Quando "São" Marcos se aposentou, em janeiro de 2012, muitos nomes da tradiconal escola de goleiros do Palmeiras apareceram como candidatos a sucessores do ídolo.
Um deles foi Eliton Deola, que teve um bom início no Palestra Itália e fez parte do elenco que conquistou a Copa do Brasil de 2012, sob o comando de Luiz Felipe Scolari. No entanto, quis o destino que ele, assim como Bruno e Fábio, outros nomes moldados na Academia de Futebol, não tivesse vida longa como titular da meta alviverde.
Descoberto em 1999, em um amistoso com o Atlético Sorocaba, Deola passou quase 16 anos como jogador do Palmeiras, sendo emprestado para diversos clubes neste período. Ao longo de mais de uma década, realizou mais de 100 partidas pelo "Verdão".
Seu vínculo com o time paulistano foi encerrado no ano passado, após passagem pelo Fortaleza por empréstimo. Na virada para 2016, recusou propostas de diversos times para ter "uma folga", algo que estava buscando há tempos, segundo ele mesmo diz.
Atualmente, Deola está sem clube, treinando para manter a forma no time do Sapesp (Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo), e aguardando um novo desafio.
"Estava há 16 anos direto no Palmeiras e precisando de uma folga. Por isso, no começo do ano, recusei algumas propostas e não disputei nenhum Estadual. Agora, treino por conta no Expressão Paulista, que é o time do sindicato, e cuido da parte física desde maio", conta o goleiro de 33 anos, em entrevista ao ESPN.com.br, antes de revelar seus percalços.
"É complicado, porque temos um elenco bem reduzido. Não temos nem 11 jogadores, então é complicado pra fazer um coletivo, por exemplo. Mas tudo o que um jogador precisa fazer em relação à parte física e técnica, academia, eu estou fazendo", relata.
Segundo o arqueiro, ele está no peso ideal e pronto para jogar.
"Se fosse contratado hoje, poderia entrar em campo logo. Estou bem OK. Até surgiram algumas sondagens recentemente, mas, pelo fato de eu estar sem clube, muitos acham que estou parado, gordo e fora de forma, mas não estou", assegura Deola.
"Quem procura jogador agora é quem quer reforço 'pra ontem'. Nesse pensamento eu acabo não sendo opção. Mas estou no meu peso ideal e com tudo favorável", completa.
Os anos de Palmeiras
Deola sempre gostou de jogar como goleiro desde os oito anos. Aos 15, o paranaense foi aprovado em um testo no Atlético Sorocaba e teve sua primeira chance num time profissional.
"Foram dois anos lá. Aí num Campeonato Paulista, eu fui muito bem contra o Palmeiras, uma atuação acima da média. Fomos bombardeados, eu peguei tudo e vencemos por 1 a 0. O Palmeiras gostou e me trouxe para observação pouco depois. Em fevereiro de 2000, fui contratado em definitido", lembra.
Depois disso, o atleta passou muitos anos como 3º goleiro palmeirense, atrás de Marcos e de Diego Cavalieri, seu reserva imediato. Deola costumava ter mais chances no Palmeiras B ou no time de juniores, principalmente quando Cavalieri era convocado pelas seleções de base e ficava ausente do Palestra Itália por alguns dias.
"Fiz uma boa Copa São Paulo em 2003, no ano em que perdemos para o Santo André na final. Antes disso, já tinha ido para alguns campeonatos com o profissional, como a Copa dos Campeões de 2002, na qual fui 3º goleiro. Eu cheguei com 17 anos e treinava no profissional, mas muitas vezes descia para jogar com a base", recorda.
Depois de muitos anos esperando, e passando por empréstimo por Sãocarlense-SP, Matonense-SP, Guarani, Juventus-SP, Grêmio Barueri-SP e Sertãozinho-SP, Deola finalmente fez sua estreia pelo profissional do Palmeiras em 1º de fevereiro de 2009, enquanto "São" Marcos se recuperava de lesão - Cavalieri havia sido negociado com o Liverpool no ano anterior.
"Esperei nove anos para a estreia profissional. Em 2009, após minha filha nascer, foi para o jogo contra a Ponte Preta no Moisés Lucarelli, e ganhamos por 3 a 2. O (atacante) Lenny fez três gols nesse dia, e eu lembro cada detalhe. Lembro que joguei bem, segurei uma blitz da Ponte", conta.
Na sequência, porém, Marcos retornou, e Deola só foi ter novas chances em 2010, quando o "Santo" palestrino se machucou mais uma vez. Na ocasião, o goleiro acabou sendo decisivo para evitar a queda no Brasileirão de 2011, no qual o Palmeiras fez campanha irregular e chegou a ficar ameaçado pelo rebaixamento em alguns momentos, mas se safou.
"Na minha cabeça, fui importante para nosso objetivo em 2011. Muitas vezes a gente levava uma pressão incrível, mas conseguíamos vencer ou segurar um empate. Creio que contribuí, e isso me marcou demais. Fiquei feliz e realizado em ajudar, pois eram anos difíceis para o Palmeiras, e cumpri minha função", celebra o arqueiro.
Em 2012, após a aposentadoria de Marcos, Deola assumiu de vez a meta palmeirense. No entanto, com e eliminação do time palestrino para o Guarani, nas quartas de final do Paulistão, o arqueiro acabou perdendo a posição para o prata-da-casa Bruno, que acabaria sendo o titular na conquista da Copa do Brasil - e, na sequência, no rebaixamento no Brasileirão.
