Achei! Aos 41 anos, Renaldo contraria previsão de médico do Cruzeiro Perto de fim de carreira, ex-atacante do Atlético-MG e carrasco cruzeirense tenta a sorte no Vilavelhense, do Espírito Santo

  De volta ao ano de 1996. Renaldo, então ídolo máximo no Atlético-MG, recebe uma proposta para jogar no arquirrival Cruzeiro. Ele titubeou no início, mas aceitou negociar a possível transferência. Na primeira conversa com o clube mineiro, tudo certo. O jogador, então, foi submetido aos exames médicos de praxe. No resultado, um diagnóstico inesperado: o médico do clube detectou uma anomalia no pé de Renaldo e chegou a dizer que o atacante só jogaria até os 28 anos.
O valor final oferecido na negociação acabou não agradando Renaldo. O presidente do Galo cobriu a proposta, e o atacante continuou no Atlético-MG. Quiseram os deuses do futebol que, algumas semanas depois, houvesse o clássico de maior rivalidade do futebol mineiro no Campeonato Brasileiro de 1996. O Atlético-MG venceu o Cruzeiro por 1 a 0 com um gol de Renaldo, de pênalti. Mordido com o diagnóstico, o atacante não perdoou e provocou o médico na comemoração.
 - Saí correndo em direção ao banco do Cruzeiro e comemorei mostrando o meu pé para o médico e para os membros da comissão técnica. Que previsão, né? Estou com 41 anos e ainda em atividade - relembrou.
Pois é. Distante do clima que cerca mais um Galo x Raposa, neste domingo, em Minas, pelo Campeonato Braisleiro, o incansável Renaldo ainda joga futebol profissionalmente, contrariando a desastrosa previsão do médico cruzeirense. O centroavante está no Vilavelhense, equipe de Vila Velha, cidade da Região Metropolitana do Espírito Santo, onde disputa a Copa ES desde o dia 20 de agosto.
O Vila é o 20º time da carreira do jogador, que já teve passagem por Corinthians, Palmeiras, Atlético-PR, Coritiba, FC Seoul (Coreia do Sul), além de Atlético-MG e Deportivo La Coruña, entre outros. Na Seleção Brasileira, foram oito convocações pelo então técnico Zagallo, em 1996, mas só jogou 45 minutos do jogo contra Camarões, e não marcou nenhum gol.
Renaldo, atacante do Vilavelhense (Foto: Guido Nunes/Globoesporte.com)'Quando ia bater pênalti, os caras chegavam furando buraco. E eu dizia que podia furar que comigo não tinha conversa, eu colocava na rede', disse o falastrão Renaldo (Foto: Guido Nunes/Globoesporte.com)
Auge nos anos 1990
A década de 1990 foi marcante na carreira de Renaldo, e não é para menos. O atacante foi artilheiro do Campeonato Brasileiro em 1996, com 16 gols, pelo Atlético-MG; e ajudou na conquista do Campeonato Mineiro de 1995 sobre o rival Cruzeiro. Após um jejum de seis anos; foi transferido para o Deportivo La Coruña, da Espanha, onde jogou ao lado de Rivaldo e Mauro Silva; e chegou à Seleção Brasileira.
- No meu pensamento já era para ter parado, mas enquanto tiver condição física de jogar eu vou jogando. Tem muito moleque jovem que quer aprender comigo, isso acaba me motivando também. Nunca fiquei parado nesse tempo todo. Eu faço o que mais amo, que é jogar futebol. Mas tem uma coisa também: só jogo em time que o técnico é meu amigo - disse.
O polêmico carrasco do Cruzeiro
Renaldo é daqueles jogadores que, hoje em dia, estão em extinção: é polêmico e foge do discurso robotizado e excessivamente humilde da maioria dos atletas. Foi assim durante os anos em que jogou no Atlético-MG. Por lá, conquistou títulos e fez o gol que considera ser o mais importante da carreira.
