Antes de brilhar no mar do Havaí e conquistar de forma fantástica o seu primeiro título mundial, Adriano de Souza precisou enfrentar uma batalha fora da água que o deixava com medo e o impedia de trabalhar com tranquilidade. E foi justamente neste ano, o da sua consagração, que Mineirinho deixou claro que, após dez temporadas, ele finalmente está em casa no paraíso do surfe. Ao ficar hospedado por 40 dias na casa do surfista Jamie O´Brien, astro havaiano, e demonstrar que doma as pesadas ondas de Pipeline, ele passou a ser muito respeitado na ilha e encontrou a tranquilidade necessária para deslanchar nas ondas pesadas do pico e trilhar seu caminho fantástico rumo ao caneco do prestigiado Pipe Masters.
Os havaianos não costumam dar moleza para os estrangeiros treinarem nas principais ondas do North Shore, em Oahu, onde fica a onda de Pipeline. O fenômeno chamado localismo é uma tradição em vários picos do mundo. Porém, no Havaí, os locais usam muitas vezes a violência para impedir que os visitantes curtam as ondas, sejam eles atletas da elite ou meros turistas. Em 2009, Mineirinho sentiu isso na pele ao ser ameaçado por Dustin Barca, ex-membro do Circuito Mundial. Na ocasião, ele teve que contratar um segurança e ser escoltado diariamente durante aquela temporada havaiana. A partir de então, Adriano decidiu que iria encontrar uma forma para se enturmar com os moradores da meca do surfe, era uma questão primordial para que ele pudesse sonhar com o topo do mundo, geralmente definido nos tubos de Pipe.
+ Confira como ficou o ranking mundial no fim da temporada- Eu conquistei esse respeito na base da humildade, na tranquilidade. O Havaí é complicado, é um lugar que você precisa ganhar respeito com calma e força de vontade. O Jamie abriu as portas para mim e fui conquistando os locais aos poucos. Isso foi muito importante para eu ficar mais focado e fazer o meu melhor para ser campeão. Não foi fácil - comentou Minerinho, na sexta-feira, dia seguinte ao grande feito da sua carreira.
Adriano admite que a apreensão com o que poderia acontecer durante os treinos e na areia atrapalhavam o seu desempenho na etapa de Pipeline. Nas sua oito participações anteriores no evento em dez temporadas no Tour – ficou fora por lesão no ano passado –, o mais novo campeão mundial tinha como melhor resultado um modesto nono lugar. Agora, tudo mudou.
Sunny Garcia é um dos locais mais polêmicos do North Shore havaiano (Foto: David Abramvezt)
- É difícil se concentrar no mar com problemas na areia. Mas o que aconteceu comigo (em 2009) até que foi uma coisa pequena. O cara que eu tive confronto não é do North Shore, ele era de outra ilha, mas era chato nos campeonatos que ele estava e aqui em qualquer lugar no Havaí. Mas depois tudo se resolveu e as coisas foram melhorando.
Mineirinho não é o único brasileiro vítima de problemas no Havaí. Em 2007, Sunny Garcia, campeão mundial em 2000, se envolveu em uma confusão com Neco Padaratz e deu um soco no catarinense durante a Tríplice Coroa Havaiana. Na ocasião, Neco estava com a prioridade na escolha de ondas e sofreu uma interferência do rival. A discussão continuou na areia e só parou com a chegada da polícia. Este foi apenas um dos casos. Peterson Rosa, Almir e Picuruta Salazar também tiveram contratempos na temporada havaiana na década de 1980. Paulo Moura levou um tapa do filho de Fast Eddie, um dos mais temidos locais, depois de disputar uma onda com Makua Rothman.
Com o problema fora do mar superado, Adriano pôde se concentrar em outra tarefa complicada em Pipeline: surfar com maestria os pesados e perigosos tubos do pico. Um descuido pode gerar um grave acidente, já que o fundo do mar é de corais.
- A onda de Pipe é temida, porque se você cair de mal jeito, você pode ficar sem poder praticar o esporte e até morrer. Diversas pessoas já morreram. Por isso, a onda é tão temida e ao mesmo tempo tão querida. É importante saber escolher as ondas e surfar com boa técnica, por isso é tão importante treinar o máximo possível aqui.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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