Lembra Dele? Elivélton se livra da gagueira e chuta a fama de pé-quente Com títulos por São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro na década de 1990, ex-jogador hoje tem escolinha e virou cidadão honorário em cidade de Minas Gerais

Elivélton é dono de uma escolinha de futebol em Alfenas, MG (Foto: Tiago Campos)Elivélton é dono de uma escolinha de futebol em Alfenas, MG (Foto: Tiago Campos)
Elivélton Alves Rufino definitivamente não é um daqueles jogadores que passam por um time sem deixar uma marca. Alguns podem até se lembrar do ex-atacante por causa de uma notória gagueira (hoje, coisa do passado), mas as principais recordações ficam por conta dos títulos conquistados. Levantou um Mundial, duas Libertadores e alguns estaduais em passagens por São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Cruzeiro, entre outros clubes. Por isso ficou com fama de pé-quente, apesar de não gostar.
- Não me considero um amuleto, mas acredito na perseverança. Ganhei oportunidades e não tive medo de ser feliz. Acredito que fui preparado para as situações que vivi. Sorte é meter a cara e ver no que dá. Competência é você fazer bem o que tem que ser feito.
Hoje, Elivélton mora em Alfenas, no Sul de Minas, onde é dono de uma escolinha de futebol e de uma academia que levam seu nome. Apesar do local ter sido inaugurado há dez anos, o ex-jogador toca o centro esportivo ao lado da esposa Josélia e dos três filhos - Stefani, Emily e Gabriel - há apenas dois anos. No último dia 29 de agosto, Elivélton foi homenageado e recebeu uma placa de cidadão honorário de Alfenas.
Elivélton toca a escolinha e a academia ao lado da esposa Josélia (Foto: Tiago Campos)Elivélton toca a escolinha e a academia ao lado da esposa Josélia. (Foto: Tiago Campos)

- A cidade me acolheu e tive muito reconhecimento aqui. É um carinho enorme com a minha família e eu fiquei muito feliz por receber a homenagem de cidadão honorário. Hoje estou feliz por fazer parte de Alfenas.
Elivélton venceu a gagueira e hoje faz palestras na igreja (Foto: Arquivo Pessoal)Elivélton venceu a gagueira e hoje faz palestras na igreja (Foto: Arquivo Pessoal)
Foi justamente na cidade mineira que Elivélton venceu uma grande dificuldade: a gagueira. O ex-jogador foi convidado a participar de um programa em uma rádio evangélica ao lado da esposa, no qual pregaria para os ouvintes. Confiante, ignorou a dificuldade na fluência da fala e viu no convite a oportunidade perfeita para combater de frente o problema.
- Não fiz trabalho nem tratamento, apenas enfrentei a situação. Não podia me esconder atrás desse problema e pensei que só venceria enfrentando. Surgiu então a oportunidade de apresentar um programa na rádio junto com a minha esposa e pensei que seria bom para perder a timidez. Isso me ajudou bastante, e apresentei o programa todos os sábados durante quase três anos. Hoje não apresento mais, mas faço palestras de 30 minutos na igreja - contou o ex-atacante.
Com o mérito de quem driblou o problema, ele deixa uma dica para quem sofre com a gagueira.
 
