Da paixão pelo basquete ao comprometimento com o atletismo, Joaquim Cruz construiu sua trajetória até, há 30 anos, entrar para a história do esporte brasileiro. Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984, o atleta nascido em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, ganhou notoriedade mundial ao desbancar grandes rivais e conquistar a medalha de ouro nos 800m, aos 21 anos de idade. Foi a primeira (e única) vitória de um brasileiro numa prova de pista do atletismo em Olimpíadas, algo que o próprio Joaquim lembra com carinho e emoção.
Até chegar ao balizamento final dos 800m em Los Angeles, Joaquim enfrentou muitos desafios na vida. Para ajudar a família, teve diversas profissões, de caçador de rã a vendedor de ovo. Na escola praticava basquete, mas foi indicado pelo amigo Carlos Vanderlei para fazer atletismo no colégio. Primeiro lidando com o esporte a contragosto, foi convencido pelo técnico Luiz Alberto a priorizar a corrida e logo se destacou. Foi morar em Eugene, templo do atletismo mundial, contemplado com uma bolsa de estudos na Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, e se tornou campeão mundial juvenil aos 17 anos.
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- O que o Luiz previu foi a rapidez de (no atletismo) eu conseguir vestir as cores do Brasil. Numa competição em São Paulo, eu consegui fazer parte da equipe que ia para o Sul-Americano. Numa outra competição, eu consegui vestir as cores do Brasil e consegui ganhar três medalhas de ouro. Sem essa estrutura eu jamais teria conseguido seguir a minha carreira - contou Joaquim, em entrevista ao Esporte Espetacular.
Luiz Alberto viajou junto com Joaquim para os Estados Unidos e foi duramente criticado pela atitude de ir treinar fora, considerada ousada na época. O argumento é que lá encontrariam condições melhores para o treinamento e a filosofia de trabalho desejada pelo treinador.
Joaquim Cruz foi o melhor em todas as vezes que correu os 800m em Los Angeles (Foto: Arquivo)
- Nós não tínhamos nada para fazer aqui! Não tinha pista boa, não tinha escola que deixasse o cara estudar e treinar. O lugar era os Estados Unidos - explicou Luiz.
Fato é que, em 1981, Joaquim já havia quebrado o recorde mundial juvenil dos 800m. Um ano antes das Olimpíadas, foi bronze no Mundial. Em Los Angeles, liderou todas as três eliminatórias que disputou antes da final olímpica. Então adotou uma estratégia para enfrentar nomes como o britânico Sebastian Coe (presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres 2012) e o americano Earl Jones, que terminaram a prova em segundo (1m43s64) e terceiro (1m43s83) lugares, respectivamente. Faturou o ouro nos metros finais, com 1m43s00, e foi ovacionado pela torcida no Los Angeles Memorial Coliseum, estádio sede das Olimpíadas.
- O meu trabalho foi vigiar inconscientemente o Sebastian Coe e me preparar emocionalmente para o que ia acontecer no finalzinho. Nos últimos 80 metros, eu senti um arrepio enorme no corpo - relembrou Joaquim, que correu com sapatilhas adaptadas, já que a perna direita era dois centímetros mais curta que a esquerda, resultado de uma fratura que ele teve aos cinco anos de idade.
O resultado da final em Los Angeles 1984 serviu para Coe ter certeza de algo que ele já começava a observar anos antes. Recordista mundial dos 800m naquela época com o tempo de 1m41s73, o britânico enalteceu a conquista de Joaquim nos Jogos Olímpicos.
- Quando ele passou a última curva, ele estava mais forte. Ele ganhou com estilo, foi o vencedor de direito naquele dia. Eu lembro de ter dito a ele em 1981: "Você vai ser muito bom". E infelizmente eu estava certo. Joaquim mostrou que, no mais alto nível, o atleta brasileiro, no seu melhor dia, pode ser melhor que qualquer outro.
Luiz Alberto, por cujas mãos também passaram nomes como Zequinha Barbosa (prata nos 800m no Mundial de 1991 e 4º lugar em Barcelona 1992) e Agberto Guimarães (4º lugar nos 800m em Moscou 1980), comemora até hoje o ouro de Joaquim como a maior emoção da carreira.
- Em 1983 ele já estava bem conhecido, por causa da idade, por causa dos resultados, por causa da precocidade. Ele surpreendia muita gente por causa da qualidade dele como atleta. Foi uma das coisas mais maravilhosas que aconteceram na minha carreira. Depois tive outras alegrias, mas não foram como essa. Para mim foi uma realização como treinador aquela conquista.
Joaquim Cruz faz parte de um seleto grupo de medalhistas de ouro do Brasil em Jogos Olímpicos. Além dele, os únicos do atletismo a subirem no lugar mais alto do pódio em Olimpíadas foram Adhemar Ferreira da Silva (salto triplo), em Helsinque 1952 e em Melbourne 1956, e Maurren Maggi (salto em distância), em Pequim 2008.
Joaquim atualmente mora em San Diego, na Califórnia, e trabalha na orientação de atletas militares e olímpicos dos Estados Unidos.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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