Trio de Ferro paulista sofre no 2º turno e emperra no Campeonato Brasileiro Com campanhas iguais na segunda metade da competição, São Paulo e Corinthians veem vaga na Libertadores sob risco, e Palmeiras não consegue escapar da degola

O Trio de Ferro paulista enferrujou. Se no Palmeiras os sinais de oxidação são claros e preocupantes desde o início do Campeonato Brasileiro, as aspirações de Corinthians e São Paulo, que passaram todo o primeiro turno como candidatos a destronar o Cruzeiro, começaram a ser corroídas no começo desta segunda metade do torneio. Os maus resultados, que mantêm o alviverde na zona de rebaixamento, agora também afastam os rivais da capital da luta pela taça e ameaçam a participação do estado na próxima Copa Libertadores.
Cada um, porém, tem seus próprios problemas para se preocupar. E, para que tenham algo a comemorar no fim da competição, é preciso resolvê-los com rapidez. Em seis jogos no returno, as três equipes têm campanhas idênticas: sete pontos, com duas vitórias, um empate e três derrotas – no mesmo período, Internacional e Atlético-MG somaram 13 pontos e mudaram suas ambições: o primeiro agora sonha com o título, o segundo entrou, finalmente, no G-4.
SÃO PAULO: CRISE DENTRO E FORA DE CAMPO
A derrocada são-paulina começou, ironicamente, no momento em que a equipe mais se aproximou da primeira colocação. Após bater o Cruzeiro por 2 a 0 em casa, na 21ª rodada, diminuiu para apenas quatro pontos a vantagem mineira na ponta. No dia seguinte, o presidente Carlos Miguel Aidar concretizou a crise que se anunciava ao demitir o ex-mandatário tricolor Juvenal Juvêncio do cargo que ocupava no comando da base do clube.
O técnico Muricy Ramalho prometeu proteger o elenco das polêmicas de bastidores, mas a sequência de tropeços deixa dúvidas sobre a eficácia dessa blindagem. A partir de então, o São Paulo perdeu três vezes – Coritiba, Corinthians e Fluminense – e empatou com o Flamengo. Se tivesse levado os 12 pontos, deixaria o Morumbi, no último sábado, um ponto à frente do Cruzeiro.
conca são paulo x fluminense (Foto: Marcos Ribolli)Rogério vê a bola passar em gol do Flu, na última rodada: São Paulo não vence há quatro jogos .(Foto: Marcos Ribolli)

O celebrado quarteto ofensivo, com Kaká, Ganso, Alan Kardec e Pato, esfriou. Mas a defesa tem participação mais objetiva nessa fase ruim: foram 11 gols sofridos nessas quatro partidas, um terço de todos as bolas que balançaram a rede da equipe em todo o torneio – apenas Figueirense, Palmeiras e Vitórias têm desempenho pior até aqui.
 – Quando faz os gols, a defesa ajuda. Quando toma, é só a defesa. Somos um time. Temos de valorizar, principalmente quando ficamos invictos. Quem sofre os gols é o time todo, não só a defesa. Tem que recuperar o time como um todo – disse Milton Cruz, que substitui Muricy no banco desde a semana passada, quando o titular sofreu uma arritmia cardíaca.
 Somos um time. Quem sofre os gols é o time todo, não só a defesa. Tem que recuperar o time como um todo
Milton Cruz
Na terceira posição, com 43 pontos, o elenco já não alimenta mais a esperança de um sétimo título brasileiro.
– Além de estarmos muito atrás do Cruzeiro, cada vez tem menos jogos – afirmou Luis Fabiano, que elevou o clima do elenco ao reclamar de ser reserva após a derrota para o Flu.
No sábado, a equipe viaja para enfrentar o Grêmio. Os gaúchos têm a mesma pontuação e podem tirar o Tricolor do G-4 pela primeira desde a 15ª rodada. Antes, entretanto, o São Paulo inicia a disputa das oitavas de final da Copa Sul-Americana, terça, contra o Huachipato, do Chile, no Morumbi.
CORINTHIANS: UM VISITANTE INOFENSIVO
Por rodadas, receber o Corinthians em casa era um tormento para os anfitriões. A equipe de Mano Menezes sempre trazia ao menos um ponto de suas viagens pelo Brasileiro. Foi só na 17ª partida que o alvinegro perdeu um jogo como visitante, para o Grêmio, por 2 a 1. Foi, também, a última vez que anotou um gol longe da Arena de Itaquera.
Neste segundo turno, o time do Parque São Jorge foi derrotado nas três vezes que deixou São Paulo – mais do que em toda a primeira metade do torneio, quando perdeu só dois jogos. O ataque passou em branco contra o Flamengo, Figueirense e Atlético-PR, todos em posições inferiores na tabela, em derrotas sempre por 1 a 0.
Além da seca de gols, há outro padrão negativo nessa sequência de reveses corintianos: o baixo número de finalizações. Foram apenas seis em Florianópolis e Curitiba e só cinco no Rio de Janeiro. Quando mandante, a produção ofensiva da equipe é bem superior. Em seus domínios, o Corinthians costuma incomodar mais os goleiros rivais – foram 13 chutes a gol contra a Chapecoense, 12 no clássico com o São Paulo e 10 na meta do Atlético-MG.
cleo Atlético-PR x Corinthians (Foto: Getty Images)Contra o Atlético-PR, Corinthians completou quatro partidas sem marcar gols fora de casa.  (Foto: Getty Images)

