Era época de Copa do Mundo. Pelas ruas do Jardim Miriam, na Zona Sul de São Paulo, um garotinho chamado Lucas Rodrigues Moura da Silva passava de casa em casa pedindo ajuda para comprar cal, corante e pincel. O menino tinha como missão pintar as ruas e calçadas de verde e amarelo, algo tradicional no Brasil de quatro em quatro anos. Enquanto decorava o bairro, ele sonhava com o dia em que estaria dentro de campo pela seleção brasileira. Esse dia está cada vez mais perto.
- É verdade. Poxa, eu lembro como se fosse ontem das vezes que eu pintava as ruas para a Copa do Mundo. Sonhava poder um dia chegar onde estou e com possibilidade de ir a um Mundial. Espero que ainda exista esse clima nos bairros das cidades pelo Brasil. Isso une o povo e dá uma expectativa legal. Que muitas pessoas façam isso na Copa de 2014, no Brasil – disse Lucas.
Contratado pelo Paris Saint-Germain depois de brilhar com a camisa do São Paulo, o meia-atacante já deu o primeiro passo para estar no Mundial de 2014: foi convocado por Felipão para a Copa das Confederações. É meio caminho andado. Um pouco mais, talvez, levando em consideração que Lucas tem sido convocado quase sempre desde a era Mano Menezes. Certamente, o morador do Jardim Miriam que o vê agora, em alta, deve lembrar de quando ele tocava a campainha.
Lucas, na verdade, era um dos líderes do movimento verde e amarelo pelas ruas do bairro paulistano. Era ele o responsável pela “vaquinha”, como é chamada a arrecadação de dinheiro. Mais do que isso: o meia-atacante era o “diretor de arte”.
- Eu pegava alguns desenhos em revistas e tentava reproduzir na rua. Eu fazia do meu jeito, mas sempre olhando o modelo. Procurava sempre fazer o mascote da Copa do Mundo. Era eu quem sempre agitava com os outros garotos de passar nas casas pedindo ajuda para comprar cal e corante. A gente misturava tudo e começava a pintar as calçadas, ruas... – lembrou o meia-atacante.
Isso era de quatro em quatro anos, mas o que Lucas fazia pelas ruas do bairro onde cresceu em outras épocas? Segundo ele, “tudo que uma criança faz”.
- Eu soltava pipa, subia na laje, jogava bolinha de gude, peão, taco...
Essa última brincadeira, por sinal, deu ao meia-atacante do Paris Saint-Germain um dos momentos mais hilariantes de sua infância. Algo que ele lembra gargalhando. Lucas estava com os amigos jogando taco na rua. E sempre que passava algum pedestre, eles paravam a partida. Só que uma vendedora de iogurte demorou a sair do “campo” porque estava conservando com um morador. A garotada, então, continuou o jogo, sem se importar com a presença da mulher. Só que Lucas...
- Eu dei uma tacada e a bolinha foi bem na orelha dela. Pegou em cheio. Foi tão forte que o pescoço dela foi até para o lado. Cada um correu para um lado e eu fui para casa rir. Ela nem viu de onde veio a bolinha – relembrou o ex-são-paulino.
No mesmo bairro em que viveu esses momentos descontraídos, Lucas passou por apuros. Certa vez ele estava brincando com o irmão na rua. Tinha pulado o portão de sua casa, porque a tia não deixara eles brincarem fora. De repente, um grupo de bandidos cercou um caminhão de supermercado e roubou a carga. Ali, na frente dos garotos. Assustados, eles voltaram correndo para casa, pulando de volta.
- Eu penso bastante em ajudar esses garotos que crescem nos bairros de periferia. Seja com uma palavra, uma palestra. Gosto de dar o meu exemplo. Cresci em um bairro que tinham coisas erradas, muitas dificuldades, mas consegui vencer e ser o cara que sou hoje, sem me envolver com coisas erradas. Quero salvar mais gente desse caminho – finalizou o meia da seleção brasileira.
A Copa das Confederações será a segunda competição oficial de Lucas pela seleção brasileira. A primeira foi a Copa América de 2011, na Argentina. O Brasil, porém, caiu nas quartas de final, perdendo nos pênaltis para o Paraguai. O meia esteve ainda nas Olimpíadas de Londres, no ano passado. A Seleção ganhou a prata.
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