(Ouça ao lado a entrevista de Elivélton. Sem gaguejar, o ex-jogador manda recado de otimismo para a torcida do Palmeiras)
- A dica é que não pode querer falar muito. Tem que encurtar as frases e não querer estendê-las. Sempre procuro ser o mais simples possível e falar palavras com as quais estou acostumado. Se eu inventar palavra eu gaguejo. Tem que ser o mais "feijão com arroz" possível.
O trabalho com a igreja não afastou o ex-jogador dos campos. Elivélton agora tenta formar novos talentos. Com turmas em dois horários diários em sua escolinha de futebol, o "professor" vive uma nova experiência ao lado dos alunos, com idades a partir dos 7 anos. Para ele, a convivência com os jovens tem sido um ótimo aprendizado para a vida.
- Acho que todo jogador pensa em ter uma escolinha de futebol. Os alunos estão aqui para aprender, mas na verdade sou eu que aprendo mais com eles. Às vezes eles retrucam, mas são crianças fantásticas, educadas e que dão orgulho para a gente. Apesar de ser o treinador, mostro que não sou mais do que eles e que podem confiar em mim.
Trajetória vitoriosa
O futebol sempre fez parte da vida de Elivélton. As peladas, no começo, eram disputadas em campinhos na fazenda. Mas graças ao bom futebol, logo estariam em palcos bem maiores.
- Nasci em Serrania (MG), e, com meus pais e mais seis irmãos, trabalhava em uma fazenda de cana de açúcar. Passamos dificuldades, mas meu pai é muito trabalhador. Alguns times da região ouviram boatos de que tinha um menino muito bom de bola na fazenda. Meu pai acreditava em mim e pediu dinheiro emprestado para eu fazer os testes. Em 1989, olheiros do Esportivo de Passos gostaram do meu futebol e eu fiquei 10 meses lá. Foi quando o São Paulo me conheceu e me contratou - relembrou.
Foi justamente no Tricolor que ele começou a trilhar um caminho de conquistas. Em 1992, fez parte da equipe que venceu a primeira Libertadores do clube e, posteriormente, o Mundial. O ex-atacante lembra de todos os detalhes das comemorações.
- O título da Libertadores de 1992 e o Mundial foram uma loucura. Nunca tinha visto coisa igual. Mesmo no banco, a final da Libertadores foi uma explosão de otimismo. Foi muito empolgante e com certeza marcou a carreira de todos ali. Depois, as comemorações pelas ruas de São Paulo foram demais, a torcida... uma loucura mesmo!
Com o nome na história do São Paulo, Elivélton partiu para outros desafios. Corinthians e Palmeiras estavam em seu futuro. O momento mais marcante no Timão foi justamente contra o rival, na final do Paulistão de 1995. A rivalidade era intensa, marcada por grandes jogos. O Alviverde vinha dos títulos brasileiros de 1993 e 1994 e levava vantagem sobre o Corinthians em momentos decisivos, mas não naquela final. O jogo estava 1 a 1, já na prorrogação, quando Elivélton, que saiu do banco, marcou o gol do título. Segundo o ex-jogador, ele sabia que ia balançar as redes naquele dia.
- O Corinthians vinha de uma certa freguesia para o rival em finais de competições, e a pressão era muito grande em cima da gente. A torcida já havia avisado que, se a gente perdesse, ia quebrar tudo. O primeiro jogo havia terminado 1 a 1, e começamos perdendo na segunda partida. O Marcelinho Carioca conseguiu igualar o placar no segundo tempo. Eu estava no banco de reservas e comentei com o Tupãzinho: "Vou entrar e marcar o gol do título." Ele me respondeu: "E eu que vou dar o passe." E foi exatamente o que aconteceu, na prorrogação. Eu sabia que ia marcar, tanto que entrei no jogo usando duas camisas.
Na temporada seguinte, Elivélton repetia no Palmeiras o sucesso que teve no rival. Mesmo reserva de uma equipe que tinha Rivaldo e Djalminha, o ex-jogador achou espaço para brilhar. A equipe ficou conhecida como o "Ataque dos 100 gols" e levou o Campeonato Paulista.
- Tive o prazer de jogar ao lado de grandes craques, como Rivaldo e Djalminha. Fiz parte do time do "Ataque dos 100 gols", como ficou conhecido no Paulista de 1996. Eu era banco, mas era o 12º jogador do Luxemburgo. Sempre falo para os outros que eu nunca marquei tanto gol em um time sendo reserva. 
Em 1997, nova mudança de ares. O destino desta vez foi Belo Horizonte. Nesta temporada, Elivélton voltou a vencer a Libertadores, agora pelo Cruzeiro. O título surgiu contra o Sporting Cristal, do Peru. Vitória por 1 a 0, gol dele. 

- O gol foi marcante. Aos 30 minutos do segundo tempo. Marcar o gol do título da competição mais cobiçada da América do Sul foi o máximo. A comemoração com a torcida e meus amigos de clube, aquele abraço carinhoso de cada um deles... Sem dúvida, tudo isso ficou gravado no meu coração de forma especial. Fazer parte da história de conquista do clube mais importante de Minas Gerais foi maravilhoso. 
Já nos anos 2000, Elivélton vestiu a camisa da Ponte Preta em um período difícil para a equipe de Campinas. Já haviam se passado 15 anos sem uma vitória sequer contra o principal rival, o Guarani. Elivélton confirmou a fama de talismã em uma partida que ficou marcada na história do clássico.
- Foi em 2002, a pressão era muito grande, tinha até pedra voando. Para piorar, saímos perdendo por 2 a 0 e eu já pensei: "Mais um Derby sem vencer." Mas aí nos superamos e conseguimos uma grande virada por 4 a 2. Fizemos muita festa depois no vestiário, estouramos até champanhe.
A carreira teve ainda passagens pelo Nagoya Grampus, do Japão, Vitória-BA, Internacional, São Caetano, Bahia, Uberlândia, Vitória-ES, União de Rondonópolis, Alfenense e Francana, onde encerrou a carreira em 2009. Elivélton se orgulha ainda da passagem pela Seleção Brasileira, entre 1991 e 1993, quando disputou a Copa América. 
Ao olhar para trás, o ex-jogador se diz muito agradecido por tudo o que viveu. Para ele, fazer parte da história de grandes equipes não tem preço. 
- Eu me sinto honrado e orgulhoso de ter saído de uma fazenda e conseguido mostrar meu talento em grandes clubes e na Seleção. Ter construído este currículo é uma satisfação."
Elivélton trabalha em seu escritório junto com a esposa Josélia (Foto: Tiago Campos)Elivélton trabalha em seu escritório junto com a esposa Josélia. (Foto: Tiago Campos) 
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