– Penso que o Corinthians jogou melhor que o Atlético-PR. Controlou todo o jogo. O torcedor (curitibano) estava vaiando a equipe porque o Corinthians estava taticamente muito melhor, mas com o seu defeito: concluindo pouco. É isso que, como time, temos de corrigir. Quando se joga melhor, como jogamos, você tem de criar oportunidades – analisou o treinador.
Sobrou não só para os atacantes, mas também para os homens de meio-campo, que, segundo Mano, construíram poucas oportunidades paras os companheiros.
Corinthians estava taticamente muito melhor (contra o Atlético-PR), mas com o seu defeito: concluindo pouco. É isso que, como time, temos de corrigir.
Mano Menezes
– Só criando e concluindo bem que podemos chegar a marcação do nosso gol. Esse jogo é completamente diferente do de quarta-feira passada (contra o Figueirense). Jogamos bem como equipe hoje (domingo). O que nos faltou mesmo foi a criação com mais qualidade, e a definição dessa criação, traduzindo em chances de gol.
O desempenho recente tirou o Corinthians da zona de classificação para a Libertadores, onde era frequentador assíduo desde a oitava rodada. Estacionado nos 40 pontos, viu Atlético-MG, Grêmio e Fluminense o ultrapassarem e, na sétima colocação, já convive com a sombra de Santos e Sport, quatro pontos abaixo.
Na próxima rodada, sábado, conta com seu principal trunfo, a Arena, para retomar o caminho do G-4 exatamente contra os pernambucanos. Depois, porém, a tabela reserva uma preocupação para a torcida alvinegra: o time fará três partidas longe de São Paulo contra Cruzeiro, Botafogo e Internacional. A possibilidade de terminar o Brasileiro abaixo da quarta posição faz o técnico Mano Menezes tratar o confronto com o Atlético-MG, pelas quartas da Copa do Brasil, como uma “final”. O jogo de ida é nesta quarta, às 22h, em Itaquera.
PALMEIRAS: REAÇÃO, APESAR DOS PESARES
O Palmeiras é o 17º colocado, dentro da zona de rebaixamento do Brasileiro e, nas últimas três rodadas, foi goleado pelo Goiás (6 a 0) e perdeu de virada para o Figueirense (3 a 1). A frieza dos números, entretanto, mostra uma pequena reação alviverde no torneio. Nos seis primeiros jogos do segundo turno, a equipe anotou mais pontos do que nas seis partidas anteriores. Mas ainda pouco: os sete pontos (contra quatro da parte final do primeiro turno) não foram suficientes para livrar o alviverde da degola.
As duas vitórias alviverdes a partir da 20ª rodada deram um pouco de oxigênio ao time, mas não servem para projetar um futuro muito melhor. Os jogadores de Dorival Júnior só conseguiram bater, até aqui, rivais que ocupam posições abaixo na tabela, o Criciúma (1 a 0) e o Vitória (2 a 0). Como está no limite dos que caem, resta ao Palmeiras enfrentar apenas o Coritiba entre os que estão piores classificados.
Lucio gol Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli)Lúcio comemora gol contra o Vitória, mas reação discreta ainda não tirou Palmeiras do Z-4.  (Foto: Marcos Ribolli)


Para evitar o desânimo de seus comandados, o técnico tem utilizado discursos positivos e motivação para tentar tirar o clube do que pode ser seu terceiro rebaixamento desde 2002.
– Jamais vou desanimar dentro da minha profissão. Você exerce uma função e, se chegar desanimado, é natural que teu grupo vai se sentir da mesma forma. Não existe isso. Estamos trabalhando muito e o Palmeiras vai sair dessa situação. Se continuarmos trabalhando dessa forma, fatalmente iremos encontrar nosso caminho – disse Dorival depois do último jogo.
 Jamais vou desanimar dentro da minha profissão. Estamos trabalhando muito e o Palmeiras vai sair dessa situação.
Dorival Júnior
Para os que preferem ver o copo meio cheio, a parte de baixo da tabela do Brasileiro é um alento. A ameaça de degola ronda ao menos 11 clubes – só sete pontos separam o Palmeiras do Figueirense, 12º colocado (32 a 25) – e os paulistas ainda farão confrontos diretos com boa parte deles.
O primeiro é já nesta quinta-feira, no Pacaembu, quando enfrenta a Chapecoense. A equipe de Santa Catarina tem 28 pontos, mas um triunfo palmeirense tira o clube do Z-4 por causa do primeiro critério de desempate, o número de vitórias. Seria um alívio, ainda que insuficiente para abandonar a calculadora tão cedo. 


                 Varjota   Esportes - Ce.           /              Globoesporte.

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