Após ir para a reserva, Deola acabou emprestado ao Vitória, time que acabou reerguendo sua carreira. Em Salvador, virou titular absoluto e capitão da equipe na Série B, ajudando o clube a conquistar o acesso para a elite em 2012. No ano seguinte, sagrou-se campeão baiano, destacando-se no clássico Ba-Vi.
Por conta de uma lesão no punho, porém, desfalcou o time rubro-negro por um bom tempo, e depois retornou ao Palmeiras. Foi emprestado em 2014 ao Atlético Sorocaba para disputar o Paulistão, e na sequência reintegrado no Palestra Itália.
Por conta de uma lesão no punho, porém, desfalcou o time rubro-negro por um bom tempo, e depois retornou ao Palmeiras. Foi emprestado em 2014 ao Atlético Sorocaba para disputar o Paulistão, e na sequência reintegrado no Palestra Itália.
Ganhou chance de ser titular em um empate por 2 a 2 com o Flamengo, no Brasileirão, mas o jogo seguinte encerraria de vez sua passagem pela equipe alviverde: uma goleada por 6 a 0 para o Goiás, no Serra Dourada.
"Acabei ficando marcado pelo seis gols do Goiás, pareceu que a culpa foi toda minha... Aquilo foi uma fatalidade, o time todo foi mal. Mas quem fica marcado, infelizmente, é o goleiro, que busca a bola na rede", lamenta.
Na sequência, foi emprestado ao Fortaleza, time que defendeu até seu vínculo com o Palmeiras ser encerrado. Agora, ele aguarda um novo clube para jogar em breve.
A pressão de substituir Marcos e a paciência com Prass
Segundo Deola, a pressão de substituir Marcos, um dos maiores ídolos da história do Palmeiras, muitas vezes é demais sobre os garotos revelados na base palestrina, caso de Bruno e Fábio, que também não conseguiram se firmar no gol palmeirense.
"A gente nunca falava que éramos os sucessores do Marcos, porque sabemos que é difícil chegar aos pés dele. Eu tinha uma responsabilidade muito grande de estar no lugar do Marcos, e poderia evoluir para ser um grande goleiro, respeitado... Pense no caso do Marcos: quando ele começou, não era assim, pois ele cresceu pouco a pouco. A gente não ia conseguir ser ídolo logo no primeiro ano. Precisávamos de mais tempo", argumenta Deola.
O paranaense reclama que em diversas oportunidades era considerado o culpado por sofrer gols que, em sua visão, eram indefensáveis.
"Falhar é normal, todo ser humano falha, eu fui bem muitas vezes, falhei em outras. Só que muitas vezes eu tomava um gol na gaveta e falavam: 'Foi falha do Deola'. Nós que éramos da base sofremos muito com isso. Todo gol que eu tomava precisava ficar explicando, e a coisa não é assim. Tem chute que não tem o que fazer", afirma o ex-palmeirense.
"Mentalmente, isso afetava muito. Eu falava que estava tranquilo, mas mentalmente isso me afetava muito, a cabeça ficava fragilizada. Eu não tinha essa cobrança absurda antes, porque era o reserva do Marcos, mas depois tudo mudou tudo, e não tinha mais o Marcos para quebrar um pouco a responsabilidade. Quando ele jogava, sempre ia me defender, mas, depois que não estava mais no clube, a cobrança passou a ser muito mais acintosa, e nós perdemos o cara que sempre foi um defensor nosso", salienta.
Deola cita o exemplo de Fernando Prass, hoje o maior ídolo do Palmeiras, que foi contratado do Vasco em dezembro de 2012. Para o ex-jogador palestrino, a torcida teve muito mais paciência com o gaúcho do que com os pratas-da-casa.
"O prata-da-casa é sempre visto como salvador da pátria, até porque o clube investe muitos anos para formar o jogador. Quando um cara é contratado, sempre tem o discurso de que precisa dar tempo para se adaptar. Essa é a grande diferença", ressalta.
"Isso aconteceu com o Prass. Quando ele chegou, fez alguns jogos que se fosse um de nós da base no lugar dele, seríamos muito criticados. Mas ele teve o tempo dele, a torcida foi paciente e hoje ele é um grande goleiro, que merece estar na seleção brasileira. Com essa paciência, ele ganhou uma confiança gigantesca e fez por merecer virar ídolo do Palmeiras. Mas foi porque ele foi contratado e teve esse tempo", diz.
Apesar dos altos e baixos, Deola diz guardar apenas lembranças boas do Palmeiras, time que ele chama de "casa". Afinal de contas, passou quase metade de vida no Palestra Itália.
"Eu tenho 33 anos e passei 16 no Palmeiras, ou seja, metade da minha vida foi lá. Só tenho lembranças boas, e tudo o que eu fiz foi pensando em ajudar o clube, nunca atrapalhar. Pelo contrário: muitas vezes briguei e discuti porque via diretor fazendo coisa errada ou empresário querendo ter privilégios", conta.
"Briguei com muita gente, sempre pelo clube. Sempre vi o Palmeiras como minha casa e minha família. Devo tudo o que tenho ao Palmeiras, que abriu as portas para mim quando eu era apenas um garoto do Atlético Sorocaba. Tenho todo o carinho do mundo por esse time, e sempre vou ter, sendo jogador da equipe ou de outro clube", finaliza.
Varjota Esportes - Ce. / MSN.
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