 Na final do Campeonato Mineiro de 1995, o atacante recebeu a bola na entrada da área, partiu em velocidade, deixando o zagueiro para trás, deu um corte no goleiro Dida e tocou de esquerda para o fundo do gol (assista no vídeo ao lado).
- O Atlético-MG estava há seis anos sem ganhar um título e fiz logo dois gols. O mais marcante foi o primeiro. Uma arrancada que me consagrou ídolo da torcida. Essa é a lembrança que eu nunca esqueço, até porque os atleticanos também não me deixam esquecer e sempre me recordam no Twitter - recordou Renaldo.
No dia seguinte da final do Mineiro de 1995, o atacante disse que provocou os cruzeirenses.
- Sempre falava com os torcedores do Cruzeiro: "Esse é o goleiro que vocês tanto falam? Meto gol nele todo jogo." De brincadeira, claro, com todo o respeito ao Dida. Mas em Minas Gerais é uma rivalidade muito forte, e eu, como o carrasco dos cruzeirenses, não deixava tirarem onda comigo porque em todo clássico eu fazia gol - disse o nada modesto atacante.
Renaldo no Atlético-MG em 1996 (Foto: Gazeta Press)No Galo, Renaldo viveu sua fase áurea. Aqui, o time de 1996: Taffarel, Alcir, Ademir, Rogério Pinheiro e Paulo Roberto. Agachados: Fábio Augusto., Renaldo, Euller, Doriva, Gutemberg e Moacir  (Foto: Gazeta Press)
O especialista em pênaltis
Renaldo ostenta e faz questão de frisar, sem falsa modéstia, que é o melhor batedor de pênaltis da história do futebol brasileiro. Segundo ele, em mais de 20 anos de carreira, foram apenas duas cobranças desperdiçadas.
O curioso é que os dois pênaltis perdidos foram no mesmo jogo. Em 2005, o atacante defendia o Paraná Clube e tinha pela frente o goleiro Edson Bastos, então goleiro do Figueirense. Nas duas cobranças, a bola parou nas mãos de Bastos. O clube paranaense, no entanto, venceu a partida por 3 a 0.
- O Edson Bastos diz que foi o único goleiro que fez Renaldo chorar. Isso também é exagero. Em 19 anos, eu perdi dois pênaltis. Foram minhas grandes frustrações. Mas em 2003 eu bati 14 pênaltis e converti todos. Vai ver se é fácil fazer isso com goleiros como Rogério Ceni e Fábio.
 O assunto pênalti é tão importante para Renaldo que ele não poderia deixar de comentar a eliminação do Brasil na Copa América após a Seleção perder as quatro cobranças nas quartas de final contra o Paraguai. O atacante disse que a desculpa de areia na marca do pênalti para ele não cola.
- Quando ia bater pênalti, os caras chegavam furando buraco. E eu dizia que podia furar que comigo não tinha conversa, eu colocava na rede. Quando o cara está focado e com confiança, não adianta. Pênalti não é loteria, pênalti é competência. Nunca vi tanta falta de qualidade e de confiança nos jogadores da nossa Seleção - disparou Renaldo.
 Nos treinos, o 'especialista' em pênaltis diz que provocava os goleiros e chegava a apostar R$ 100 se algum deles pegasse uma cobrança.
- Eu apostava 100 reais para quem pegasse um pênalti meu. Nunca perdi nem um real. Só erro se não for valendo. Falou que está valendo eu não erro. Sempre olho para o goleiro. Se ele se mexer, é mais facil ainda. Se não se mexer, meto na costura. Pode ter 100 metros de altura que não pega. Ainda falava para os goleiros: 'Vou bater na direita, pode ir.' Ainda assim não pegavam - disse o provocativo atacante.
O artilheiro
No ano de 1996, Renaldo entrou para a história do futebol nacional ao se sagrar artilheiro do Campeonato Brasileiro com 16 gols, junto com Paulo Nunes. A marca rendeu o convite ao Deportivo La Coruña, da Espanha, onde jogou com Rivaldo, Mauro Silva e Flávio Conceição.
