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"Um outro Iraque.” Esta é a expressão mais ouvida por Zico e a comissão técnica da seleção nacional nestes quatro dias conversando com moradores de Bagdá e, principalmente, de Erbil, cidade que melhor simboliza o esforço nacional para apagar a imagem ruim deixada pelo ex-ditador Saddam Hussein e a consequente fama de zona de perigo em função do terrorismo. Um novo capítulo dessa luta tem a ver com a chegada do Galinho: a federação sonha com a realização de um amistoso com o Brasil, na capital, para mostrar ao mundo o "outro Iraque".
Atualmente, o país convive com o receio de várias nações em manter relações comerciais e percebeu que o futebol pode reaproximá-lo do resto do mundo. Os novos dirigentes da Federação Iraquiana, que assumiram há cerca de três meses, receberam o apoio do governo e de empresários para demonstrar dentro do campo de futebol um novo modelo de administração política. E o ex-zagueiro Sharar Haydar, de 43 anos, um dos três vice-presidentes da entidade, é a face visível dessa nova era.
- Vivemos uma democracia muito recente. Temos desigualdades sociais em função de tudo o que sofremos, mas o índice de analfabetismo é baixo, e temos ótimas universidades. Nosso povo é alegre e adora o futebol. Estamos vivendo um período de crescimento, precisamos que o mundo saiba disso e retire o embargo ao nosso país – explicou com desenvoltura em inglês aprendido no período de exílio forçado em Londres.
Sharar teve que deixar o país por ter sido o primeiro jogador a desafiar o regime de Saddam Hussein acusando o filho do ditador, Udai, que presidiu a Federação Iraquiana de Futebol, de práticas de tortura e humilhação na década de 1990. Um passado que o incomoda e que ele resume como “parte da história”. Como dirigente, desde 2007 ele preside o Karkh Sports Club e ainda atua na área de comunicação social. E o porta-voz da nova geração iraquiana dá mais detalhes sobre a expressão “um outro Iraque” quando entram Zico e o Brasil na história.
- Nós trouxemos Zico porque ele é um dos melhores e nós gostamos do futebol brasileiro. Sabemos o que ele fez no Japão. Precisamos melhorar a qualidade de nossos atletas para obter resultados e chamar a atenção do mundo. Queremos buscar, com a ajuda de Zico, profissionais brasileiros para todas as divisões de base. E o nosso sonho é um grande jogo entre Brasil e Iraque, em Bagdá, que coloque a nossa capital novamente no mapa do futebol recebendo de volta o respeito internacional – explicou.
Falta de segurança? Dirigente compara Iraque ao Brasil
A Fifa só autorizou a cidade de Erbil, da região autônoma do Curdistão, para jogos internacionais. Na próxima quinta-feira, o Iraque estreia nas eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo de 2014 contra a Jordânia no estádio Franso Hariri, modesto e com capacidade para apenas 20 mil torcedores. A razão para a entidade máxima não permitir jogos em Bagdá seria a falta de segurança, o que Sharar rechaça como um zagueiro clássico.
- Temos problemas isolados no Iraque e em Bagdá. Mas onde não há problemas? Do Brasil temos a imagem de um país com muitos mafiosos e conflitos urbanos, e talvez me sentisse inseguro lá. Mas isso é fruto do que é divulgado pela mídia. Sei que o Brasil, no entanto, é um dos
países mais belos do mundo. É injusto carregar essa imagem. Erbil, por exemplo, tem índice praticamente zero de criminalidade, não há terrorismo, contamos com centros comerciais desenvolvidos, e a cidade está crescendo muito em lazer e turismo. Pouca gente sabe. Queremos que o mundo todo saiba disso – enfatizou.
países mais belos do mundo. É injusto carregar essa imagem. Erbil, por exemplo, tem índice praticamente zero de criminalidade, não há terrorismo, contamos com centros comerciais desenvolvidos, e a cidade está crescendo muito em lazer e turismo. Pouca gente sabe. Queremos que o mundo todo saiba disso – enfatizou.
Apesar do entusiasmo com a chegada de Zico e do preparador físico Moraci Santana - que ainda terão o auxílio técnico de Edu Coimbra, treinador do Iraque na fase final das eliminatórias para a Copa de 1986 –, Sharar Haydar tem os pés no chão ao avaliar a seleção nacional.
- Até bem pouco tempo nossos jogadores eram amadores. Muitos estão jogando fora do país, mas alguns atuam aqui e há uma grande diferença de mentalidade. Falta aos nossos jogadores o domínio de fundamentos. Sei que sou um dos líderes desse processo de mudanças na Federação e estou confiante que os resultados virão – completou.
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