Supremacia? Técnicos argentinos dominam mata-mata na Copa América Cinco das oito seleções das quartas têm comando 'hermano'. "Aqui, acham que o treinador está obsoleto. Reflete lá fora", diz Joel Santana sobre ausência de brasileiros


Gerardo Martino, técnico da Argentina (Foto: EFE)
Martino assumiu a Argentina após a Copa do Mundo de 2014, no lugar de Sabella (Foto: EFE)
Enquanto Dunga é o único técnico brasileiro da Copa América, a Argentina domina o cenário à beira do gramado: cinco das oito seleções classificadas para as quartas de final contam com um "hermano" no banco: a própria Argentina (Gerardo Martino), o anfitrião Chile (Jorge Sampaoli), o Paraguai (Ramon Diaz) - próximo rival do Brasil -, a Colômbia (José Pékerman) e o Peru (Ricardo Gareca, ex-Palmeiras).
Das 12 equipes que começaram o torneio, seis tinham um argentino no comando: o Equador de Gustavo Quinteros caiu na primeira fase. Na última Copa América, em 2011, foram cinco treinadores do país de Lionel Messi, com três chegando ao mata-mata - o campeão foi o Uruguai, do uruguaio Oscar Tabaréz.
Esses números são um reflexo de como a escola de treinadores argentinos vem sendo valorizada abaixo da linha do Equador. Mas qual fator vem sendo determinante para esse domínio: língua, superioridade tática, tempo de trabalho? Por que os brasileiros não conseguem espaço nas seleções vizinhas? 


Jorge Sampaoli - Chile - Copa América (Foto: Reuters)
Após sucesso em clubes do Chile, Sampaoli ganhou o cargo na seleção anfitriã da Copa América (Foto: Reuters)


Para Joel Santana, campeão brasileiro com o Vasco em 2000 e dono de dez títulos estaduais  - além de passagens por clubes japoneses, do Oriente Médio e seleção sul-africana -, o maior problema está no idioma. O espanhol é falado em quase todos os países da América do Sul, com exceção do Brasil e das antigas colônias inglesas, francesas e holandesas, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, respectivamente - seleções que disputam campeonatos da Concacaf.

Gareca peru (Foto: Reuters)Sem brilho no Palmeiras, Gareca foi contratado pela seleção peruana (Foto: Reuters)
- Nessa competição especificamente aconteceu essa supremacia, e eu acho que até na região ela vem acontecendo por conta da língua. Os técnicos no Brasil são muito chacoalhados também. Tudo aqui é culpa do treinador. Somos vencedores. São cinco Copas do Mundo. O jeito deles de jogar é o mesmo que o nosso. Não muda muita coisa. Só a filosofia. Aqui acham que o treinador está obsoleto, em baixa, isso reflete lá fora - disse Joel.

Com passagem pelo comando das seleções do Brasil, Iraque e Kuwait, Evaristo de Macedo também é da opinião de que a língua é determinante para essa supremacia argentina. O campeão brasileiro no comando do Bahia em 1988 é enfático em relação ao tema.
- Idioma. É simples. Todos eles falam espanhol e se fazem entender muito bem. Até o Brasil agora está importando. Você leva um brasileiro lá para fora e eles não entendem o português. Os técnicos daqui vão para outros mercados, como Japão e mundo árabe. Estamos em uma entre safra. Os novos técnicos têm dificuldade de se adaptar à política dos clubes daqui e os técnicos mais antigos estão aposentados. Paraguai e Peru já tiveram técnicos brasileiros. Hoje, os clubes não tem mais paciência. Ninguém quer esperar, são imediatistas - afirmou o ex-jogador de Flamengo, Barcelona e Real Madrid.
Os treinadores brasileiros também já estiveram presentes no mercado sul-americano. Paulo Autuori e Paulo César Carpegiani estiveram à frente de Peru e Paraguai, respectivamente, por exemplo. O primeiro comandou a seleção peruana entre 2003 e 2005. Autuori esteve presente na Copa América sediada pelo próprio país, em 2004. Já Carpegiani, foi técnico da seleção paraguaia na edição de 1997 e na Copa do Mundo de 1998.

Ramon Diaz técnico Paraguai x Uruguai (Foto: EFE)
Ídolo do River Plate, Ramon Diaz comandará o Paraguai contra o Brasil no próximo sábado (Foto: EFE) 

Os hermanos nas quartas de final

Na atual vice-campeã do mundo, Gerardo Martino assumiu depois da Copa, após a saída de Alejandro Sabella e de ter sido demitido do Barcelona. Antes, havia comandado a seleção paraguaia entre 2006 e 2011 - incluindo o Mundial de 2010. No Paraguai, o técnico também foi tetracampeão nacional com três títulos pelo Libertad e um no Cerro Porteño.
Jorge Sampaoli também fez sua fama em um país que faz fronteira com a Argentina, o Chile. No comando da La Roja desde 2012, o ex-técnico foi campeão da Copa Sul-Americana com o Universidad de Chile, vencendo também duas vezes o Apertura e uma o Clausura.
A Colômbia tem José Pékermann, que construiu sua carreira nas divisões de base e principal da seleção argentina e em clubes do México, como Toluca e Tigres. Quando comandava a "albiceleste" sub-20, o treinador conquistou três mundiais (1995, 1997 e 2001) revelando gerações de grandes jogadores, dentre eles Sorín, Pablo Aimar, Cambiasso, Riquelme, Saviola e D’Alessandro.
Ex-atacante do River Plate, Ramon Diaz é quem comanda o Paraguai. O técnico ficou a maior parte de sua carreira na Argentina, onde foi seis vezes campeão nacional, a última em 2014, com o San Lorenzo. 

O último dos técnicos argentinos nas quartas de final da Copa América é o único que teve passagem pelo Brasil. Gareca comandou o Palmeiras no ano passado e não durou muito tempo. Está no comando da seleção peruana desde janeiro deste ano.

*Lucas de Freitas, estagiário, sob supervisão de Thiago Dias 


Jose Pekerman - Colombia x Peru - Copa América (Foto: EFE)
Com experiência de sobra na Argentina, Pékerman tenta levar a Colômbia ao título na Copa América (Foto: EFE) 



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