Para um técnico, permanecer por um longo período no comando do mesmo clube é uma tarefa árdua no futebol brasileiro. Tal regra se confirma no Botafogo ao longo dos últimos 40 anos, o que dá a dimensão do feito que Oswaldo de Oliveira alcança nesta segunda-feira. O treinador completa 492 dias consecutivos no cargo, contando a partir de seu primeiro jogo, maior marca desde Zagallo, em sua primeira passagem entre 1967 e 1970, quando estabeleceu uma sequência de 1.310 dias, entre a primeira e a última partida.
Com a série atual, Oswaldo supera Cuca, que ficou 491 dias entre 15 de maio de 2006 e 27 de setembro de 2007. O atual técnico do Atlético-MG poderia ter uma marca ainda maior no Botafogo caso não tivesse pedido demissão e voltado em um intervalo de três jogos no qual Mário Sérgio o substituiu. Ele ficou em seguida mais 228 dias no cargo até deixar de vez o clube carioca.
Ao ser informado da marca alcançada, Oswaldo demonstrou surpresa por achar que está há pouco tempo no Botafogo. Satisfeito, no entanto, ele elogiou a atitude da diretoria de renovar o contrato no fim do ano passado, quando a torcida pedia sua saída.
- Levando-se em consideração a rotatividade de treinadores, isso é uma coisa que me diz respeito indiretamente, e diretamente à direção do Botafogo. Pelo que tenho visto, ela está tentando mudar isso e entrar nesse fluxo de permanecer com os treinadores. Outros que fizeram tiveram bons resultados - comentou.
A vontade de ser treinador vem desde a época em que Oswaldo foi jogador de Carlos Alberto Parreira na liga estudantil do Rio de Janeiro no fim dos anos 60. Ele lembrou que, em 1969, o aprendizado foi intenso e, na época, o time comandado pelo atual coordenador técnico da seleção brasileira atuava no 3-5-2.
- Ali, ele estava nascendo como treinador no campeonato estudantil do Rio de Janeiro em 1969. Até então, eram só técnicos de pelada, nada com o embasamento do Parreira. Aquilo me despertou. Ele levava um quadro, fazia posicionamento dos jogadores, jogava em um 3-5-2. Eu era o meia-direita. Lembro que uma vez levou moedas e por acaso usou a mais valiosa na minha posição. Brinquei com ele, que disse para eu mostrar no campo e não ali a minha importância. Parece sórdido, mas foi interessante - disse Oswaldo.
Em mais de 30 anos de futebol, sendo 14 deles como treinador, Oswaldo prefere não falar sobre pontos fortes e fracos de seu trabalho.
- A minha maior virtude é não ver minhas próprias virtudes e o meu maior defeito é identificar que tenho muitos - afirmou.
No ano passado, Oswaldo precisou conviver com as incertezas da profissão. Depois da derrota para o Fluminense na final do Campeonato Carioca, não conseguiu estabelecer um bom relacionamento com a torcida, retratado no fim do ano com protestos em diversas partidas.
Agora, o treinador conta com a segurança de quem conquistou os dois turnos do Carioca, além de ostentar uma invencibilidade de 17 jogos no comando do Botafogo. A única derrota do ano aconteceu na fase de classificação da Taça Guanabara, por 1 a 0 para o Flamengo.
- O pior momento que vivi aqui foi depois da derrota por 3 a 2 para o Cruzeiro no Engenhão, no turno do Brasileiro. A situação ali ficou complicada. O melhor foi a vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense, na final da Taça Rio, com gol de Rafael Marques. Não poderia ser outro - contou.
No seu elenco atual, Oswaldo já identificou alguns nomes como possíveis candidatos a se tornar treinador. Um deles parece com caminho já definido para seguir a carreira assim que pendurar as chuteiras.
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- O Seedorf, pela experiência e intenção já manifestada, talvez seja o mais preparado para isso - disse Oswaldo, referindo-se ao fato de o holandês estar matriculado no curso de treinadores da Uefa e pelo interesse do Milan na contratação do camisa 10 para comandar a equipe à beira do campo na próxima temporada europeia.
Para o seu futuro, Oswaldo evita prognósticos mais longos. Seu recorde em um clube aconteceu no Kashima Antlers, do Japão, onde trabalhou cinco temporadas, antes de ser contratado pelo Botafogo.
- Eu, sinceramente, acho difícil (ficar cinco anos no Botafogo), mas acho que é consenso que eu gostaria muito de alongar meu trabalho aqui no Botafogo e que a direção também tem essa intenção. Mas a previsibilidade é imprevisível - comentou Oswaldo, que, aos 62 anos de idade, ainda se permite sonhar com a seleção brasileira. - Claro que penso. Não agora, mas no futuro pode ser. Que seja da forma mais natural se vier a acontecer.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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