Aos 14 anos, Marquinhos já tem bastante história para contar. Também pudera. Filho do zagueiro
Índio, multicampeão pelo Inter, desde pequeno convive no meio do futebol. Lilian, esposa do jogador e mãe do menino, conta que a primeira palavra que ele aprendeu foi "bola". O primeiro presente? Uma bola. Ainda criança, aproveitava os momentos de fim de treino do pai para jogar com atletas colorados, entre eles o ídolo D'Alessandro. Agora, já faz parte das categorias de base do clube. Vive a rotina de treinamentos, jogos, campeonatos, cobranças. Na última semana, assinou o primeiro vínculo. Foi surpresa. Momento de orgulho que a família - que se completa com Gabriela, de 11 anos, outra filha do casal - guarda como uma conquista. Apenas uma de muitas que esperam participar.
Índio bate bola com Marquinhos no condomínio onde moram em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes/GloboEsporte.com)
O GloboEsporte.com visitou Lilian, Índio e Marquinhos na semana passada. Conheceu um pouco da história da família e principalmente do futuro jogador profissional, que se inspira em nada menos que Cristiano Ronaldo e James Rodríguez, craques do Real Madrid. É meia-atacante, e segundo os pais corujas, faz muitos gols. Enquanto dá os primeiros passos, o menino conta, com brilho nos olhos, a emoção que sentiu no momento da assinatura.
- Eu estava no treino e meu coordenador falou que eu tinha que subir lá (na sala dele) depois. Aí ele disse que eu precisava assinar uns papeis, e era para eu levar para casa para meus pais assinarem. Cheguei em casa, abri o documento, e estava escrito "contrato do atleta" - lembra, interrompido pela mãe:
- Ele me ligou e disse mãe, mãe, mãe! Eles querem assinar, mãe! - diz Lilian, cheia de orgulho. - Estávamos levando mais como uma brincadeira. Deixamos ele à vontade e não cobramos nada do clube. Mas como ele estava sendo muito bem aproveitado e vinha se destacando, o clube se interessou em regularizar - completa.
Esse primeiro vínculo de Marquinhos com o Inter é chamado de bolsa para formação do atleta, e vai até 2017. No ano que vem, ele passa a receber um auxílio, que servirá como um primeiro salário. É o pontapé inicial para a carreira de jogador profissional com a qual ele sonha.
O desejo de Marquinhos, como o de muitos meninos que começam a jogar futebol, é atuar fora do país. De preferência na Europa. O clube preferido do filho de Índio é o Real Madrid, da Espanha. E ele sonha, um dia, alcançar o nível dos ídolos da equipe madrilenha.
- Espero um dia ser igual a eles. Eu vejo jogos, jogo vídeo game e já criei até meu personagem no Real Madrid - revela.
Marquinhos brinca com a bola durante entrevista (Foto: Tatiana Lopes/GloboEsporte.com)
Mas a realidade dele, por enquanto, é Porto Alegre. Acompanha os jogos do Inter e admira, além do pai, o capitão D'Alessandro. Na base do clube há três anos, ainda que tenha começado a ganhar mais oportunidades em 2014, tenta reproduzir no campo as características dos jogadores estrangeiros que gosta de assistir. Mas também cria sua própria identidade.
- Sou um cara que gosta de driblar, fazer gol. Jogo pelo lado esquerdo do campo, gosto de puxar para o meio e chutar para o gol - define Marquinhos, que costuma ouvir as orientações do técnico e colocar em prática. - Às vezes, quando eu faço alguma coisa, ele me diz para melhorar. Aí eu vou lá e treino um pouco mais. É assim - diz.
Sou um cara que gosta de driblar, fazer gol. Jogo pelo lado esquerdo do campo, gosto de puxar para
o meio e chutar para o gol
Marquinhos
Quando recebeu a reportagem, Marquinhos recém havia chegado do treino, na cidade de Alvorada, Região Metropolitana. É lá que a categoria dele, sub-14, trabalha. Sorridente, vestia camiseta, bermuda e uma sandália. Mesmo cansado da rotina de aula pela manhã e treinamento à tarde, desceu do apartamento localizado em um luxuoso condomínio na zona norte de Porto Alegre com uma bola em mãos. Na quadra onde a entrevista e as imagens foram feitas, entre uma frase e outra, pausa para bater uma bolinha. Descalço mesmo, sozinho ou com o pai.
Depois, encontrou amigos em outra quadra de futebol. Não deu outra: juntou-se a eles para uma partida. A mãe, Lilian, diz que é sempre assim. E a correria do dia a dia, que já é de uma vida de adulto, não incomoda Marquinhos.
- Se é o que eu quero, o que eu gosto, isso faz parte - pontua.
MÃE E PAI: FÃS E CONSELHEIROS
Marquinhos posa com a camiseta que usou no dia das homenagens ao pai, antes do jogo com o Peñarol, na reabertura do Beira-Rio (Foto: Tatiana Lopes)
Pais, torcedores e fãs. Assim são Índio e Lilian. Os dois também participaram da entrevista e falaram sobre o orgulho que sentem de Marquinhos. E também da filha Gabriela, que preferiu ficar em casa. Diferente do irmão e do pai, ela não foi para o lado do futebol, e sim para a dança, segundo a mãe.
Em diversos momentos da conversa, Lilian fazia questão de ressaltar que a educação vem em primeiro lugar. Marquinhos só é autorizado a faltar alguma aula para ir a treino ou jogo, em horários que coincidem, se ele estiver bem no colégio. Atualmente, é elogiado.
