- Isto é pela Copa da Coreia do Norte em 2026 - uma alusão irônica à polêmica escolha do Catar para organizar a Copa de 2022, que ainda está sob investigação, assim como a votação da Rússia para a sede do torneio em 2018.
Só depois de jogar todas as notas falsas que trazia na mão é que os seguranças tiraram o britânico da sala, com muita tranquilidade. O humorista foi levado pela polícia, e a Fifa não se pronunciou sobre como o ator conseguiu o acesso à coletiva, mas o departamento de comunicação tem um grave problema para explicar ao Comitê Executivo. Blatter, visivelmente transtornado, se levantou e se dirigiu até à porta, parecendo que queria tirar satisfação com o ator. Depois, se acalmou e regressou ao seu lugar, mas se levantou novamente e, muito tenso, disse que regressaria dentro de alguns minutos.
Assim foi. Os rostos incrédulos de quem viu Blatter sendo humilhado numa brincadeira com muita ironia viram o presidente da Fifa regressar logo depois visivelmente atrapalhado, tenso, mas polêmico. Aos poucos, foi retomando a compostura e começou por atacar os que tinha pela frente. Os ataques, por meio de uma ironia, uma provocação ou uma resposta mais dura, marcaram toda a coletiva. Blatter acusou os jornalistas de serem parte responsável pela sua renúncia ao cargo, por causa da “pressão” exercida. E, em seguida, partiu para o ataque à mídia.
"Mas você, meu senhor, é um jornalista profissional, experiente, eu o convido a ler o que está no site da Fifa; ou ainda: “Já respondi a essa questão, se a Fifa terá um novo presidente, então não será o velho presidente, embora eu não seja tão velho assim, mas velho”, afirmou entre sorrisos com misto de ironia e raiva que transbordava no seu rosto, pelo episódio recém-passado no auditório, que a essa hora aparecia nas televisões nos quatro cantos do mundo.
Joseph Blatter alternou a irritação com sorrisos irônicos durante a entrevista coletiva (Foto: Getty Images)
Houve um momento em que Blatter também passou para o papel de vítima, lembrando as reformulações que fez e propôs à frente da Fifa, frisando o crescimento das competições de futebol feminino e camadas de base e invocando a inocência pelos casos de corrupção de pessoas que “ele não elegeu”. Em pelo menos três ocasiões, repetiu: “Porque eu sou o presidente, o presidente reeleito”. Até que foi mesmo obrigado a dizer, tamanha era a insistência dos jornalistas, aquilo que tentava evitar desde o começo.
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- Mas continuam perguntando, eu já respondi. A Fifa terá um novo presidente no dia 26 de fevereiro - afirmava, mas sem nunca pronunciar que não seria um dos candidatos, até que chegou o momento de oficializar o adeus, formulado em uma frase tão simples, mas tão difícil de elaborar para um homem que lidera a Fifa desde 1998. - Eu não serei candidato na eleição de 2016 - a resposta direta, sucinta e esclarecedora que todos queriam ouvir, chegava finalmente quando a coletiva já estava na metade.
A batalha continuava, e Blatter lembrava os seus tempos como jornalista, aproveitando para alfinetar os que tinha pela frente.
- No futuro, eu quero voltar a trabalhar na rádio, a rádio é o meio mais importante, que trabalha 24 horas por dia, pode ser ouvido em todo o mundo, comunicar uma opinião em qualquer hora, em qualquer lugar. Falar é mais fácil do que escrever, por isso eu gosto da rádio. Com tantas estações no mundo, deve haver uma que queira ouvir a minha voz - disse o suíço, apresentando o seu currículo para o pós-26 de fevereiro em que deixará, pelo menos diretamente, de ser presidente da Fifa, e passará o tempo falando de “geopolítica na rádio”, como ele próprio disse que pretendia fazer.
Antes de abandonar o auditório, o cartola pediu mais uns minutos para um novo pronunciamento, não muito diferente do inicial, em que arrematou o discurso com mais uma ironia e um sorriso.
- Queria agradecer, uma vez mais, a presença e o apoio de todos vocês.
Terminou o show de Blatter, que tentou, mas desta vez não foi o protagonista.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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