Aos 30 anos, Rafael Sobis encontrou no México seu oásis. Em sua primeira temporada no Tigres, o atacante foi vice-campeão da Libertadores e conquistou no Campeonato Mexicano, no último dia 14. De férias por dez dias, o jogador aproveitou para visitar o Brasil, rever a família no Rio de Janeiro e treinar na praia. Mas já está com saudades de Monterrey, cidade onde vive.
Os clubes brasileiros que sonham com a contratação de Sobis, podem mudar de planos. O atacante, que tem mais dois anos de contrato com o Tigres, nem considera a chance de deixar o clube.
- Pelo que vivi em um ano, pelo que sinto das pessoas, diria que é menos de zero. É menos 10, menos 20. Se eles quisessem que eu assinasse por mais dois anos, assinaria hoje, sem nenhum problema - disse o atleta, que, separado há dois anos, mora sozinho em Monterrey.
Na entrevista ao GloboEsporte.com, Rafael Sobis relembrou a relação que construiu com os clubes brasileiros que defendeu. Sobre o Fluminense, equipe que mais defendeu, o atacante disse que mantém contato com muita gente nas Laranjeiras e lembrou de uma visita que fez no meio do ano. Sobre o Inter, onde começou e foi mais vitorioso, ele confessa que houve um abalo. Tudo por causa da hostilidade de alguns colorados durante o duelo entre Tigres e Inter, no Beira-Rio, na semifinal da Libertadores.
- Se o Inter quisesse, eu poderia estar lá até hoje. Essa é uma grande verdade. Mas são coisas da vida, e assim acontece. Se enfrentar novamente, serei o mais profissional possível.
Rafael Sobis não se vê fora do Tigres (Foto: Fred Huber)
Sem fugir de polêmicas, Sobis também comentou sobre o momento político e econômico do Brasil, além dos recentes acontecimentos que envolvem a Fifa, CBF e outras confederações ao redor do mundo.
- No futebol há muita briga de poder, de ego, porque tem muito dinheiro envolvido. Muitas vezes um time não ganha no campo e as pessoas não imaginam o que está se passando por trás. Futebol é um lugar muito sujo, mas pouco a pouco está se limpando.
No dia 28, Sobis já reinicia os treinamentos com o Tigres e começa a disputa do Campeonato Mexicano no dia 8 de janeiro. No dia 24 de fevereiro, sua equipe duela com o Red Salt Lake, dos Estados Unidos, pelas quartas de final da Liga dos Campeões da Concacaf, a competição mais importante para os mexicanos porque classifica para o Mundial de Clubes da Fifa.
Confira a entrevista completa:
GloboEsporte.com: Segundo lugar na Libertadores, campeão mexicano... qual avaliação você faz da sua primeira temporada no Tigres?
Rafael Sobis: Foi uma das três melhores da minha carreira, foi tudo maravilhoso, muito além das expectativas. Conseguimos fazer com que o Tigres fosse conhecido no nosso mercado aqui e até em nível mundial, que era uma das intenções do clube. A Libertadores foi muito boa para nós nesse sentido. Chegamos na final e fomos campeões mexicanos.
- No futebol há muita briga de poder, de ego, porque tem muito dinheiro envolvido. Muitas vezes um time não ganha no campo e as pessoas não imaginam o que está se passando por trás. Futebol é um lugar muito sujo, mas pouco a pouco está se limpando.
No dia 28, Sobis já reinicia os treinamentos com o Tigres e começa a disputa do Campeonato Mexicano no dia 8 de janeiro. No dia 24 de fevereiro, sua equipe duela com o Red Salt Lake, dos Estados Unidos, pelas quartas de final da Liga dos Campeões da Concacaf, a competição mais importante para os mexicanos porque classifica para o Mundial de Clubes da Fifa.
Confira a entrevista completa:
GloboEsporte.com: Segundo lugar na Libertadores, campeão mexicano... qual avaliação você faz da sua primeira temporada no Tigres?
Rafael Sobis: Foi uma das três melhores da minha carreira, foi tudo maravilhoso, muito além das expectativas. Conseguimos fazer com que o Tigres fosse conhecido no nosso mercado aqui e até em nível mundial, que era uma das intenções do clube. A Libertadores foi muito boa para nós nesse sentido. Chegamos na final e fomos campeões mexicanos.