- Tem dias que tem treinos de manhã e de tarde também. Aí como ele está bem na escola, vamos jogando, de repente falta um dia ou outro, para poder participar. Mas o principal é o estudo - frisa a mãe. - Queremos que ele continue estudando. Ele tem uma cobrança grande, até pelo pai que tem, que conquistou tudo que conquistou, mas a primeira coisa é o estudo - completa.
Quem deu a primeira chuteira para ele ainda foi meu pai. Ele era bem pequeno, tinha uns três aninhos de idade. A ponta da chuteira ficou toda gasta, de tanto jogar!
Lilian, mãe
Índio, com toda a experiência que tem no futebol, aproveita para aconselhar o filho.
- A gente conversa. Eu digo que muitas vezes vão falar que ele é meu filho... Mas ele mesmo se cobra bastante para estar sempre bem - comenta. - Vejo muita vontade nele, ele chega do colégio e já quer ir para o treino. Isso é um orgulho, e ele também é obediente.
A palavra que resume o sentimento dos pais ao assistirem a treinos ou jogos é nervosismo. Lilian revela que Índio é daqueles torcedores que não param de falar, incentivar, cobrar. Que certa vez até levou bronca de Marquinhos. Pediu para
o pai pegar mais leve, pois já estava "pagando mico".
- E como mãe é pior. Agora eu entendo porque a mãe do Índio ficava tão nervosa nos jogos dele - diz Lilian. - É medo de machucar, a preocupação é maior.
Chuteira que Marquinhos ganhou aos três anos teve o bico danificado, de tanto ele chutar (Arquivo Pessoal)
O amor do filho pelo esporte é inegável. E por isso os país fazem questão de contribuir com o que for necessário para que ele conquiste o sonho.
- A primeira palavra dele foi bola, o primeiro presente (foi uma bola). E olha que o Índio é bem tranquilo. Quem deu a primeira chuteira para ele ainda foi meu pai. Ele era bem pequeno, tinha uns três aninhos de idade. A ponta da chuteira ficou toda gasta, de tanto jogar! - lembra Lilian.
O futuro recente, no entanto, é incerto. A família decidirá o que será melhor para todos ao fim do ano. Isso porque o contrato de Índio com o Inter
se encerra em dezembro. O jogador ainda não sabe se irá se aposentar, se continuará jogando, ou se fará outra atividade. Nada foi definido. Ao menos não ao ponto de ser divulgado. Lilian tem uma clínica estética em Assis, interior de São Paulo, onde também vivem parentes do casal. Uma visita para matar a saudade, é um dos objetivos. Certo é que, aconteça o que acontecer, Marquinhos continuará jogando futebol.
COM A PALAVRA, O COORDENADOR E O TÉCNICO
Coordenador da categoria de Marquinhos, Felipe Kssesinski diz que o menino chamou atenção da comissão técnica há três anos pela desenvoltura apresentada quando jogava com o pai e outros jogadores do Inter após um treino no Beira-Rio. O técnico, Matheus Costa, diz que desde o primeiro momento viu potencial. Ele define Marquinhos como um atleta "muito talentoso".
- É um jogador ofensivo, tem excelente drible, controle de bola e projeção. Acreditamos nele - destaca Matheus. - Tem posicionamento de área muito interessante para a idade dele. Tem uma leitura de jogo que surpreende - acrescenta Felipe.
O primeiro título que Marquinhos conquistou com o grupo sub-14 foi o turno do Campeonato Gaúcho, em agosto. Segundo o coordenador, em todos os jogos que ele entrou, fez gols. Motivo de vibração para a mãe.
- Ele fez quatro gols em três jogos, dois gols em um jogo só - conta Lilian, empolgada.
Marquinhos no título do primeiro turno do Gauchão da categoria. (Foto: Mirela Putrich/Divulgação)
O Índio tem a história ele pelo clube. E o Marquinhos está no clube pelo talento que ele tem. De repente o Índio ajuda pelo perfil de atleta. Mas ele está aqui hoje pela qualidade
Matheus Costa, técnico
As presenças de Marquinhos ficaram mais frequentes nos treinos neste ano. Só não consegue comparecer ao trabalho todas as segundas em razão das aulas em dois turnos na escola. Os jogos ocorrem aos sábados e domingos. Com participação mais efetiva, conseguiu ganhar espaço maior. O único ponto que precisa evoluir, no momento, é a "maturação", como explicam o coordenador e o treinador do meia-atacante.
- Ele vem se soltando aos pouquinhos. Ainda é frágil, é menor em relação aos colegas, o que não o faz ter um rendimento limitado, ele é inteligente - comenta Felipe.
O crescimento de Marquinhos dentro do grupo, conforme os dois profissionais, não tem nenhuma relação com o fato de ele ser filho de Índio. Assim como os pais do menino, técnico e coordenador não ligam o nome dele ao do zagueiro do Inter para não misturar as coisas.
- É uma coisa que eu sempre falo para ele. O Índio tem a história dele pelo clube. E o Marquinhos está no clube pelo talento que ele tem. De repente o Índio ajuda pelo perfil de atleta. Mas ele está aqui hoje pela qualidade - ressalta Matheus.
- Os meninos têm um respeito muito grande pelo Índio, não misturam isso, são todos amigos - acrescenta Felipe.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.