Do alto dos seus 1,78m, Raphaela Gallacho parou no taekwondo por acaso. O esporte apareceu como um tratamento para uma escoliose que a fez abandonar o vôlei, que tanto gostava de jogar. Apesar de a família torcer para ela seguir a carreira de modelo, o esporte a conquistou. Rapha se profissionalizou e, hoje, aos 25 anos, vai defender o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá. Ela luta nesta quarta-feira, na categoria +67kg a partir das 15h35 (de Brasília).
+ Lutadora vê rótulo de musa como algo positivo: "Me divirto. Portas se abrem"
Apesar do jeito desengonçado na infância e das piadas que escutava dos amigos de escola, a "magrela altona de óculos" é hoje uma das mais bonitas atletas do taekwondo. Em 2013, por exemplo, figurou na lista das 10 mais belas do mundo, ao lado da amiga Talisca Reis.
- Meus pais levam na boa. Meu avô sempre quis que eu fosse modelo pela minha altura. Meus pais insistiram, mas eu odiava quando nova, não queria. Mas agora quando aparece votação (de atleta mais bonita) eles dizem que vão votar. Acho legal. No começo, não considerava isso, mas agora se pintar alguma coisa, eu vou. Acho bacana.
Gallacho, no entando, lembra que nem sempre foi exaltada pela sua beleza. E revela ser bastante tímida no dia a dia.
- Era feinha, muito zoada: magrela, alta, toda desengonçada, de óculos... Sempre sofri bullying no colégio, mas o tempo foi passando, e agora o povo brinca: "Nossa, quem diria, né?" (risos). Eles tiravam sarro, e eu ficava bem brava. Não me vejo como musa, mas acho legal. Me considero bastante tímida, o povo quando não me conhece me acha metida já que eu passo e não falo... Quando eu já conheço, tenho intimidade, sou outra pessoa. Mas eu sou muito de passar olhando para o chão, com vergonha. O povo acha que eu sou nojenta: "Ah, aquela menina é mó nojenta". É de lei o povo chegar e falar: "Nossa, te achava mó metida".
Em 2011, Gallacho chegava aos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara muito jovem. A falta de maturidade e experiência, segundo ela, fizeram a diferença. Acabou na quinta colocação, mas acredita que poderia ter ido mais longe. Quatro anos depois, ela chega como "veterana". É a única da delegação que já participou do Pan. Isso, para ela, é positivo.
Raphaella Galacho, a musa do taekwondo, nas redes sociais (Foto: GloboEsporte.com)
A santista, aliás, vive uma situação inusitada. Na categoria +67kg, ela pode garantir a medalha de bronze com apenas dois triunfos. Para o ouro, basta vencer três vezes.
- Parece ser fácil, mas não é. O nível pan-americano é muito forte. Você tem uma chance. Tem duas lutadoras no top 5 do ranking e mais três entre as 20. Então é aquilo, a categoria não tem para onde fugir.
Rapha quer fazer mais e, para isso, tem treinado muito. Mas faz isso tudo sem perder a vaidade. Na Vila dos Atletas, por exemplo, já visitou o salão exclusivo.
- Achei demais o salão aqui. Quando vim da primeira vez, os meninos da nossa equipe tinham cortado o cabelo e eu falei: "Mas é de graça?". Eles disseram que sim e eu vim fazer uma escova, é muito legal. Eles fazem cabelo e unha. Sou bastante vaidosa, antes de vir, fiz unha, cabelo, sobrancelha, eu gosto. Não gosto de ficar desleixada porque nosso esporte não dá para ficar muito bonita, né? Aí quando dá, eu gosto. Chega uma hora que falo: "Nossa, preciso ir para o salão".
Para Rapha, além de tirar o gosto amargo por ficar fora do pódio no Pan de Guadalajara, a edição canadense da competição vale 40 pontos no ranking de olho na classificação para as Olimpíadas de 2016. Como está no top 32 de sua categoria, ela está habilitada a participar dos Grand Prix de 2015, que também valem para o somatório.
- Um ouro no Pan mudaria muita coisa, com certeza. O que penso são as Olimpíadas. E aqui é uma competição chave, porque a coisa fica mais real, deixa de ser um sonho e passa a ser uma realidade, é um degrau abaixo. E, por isso, tem essa pressão. Tentamos pensar que é uma competição qualquer, a parte ruim já fizemos, do estresse da rotina, etc. Aqui é a parte mais legal e vou procurar me divertir - concluiu.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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