Sobis abraça D'Alessandro no duelo entre Internacional e Tigres, pela semi da Libertadores (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Quando você se mudou para o México imaginou que ia ter tanto sucesso em tão pouco tempo?
Quando você muda de país, tem sonhos. Mas daí a virar realidade ou chegar perto disso é uma distância grande. Eu pensava em ser feliz. Me informei bem sobre como era o futebol lá, que é organizado, tem grandes times e torcidas apaixonadas. Mas jamais imaginava... eu sonhava conquistar o Campeonato Mexicano, mas não chegar na Libertadores tão bem e tão longe. Mas não foi por acaso que chegamos.
Quando você deixou o Brasil, imaginava jogar em um estádio Azteca ou Jalisco lotado?
A torcida do Tigres coloca 42 mil todo jogo, e tem fila de espera para mais 15 mil. Existe um projeto para um estádio de 60 mil, e acho que vão lotar todos os jogos. É uma loucura. No Azteca cabem, 100 mil, 110 mil... Aí você vê alguns espaços vazios, mas tem 80 mil pessoas no estádio. No Jalisco, a mesma coisa. Outros times, como o Querétaro, tem estádios bons, para 20 mil pessoas. Tudo lotado, como tem que ser. É uma liga muito boa, muito legal.
Você faz sucesso lá, o Juninho (zagueiro) está no seu time, o Ronaldinho passou por lá... mas ainda falta os brasileiros descobrirem em massa o México como uma boa opção?
Não falta brasileiro em nenhuma liga do mundo. Quando você chega, acha brasileiros que nem imaginava, alguns que nem jogaram aqui. O meu treinador no Tigres fez toda a carreira lá, está há 40 anos no país. Brasileiro é "bicho ruim", dá em todo lugar (risos). O Ronaldinho foi bom porque talvez tenha feito abrir os olhos de muita gente, e, provavelmente, essa tenha sido a intenção do clube. Foi bom para o México. Fez com que imprensa olhasse e descobrisse alguns personagens lá que talvez nem lembrassem mais. Mas posso dizer que é um mercado bom e que vai aumentar. Eles estão vindo fortes e serão grandes concorrentes com os times brasileiros para contratar e roubar uns jogadores daqui.
Como manter esse nível de sucesso na próxima temporada?
Precisamos manter a ambição. A direção, o clube em geral... e isso está acontecendo. Estão contratando bem, se reforçando para ter muitos jogadores e não deixar cair o nível. Estamos nas quartas de final da Champions da Concacaf e tomara que a gente consiga chegar no Mundial no fim do ano. Seria a primeira vez para o Tigres. Para os times mexicanos, a maior ambição é sempre a Concacaf, que leva ao Mundial e faz ser visto por todos. A Libertadores foi ótima, e isso também abriu os olhos de que pode ser uma grande opção, porque muito mais gente vê do que a própria "Conca Champions". Os times mexicanos já estão pensando diferente sobre a Libertadores.
Como é sua vida fora do trabalho lá? Seus filhos ficaram no Brasil, né?
Eu moro sozinho. Estou solteiro, me separei há dois anos. Parece que nasci lá, tenho muita facilidade de me adaptar. O México é muito parecido com o Brasil em muitos aspectos, nos problemas e nas coisas boas. O clube é bom, fui bem recebido. Monterrey é uma cidade maravilhosa, uma das melhores do México.
Quando você muda de país, tem sonhos. Mas daí a virar realidade ou chegar perto disso é uma distância grande. Eu pensava em ser feliz. Me informei bem sobre como era o futebol lá, que é organizado, tem grandes times e torcidas apaixonadas. Mas jamais imaginava... eu sonhava conquistar o Campeonato Mexicano, mas não chegar na Libertadores tão bem e tão longe. Mas não foi por acaso que chegamos.
Quando você deixou o Brasil, imaginava jogar em um estádio Azteca ou Jalisco lotado?
A torcida do Tigres coloca 42 mil todo jogo, e tem fila de espera para mais 15 mil. Existe um projeto para um estádio de 60 mil, e acho que vão lotar todos os jogos. É uma loucura. No Azteca cabem, 100 mil, 110 mil... Aí você vê alguns espaços vazios, mas tem 80 mil pessoas no estádio. No Jalisco, a mesma coisa. Outros times, como o Querétaro, tem estádios bons, para 20 mil pessoas. Tudo lotado, como tem que ser. É uma liga muito boa, muito legal.
