é deficitário. Toda temporada chega um grupo de gestores que banca o campeonato e depois vai embora. Por isso, tivemos a ideia deste novo CT, para que tenhamos um local para nossos atletas e possamos manter estes empresários afastados - desabafou Goveia.
Segundo ele, a construção do CT é o primeiro passo para que o Mogi deixe de ser um time de aluguel e passe a ter elencos próprios. Além disso, Goveia diz que o local poderá ter também uma função social.
- Teremos uma casa. Pode ser para o profissional ou para as categorias de base, mas o maior objetivo para esta área é termos uma escolinha de futebol do clube, com equipes do sub-11 ao sub-20, para darmos formação de base e, com isso, tirar as crianças das ruas e das drogas. Se não formarmos craques, formaremos cidadãos - concluiu.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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