Mesmo 30 anos depois, ainda há o que dizer sobre a traumática eliminação da Seleção para a Itália na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. A derrota por 3 a 2, com três gols de Paolo Rossi, quando a geração de Zico, Falcão, Sócrates & Cia. podia até empatar para chegar às semifinais, ganhou nome, 'Tragédia de Sarriá', e proporcionou muitas histórias, de antes e depois do trauma. São momentos inesquecíveis, dentro e fora das quatro linhas, que os envolvidos revelam ao Esporte Espetacular três décadas depois.
- Na saída, eu me lembro que tinha uma faixa. Nós pegamos o ônibus para o hotel e a vi, escrita em espanhol, dizendo assim: “Valeu Brasil! Nem sempre ganha o melhor”. Isso é o nosso troféu, esse é o troféu que aquela seleção tem, o reconhecimento – disse Falcão, hoje treinador do Bahia.
Mestre Telê, o artífice do esquadrão
O responsável pelo encantamento daquele time foi o técnico Telê Santana. Em Minas Gerais, seu filho Renê Santana mantém um pequeno museu sobre o pai com peças valorizadas, como quadros com pinturas que retratam momentos da campanha. A ideia de Renê é preservar as ideias do pai.
O bom trabalho não é uma garantia para vencer, mas é o caminho para vencer "
Renê Santana, filho de Telê
- Ele tinha muita vontade de realizar um grande trabalho. E foi isso o que aconteceu. O bom trabalho não é uma garantia para vencer, mas é o caminho para vencer – disse Renê.
Voa canarinho, voa
Foi com esse espírito de vitória que a delegação partiu para a Espanha, há 30 anos, decidida a realizar o sonho do tetra. Pouco antes do embarque rumo ao Velho Mundo, Júnior “Capacete” gravou o samba “Voa canarinho, voa” que virou símbolo daquele time.
- Nós estávamos concentrados, e o Alceu do Cavaquinho, meu compadre, me ligou e falou: “Olha, eu estou com uma música aqui”. Era um cassete naquela época. Quando eu coloquei para escutar, chamei o Edvaldo e falei: “Deva, escuta isso aqui”. Ele escutou e elogiou – disse Júnior.
Foi ao ritmo do samba gravado por Júnior que o Brasil viajou. Antes de chegar ao país-sede daquele Mundial, a delegação desceu em Portugal para um período de treinos.
- Encontramos uma atmosfera ultrafestiva, um calor danado. Parecia o Brasil, o Rio de Janeiro – afirmou o atual comentarista da TV Globo.
Elogios ao adversário
Se o resultado não foi bom, as outras coisas compensaram"
Júnior
O Brasil seguiu viagem, encantou na primeira fase, com vitórias sobre União Soviética, Nova Zelândia e Escócia, e se classificou para as quartas-de-final, disputadas num triangular na Copa de 1982. Enfrentou a Argentina de Maradona, campeã do mundo em 78. Com uma vitória por 3 a 1, partiu com moral para enfrentar a Itália, que havia se classificado na etapa de grupos sem ganhar uma partida e vinha de uma vitória sobre os hermanos. Podendo até empatar, foi justamente contra os italianos que a Seleção experimentou o sabor mais amargo na Espanha.
- O time da Itália tinha Zoff no gol, que, talvez, fosse o melhor goleiro da Europa. Tinha Cabrini, que era o melhor lateral, Scirea, que era o melhor líbero. Tinha Tardelli, tinha Bruno Conti... Era um timaço – argumentou Falcão, que na época já atuava na Itália, pelo Roma.
Cabeça erguida
Mesmo derrotada e eliminada, após voltar para casa, a Seleção Brasileira deixou saudades na Espanha. Basílio, dono do bar do hotel onde os jogadores do Brasil ficaram hospedados, afirma nunca ter visto nada igual ao clima da ocasião.
- Em todos esses anos trabalhando aqui, nunca vi gente como os brasileiros. Pessoas simpáticas, agradáveis. Ninguém importunava ninguém – afirmou.
Apesar do resultado negativo, Júnior confirma o clima positivo do time ao se recordar do Mundial da Espanha.
- Eu, quando lembro da Copa de 82, me alegro. Pra mim é motivo de satisfação. Conheci tanta gente... Se o resultado não foi bom, as outras coisas compensaram. Pelo menos pra mim. Quando o time adversário tinha a bola, parava a música e ficava só marcando “pam-pam-pam, Brasil! Pam-pam-pam, Brasil” – finalizou.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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