Você faz sucesso lá, o Juninho (zagueiro) está no seu time, o Ronaldinho passou por lá... mas ainda falta os brasileiros descobrirem em massa o México como uma boa opção?
Não falta brasileiro em nenhuma liga do mundo. Quando você chega, acha brasileiros que nem imaginava, alguns que nem jogaram aqui. O meu treinador no Tigres fez toda a carreira lá, está há 40 anos no país. Brasileiro é "bicho ruim", dá em todo lugar (risos). O Ronaldinho foi bom porque talvez tenha feito abrir os olhos de muita gente, e, provavelmente, essa tenha sido a intenção do clube. Foi bom para o México. Fez com que imprensa olhasse e descobrisse alguns personagens lá que talvez nem lembrassem mais. Mas posso dizer que é um mercado bom e que vai aumentar. Eles estão vindo fortes e serão grandes concorrentes com os times brasileiros para contratar e roubar uns jogadores daqui.
Como manter esse nível de sucesso na próxima temporada?
Precisamos manter a ambição. A direção, o clube em geral... e isso está acontecendo. Estão contratando bem, se reforçando para ter muitos jogadores e não deixar cair o nível. Estamos nas quartas de final da Champions da Concacaf e tomara que a gente consiga chegar no Mundial no fim do ano. Seria a primeira vez para o Tigres. Para os times mexicanos, a maior ambição é sempre a Concacaf, que leva ao Mundial e faz ser visto por todos. A Libertadores foi ótima, e isso também abriu os olhos de que pode ser uma grande opção, porque muito mais gente vê do que a própria "Conca Champions". Os times mexicanos já estão pensando diferente sobre a Libertadores.
Como é sua vida fora do trabalho lá? Seus filhos ficaram no Brasil, né?
Eu moro sozinho. Estou solteiro, me separei há dois anos. Parece que nasci lá, tenho muita facilidade de me adaptar. O México é muito parecido com o Brasil em muitos aspectos, nos problemas e nas coisas boas. O clube é bom, fui bem recebido. Monterrey é uma cidade maravilhosa, uma das melhores do México.
Monterrey está mais para Erechim, onde você nasceu, Porto Alegre ou Rio de Janeiro?
Porto Alegre, porque faz calor e faz frio. Não é um frio absurdo, nessa época faz uns 5ºC, 7ºC... Até o povo, de um modo geral, é parecido com o de Porto Alegre.
Como está sendo este período curto de férias? Tem treinado diariamente na praia, no Rio?
Tenho que manter, né. Ainda mais quando o cara vai ficando velho (risos). Eu não consigo ficar sem treinar. Seu eu não treinar, é porque eu não tive tempo. Eu sou meio hiperativo e isso é bom para mim. As férias são curtas, servem mais para viajar e ver os filhos, matar a saudade, fugir um pouco do friozinho. Ganhamos um pouco mais de dias porque fomos campeões, mas já tenho que voltar. Dia 28 já tem treino e dia 8 começa o Campeonato Mexicano. Não para.
Está fácil treinar na praia com 40ºC?
Fácil. Na praia é fácil. O que deixa ainda mais fácil é porque não tenho compromisso, estou ali porque eu quero. Quando é obrigação é mais complicado.
Você ainda tem mais dois anos de contrato com o Tigres e parece muito satisfeito. Alguma coisa te faria sair de lá agora?
Hoje é zero. Pelo que vivi em um ano, pelo que sinto das pessoas, diria que é menos de zero. É menos 10, menos 20.
Porto Alegre, porque faz calor e faz frio. Não é um frio absurdo, nessa época faz uns 5ºC, 7ºC... Até o povo, de um modo geral, é parecido com o de Porto Alegre.
Como está sendo este período curto de férias? Tem treinado diariamente na praia, no Rio?