Renaldo no Paraná Clube (Foto: Gazeta Press)No Paraná. Renaldo foi vice-artilheiro do Brasileiro
2003, um gol atrás de Dimba  (Foto: Gazeta Press)
Mas uma vice-artilharia também não sai da memória do atacante, principalmente pelas circunstâncias. Foi no ano de 2003, quando jogava pelo Paraná Clube. Renaldo terminou o campeonato com a expressiva marca de 30 gols, um a menos que o artilheiro da competição, Dimba, do Goiás.
- Foi o ano que passei mais raiva na minha vida. Podia ter perdido para qualquer outro: Romário, Túlio, mas para o Dimba, pô? Aí é sacanagem, com todo o respeito. Não vou nem dizer que sou mais jogador que ele, porque a minha história já fala por mim - relembrou, aos risos.
Bizarrices na Coreia do Sul
Foi na Coréia do Sul que Renaldo teve, digamos, a mais pitoresca (para não dizer bizarra) experiência no mundo do futebol. Ele era o único brasileiro na equipe do FC Seoul. Após o treino, era comum os jogadores irem para uma espécie de spa com sauna e piscinas de água quente e gelada. O detalhe é que, diferentemente do Brasil, todos ficam pelados.
- No Brasil também tem esse lance de sauna, mas todo mundo fica de sunga. Lá, era pelado. Os caras queriam ver minhas partes íntimas. Acho que porque eles tinham o 'bilau' pequeno, a expectativa era ver o tamanho do dos brasileiros. Um deles virou para mim e disse: 'Renaldo, estão te chamando, mas tem que ir pelado.'
O 'convite' deixou o jogador um pouco desconcertado, mas, como era o único jogador brasileiro, não quis fazer desfeita.
- Eu disse que nem conhecia os caras e já iam me ver pelado. Estava todo mundo lá me esperando. Se eu fosse uma miss tudo bem, mas um 'neguinho' feinho como eu... Fiquei meio cismado, mas tinha que ir. Quando entrei, fui ovacionado. Os caras fizeram um 'uuuhhh' coletivo. Uma situação bizarra e envergonhante. Olhava para o dos caras e, no frio, era ainda menor - contou às gargalhadas.
Cornetada em Túlio Maravilha
Os 450 gols marcados na carreira são motivo de orgulho para Renaldo, que diz não ter a pretensão de alcançar a marca histórica de Pelé e de Romário, de mil gols marcados enquanto jogadores de futebol. Nas entrelinhas, ele alfinetou o atacante Túlio Maravilha, que segue em busca do milésimo gol.
 - Não quero ser fanfarrão e dizer que fiz mil gols, mas marquei 200 em pelada, como alguns por aí vêm fazendo. Eu acho que esses 450 foram em jogos válidos, amistosos e jogos importantes para mim. Não quero me comparar à marca de Pelé porque ele é o número 1. Eu vou nos meus 450 e espero no chegar à marca de 500 aqui no Vilavelhense. Seria marca que poucos fizeram.
Perfil
Baiano de Cotegipe, Renaldo se mudou para Brasília aos seis anos de idade, onde foi criado. O atacante disse que o melhor parceiro no ataque foi Euller, no Atlético-MG. Entre os treinadores, o atacante destacou Vanderlei Luxemburgo como o melhor taticamente. Renaldo não quis falar o pior, mas confessou que teve muitos parceiros pernas de pau.
Renaldo tem contrato com o Vilavelhense até o fim do ano, mas pensa em prorrogar até o ano que vem para a disputa do Campeonato Capixaba de 2012, caso consiga um bom desempenho na Copa ES.
A intenção do atacante é encerrar a carreira com a camisa do Atlético-MG em um jogo de despedida. A data, vai depender do quanto a saúde de Renaldo aguentar.              


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