Tenho que manter, né. Ainda mais quando o cara vai ficando velho (risos). Eu não consigo ficar sem treinar. Seu eu não treinar, é porque eu não tive tempo. Eu sou meio hiperativo e isso é bom para mim. As férias são curtas, servem mais para viajar e ver os filhos, matar a saudade, fugir um pouco do friozinho. Ganhamos um pouco mais de dias porque fomos campeões, mas já tenho que voltar. Dia 28 já tem treino e dia 8 começa o Campeonato Mexicano. Não para.
Está fácil treinar na praia com 40ºC?
Fácil. Na praia é fácil. O que deixa ainda mais fácil é porque não tenho compromisso, estou ali porque eu quero. Quando é obrigação é mais complicado.
Você ainda tem mais dois anos de contrato com o Tigres e parece muito satisfeito. Alguma coisa te faria sair de lá agora?
Hoje é zero. Pelo que vivi em um ano, pelo que sinto das pessoas, diria que é menos de zero. É menos 10, menos 20.
Sempre saem especulações sobre você nos grandes clubes brasileiros. Recentemente saiu uma sobre um possível interesse do Corinthians...
Tem muita mentira. Sempre existem pessoas oportunistas que largam uma nota, não colocam o nome, e isso vira uma loucura. Mas daí talvez até apareçam algumas ideias para os clubes (risos). Mas hoje, não tem papo nenhum. E também não procurei saber. Alguns amigos perguntam, e muitas vezes até não tenho resposta. Hoje não tem nem conversa. Nenhum clube.
Também já foi publicado que seu contrato não tem multa rescisória. Isso é verdade?
Não existe um clube no mundo que faça contrato sem multa. A multa vai existir sempre.
No Fluminense você criou uma relação forte, e até fez uma visita ao clube no meio do ano. O que você guarda de mais especial de sua passagem nas Laranjeiras?
O Fluminense, a nível profissional, ficou mais marcado até do que o Inter. No Inter eu fiquei gravado porque foi onde me criei e ganhei. No Fluminense tenho mais jogos, mais tempo. Foi muito bom. Maravilhoso enquanto durou. Deixei amigos, converso com bastante gente sempre que posso. A internet facilita muito. Quero sempre ter esse contato, porque é um lugar que gosto muito.
Tem muita mentira. Sempre existem pessoas oportunistas que largam uma nota, não colocam o nome, e isso vira uma loucura. Mas daí talvez até apareçam algumas ideias para os clubes (risos). Mas hoje, não tem papo nenhum. E também não procurei saber. Alguns amigos perguntam, e muitas vezes até não tenho resposta. Hoje não tem nem conversa. Nenhum clube.
Também já foi publicado que seu contrato não tem multa rescisória. Isso é verdade?
Não existe um clube no mundo que faça contrato sem multa. A multa vai existir sempre.
No Fluminense você criou uma relação forte, e até fez uma visita ao clube no meio do ano. O que você guarda de mais especial de sua passagem nas Laranjeiras?
O Fluminense, a nível profissional, ficou mais marcado até do que o Inter. No Inter eu fiquei gravado porque foi onde me criei e ganhei. No Fluminense tenho mais jogos, mais tempo. Foi muito bom. Maravilhoso enquanto durou. Deixei amigos, converso com bastante gente sempre que posso. A internet facilita muito. Quero sempre ter esse contato, porque é um lugar que gosto muito.
Muitas vezes um time não ganha no campo e as pessoas não imaginam o que está se passando por trás. Futebol é um lugar muito sujo. Temos os exemplos na Fifa, Conmebol... é bom que baixam a bola um pouco e veem que o bicho está pegando para o lado deles.
Rafael Sobis
Do atual elenco, você ainda tem contato com muitos?
Muitos. E falo com muitos que já saíram também. Sempre conversamos sobre o Fluminense. É uma marquinha que temos na gente que não dá para tirar. É uma marca boa.
Você não jogou em muitos clubes (cinco). Acha que consegue estabelecer uma relação boa na maioria dos lugares onde passa?
É verdade, fico pelo menos uns dois anos. No mundo de hoje é meio incomum, mas isso vai muito da personalidade de cada um, do que você representa para o clube e o clube representa para você. São vários fatores, e eu sempre me dediquei ao máximo, por isso que consegui longevidade dentro dos clubes, mesmo às vezes passando por fases não tão boas, o que é normal. O clube aguenta mais porque confia, sabe que você pode ajudar mais.
E a sua relação com o Internacional? Hoje, algum tempo depois, qual sua avaliação depois das coisas que aconteceram nos jogos da semifinal da Libertadores?
Abalou um pouco por causa daquelas situações, mas os ignorantes são minoria. Jamais vou ter problema. É um clube que eu amo. Espero que tenham entendido que ali eu estava defendendo outro lado, que isso faz parte. Se o Inter quisesse, eu poderia estar lá até hoje. Essa é uma grande verdade. Mas são coisas da vida, e assim acontece. Se enfrentar novamente, serei o mais profissional possível. O carinho que eu tenho, o que eu vivi e o que eu deixei, ninguém vai tirar.
Depois que você terminar seu contrato no México, o que você projeta? Uma renovação, uma volta ao Brasil...?
Futebol dá voltas, mas hoje...repito: hoje, estou muito bem lá. Não faço planos para ir para outro lugar. Mas não controlo o futuro. Tenho mais dois anos de contrato, e se eles quisessem que eu assinasse por mais dois, assinaria hoje, sem nenhum problema. Por causa disso, não estou pensando muito longe, não passa pela minha cabeça ainda.
Você comentou que os brasileiros começaram a descobrir alguns personagens no México, e o seu técnico Ricardo Ferretti é um deles. Um brasileiro há 40 anos por lá e que faz bastante sucesso. Como ele é?
Um treinador duro, perfeccionista, que quer tudo direitinho. Uma grande pessoa, com grande coração. Um cara do bem. A história dele no México é muito grande e bonita, recentemente ficou como interino na seleção e fez um bom trabalho.
A longevidade dele é uma coisa rara no Brasil. Também é uma coisa que podemos aprender com os mexicanos?
Tem que aprender. Aqui no Brasil ainda mandam as pessoas que não entendem, essa é a verdade. São muitos interesses próprios. Tem gente que demite treinador para tirar o peso das costas. E o treinador não pode falar, porque, assim como os jogadores, são mercadorias. O mundo dá voltas, daqui a pouco pode estar novamente precisando desta pessoa para trabalhar. Mas acho que pouco a pouco as pessoas no Brasil estão se dando conta de que o negócio tem que ser muito mais profissional. Não é um estadual vencido que quer dizer que tudo está bem. Espero que melhore. Se os próprios clubes não estragarem essa molecada que está vindo, o futebol brasileiro vai ter muito coisa boa.
Muitos. E falo com muitos que já saíram também. Sempre conversamos sobre o Fluminense. É uma marquinha que temos na gente que não dá para tirar. É uma marca boa.
Você não jogou em muitos clubes (cinco). Acha que consegue estabelecer uma relação boa na maioria dos lugares onde passa?
É verdade, fico pelo menos uns dois anos. No mundo de hoje é meio incomum, mas isso vai muito da personalidade de cada um, do que você representa para o clube e o clube representa para você. São vários fatores, e eu sempre me dediquei ao máximo, por isso que consegui longevidade dentro dos clubes, mesmo às vezes passando por fases não tão boas, o que é normal. O clube aguenta mais porque confia, sabe que você pode ajudar mais.
E a sua relação com o Internacional? Hoje, algum tempo depois, qual sua avaliação depois das coisas que aconteceram nos jogos da semifinal da Libertadores?
Abalou um pouco por causa daquelas situações, mas os ignorantes são minoria. Jamais vou ter problema. É um clube que eu amo. Espero que tenham entendido que ali eu estava defendendo outro lado, que isso faz parte. Se o Inter quisesse, eu poderia estar lá até hoje. Essa é uma grande verdade. Mas são coisas da vida, e assim acontece. Se enfrentar novamente, serei o mais profissional possível. O carinho que eu tenho, o que eu vivi e o que eu deixei, ninguém vai tirar.
Depois que você terminar seu contrato no México, o que você projeta? Uma renovação, uma volta ao Brasil...?
Futebol dá voltas, mas hoje...repito: hoje, estou muito bem lá. Não faço planos para ir para outro lugar. Mas não controlo o futuro. Tenho mais dois anos de contrato, e se eles quisessem que eu assinasse por mais dois, assinaria hoje, sem nenhum problema. Por causa disso, não estou pensando muito longe, não passa pela minha cabeça ainda.
Você comentou que os brasileiros começaram a descobrir alguns personagens no México, e o seu técnico Ricardo Ferretti é um deles. Um brasileiro há 40 anos por lá e que faz bastante sucesso. Como ele é?
Um treinador duro, perfeccionista, que quer tudo direitinho. Uma grande pessoa, com grande coração. Um cara do bem. A história dele no México é muito grande e bonita, recentemente ficou como interino na seleção e fez um bom trabalho.
A longevidade dele é uma coisa rara no Brasil. Também é uma coisa que podemos aprender com os mexicanos?
Tem que aprender. Aqui no Brasil ainda mandam as pessoas que não entendem, essa é a verdade. São muitos interesses próprios. Tem gente que demite treinador para tirar o peso das costas. E o treinador não pode falar, porque, assim como os jogadores, são mercadorias. O mundo dá voltas, daqui a pouco pode estar novamente precisando desta pessoa para trabalhar. Mas acho que pouco a pouco as pessoas no Brasil estão se dando conta de que o negócio tem que ser muito mais profissional. Não é um estadual vencido que quer dizer que tudo está bem. Espero que melhore. Se os próprios clubes não estragarem essa molecada que está vindo, o futebol brasileiro vai ter muito coisa boa.
O que mais pode servir de espelho para o futebol brasileiro que você testemunhou no México?
Acho que a organização, ser mais correto, não pensar apenas no seu. Não comparando só com o México, mas com qualquer lugar. No futebol há muita briga de poder, de ego, porque tem muito dinheiro envolvido. Muitas vezes um time não ganha no campo e as pessoas não imaginam o que está se passando por trás. Futebol é um lugar muito sujo, mas pouco a pouco está se limpando. Temos os exemplos na Fifa, Conmebol... é bom que baixam a bola um pouco e veem que o bicho está pegando para o lado deles.
Tem acompanhado todas as notícias que envolvem CBF, Fifa...?
Eu era do Bom Senso até sair do Brasil. Tudo o que está acontecendo agora, nós já sabíamos. Provar é outra coisa. Mas que bom que está vindo à tona, dá mais razão para os jogadores e dirigentes que são do bem, que lutam por isso. Tem que controlar, achar uma solução. Quem tem que mandar no futebol são os clubes, e não essas entidades que ganham muito dinheiro.
Todos estes escândalos podem ser um mal necessário?
É um mal necessário. Para mudar, teria que acontecer isso, essa é a verdade. Senão ia ficar em um ciclo, pessoas que ficam ali por muitos anos, depois chegam os filhos, e assim segue... Fica tudo muito controlado, porque as pessoas dependem disso. É como uma caixa trancada. Digamos que agora ela está se abrindo. Acho que as coisas vão ser transparentes e melhorar muito.
E fora do âmbito esportivo? Como tem acompanhado o momento político, econômico e social do Brasil?
Agora que saí do Brasil, acho que vejo melhor. Quando se está aqui, envolvido com a vida, talvez nem preste muita atenção. Está uma vergonha. Está feio. Muitas vezes é difícil falar que é brasileiro, porque o negócio está tão escancarado... a única esperança é que o povo desperte, por fim, e vá para as ruas. Não está dando. Moro no México e eu, gastando muito menos, tenho muito mais. Quem vive no Rio, por exemplo, perde três, quatro horas do dia no trânsito e não consegue resolver mais do que uma coisa no dia. Nada funciona. Vi que estão fechando hospitais. o Brasil todo está assim. Uma vergonha. As pessoas não podem aceitar isso. E vai piorar, porque não tem para onde fugir. Lá fora as pessoas não têm palavras para descrever o momento do Brasil.
As pessoas perguntam muito sobre o que ouvem sobre o Brasil?
Perguntam muito. Canso de falar, porque são muitos problemas. Perguntam: "Quem é esse cara da corrupção? E esse? E esse?". São muitos, e está tudo interligado. Chega uma hora que até eles desistem de entender.
E este ano tem Jogos Olímpicos. Vamos receber o mundo no Rio de Janeiro...
Está tudo errado...está tudo errado. Com as Olimpíadas muitas pessoas ganham com isso, né. Já tinham trazido a Copa. Mas trouxeram problemas também, porque ter eventos grandes não quer dizer que o país está bem.
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