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Foram oito anos longe da Série A - tempo suficiente para gerar uma desconfiança que nem o bom desempenho recente, com o vice-campeonato da Segundona de 2012 e o título catarinense deste ano, consegue abafar. O Criciúma é, para a maioria dos jogadores das Séries A e B, o favorito ao rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2013. Ele foi o mais votado em um universo de 343 atletas, em pesquisa feita pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista "Monet".
Cada jogador foi convidado, em questionário, a apontar os quatro times que têm mais chances de queda, na visão deles. O Tigre foi citado por 223 dos 343 jogadores. Ou seja: uma fatia de 65% deles colocou o clube catarinense como um dos rebaixados. Na sequência, aparecem Portuguesa (218), Náutico (202), Bahia (183) e Ponte Preta (108).
Incômodo e compreensãoForam enviados formulários a todas as equipes das duas primeiras divisões do Brasileirão. Todos jogadores poderiam responder, sob garantia de total anonimato. Houve retorno de 23 clubes.
Personagens dos clubes apontados como prováveis rebaixados reagiram com uma mistura de incômodo e compreensão à notícia. E deram um aviso parecido: de que a descrença dos rivais pode virar combustível.
É o caso de Vadão, o técnico do Criciúma. Ele diz que não liga para o que se fala sobre seu time. Mas ressalva que a desconfiança pode gerar motivação.
- Vamos ver na prática. Quando eu cheguei aqui (no começo de março), ninguém prestava, todo mundo estava numa situação delicada, e fomos campeões (estaduais), apesar de ninguém acreditar. Então, não me interessa o que falam no Rio, em São Paulo e em outros grandes centros. O que me interessa é o que vamos jogar. (...) Tudo para nós serve de motivação, tanto as críticas e previsões, como o título que ganhamos.
Há justificativas para pouca confiança no Criciúma, mesmo que elas não sejam exatamente técnicas. O Tigre não disputa a Série A desde 2004. No período ausente da elite, chegou a despencar duas vezes para a Série C, onde passou três anos. Além disso, boa parte dos entrevistados não teve a vivência de encarar uma das grandes armas do clube catarinense: a pressão da torcida no estádio Heriberto Hülse.
Já o Naútico paga, em parte, o preço da gangorra que carrega em sua história recente. Desde que o Brasileirão começou a ser disputado em pontos corridos, o Timbu passou quatro anos na Série B, mais três na Série A, outros dois na B e agora vai para o segundo seguido na A. Na temporada passada, quando esta pesquisa foi feita pela primeira vez, o clube pernambucano foi o mais indicado à queda.
E sobreviveu. Justamente por isso, ser novamente colocado entre os rebaixados irrita os profissionais do Náutico.
- Prefiro não comentar. Não sei qual base o jogador tem para dizer isso. Pela campanha do ano passado, não é. O Náutico foi o clube que teve melhor campanha jogando em casa. Nos meus tempos de jogador, se eu tivesse uma pesquisa dessas, não responderia essa pergunta. Futebol é muito imprevisível, e o Campeonato Brasileiro é disputado em oito meses. Fica difícil dar uma resposta para uma pergunta como essa - disse o técnico Silas.
Martinez, capitão do Náutico, também não gostou. Quando soube do resultado, lamentou: "Pô, de novo?".
- Quem tem boca, fala o que quer. A gente respeita. Cada um tem uma opinião, e mais uma vez vamos brigar para fazer uma boa campanha. A gente tem que respeitar, mas isso não muda em nada o nosso foco. Não mexe com a gente. Não acredito que isso interfira em nada. Nem dificulta e nem facilita. É um campeonato difícil, e nós vamos trabalhar primeiro para se afastar da zona de rebaixamento e depois para fazer uma campanha melhor do que a do ano passado.
Na pesquisa feita ano passado, o único clube apontado pelos jogadores como provável rebaixado que efetivamente caiu foi o Atlético-GO. A Portuguesa, a exemplo do Náutico, foi uma das sobreviventes. Agora, está novamente no grupo da descrença. O técnico da Lusa, Edson Pimenta, diz que já falou com os jogadores sobre o descrédito do time - como forma de motivá-los.
- No ano passado, foi a mesma situação. A Portuguesa era dada como uma das quatro rebaixadas, e ao longo do campeonato foi mostrando a competência, a competitividade, e acabou encantando muita gente. (...) Já passei para os jogadores que a Portuguesa, virtualmente, é uma das rebaixadas, o que nos tira uma responsabilidade, poque se cair, está no contexto. Vamos ter que provar para todo mundo que o contexto está errado. (...) Uma coisa é a teoria. Outra coisa é a prática. Vamos provar na prática que a teoria está errada, que a Portuguesa não vai cair - avisou o técnico da Lusa, Edson Pimenta.
Outro presente na lista é o Bahia, que ficou na fronteira com a zona de queda no ano passado e agora tenta se livrar de enorme crise, sublinhada pelo impacto de duas goleadas para o maior rival, o Vitória.
- É uma opinião. Já vi muitas opiniões sobre times que vão ser campeões ou rebaixados. Temos confiança no trabalho que estamos fazendo - afirmou o presidente do Bahia, Marcelo Magalhães Filho.
Desconfiança com o Vasco
O Vasco foi o sexto mais votado como candidato à queda. Dos 343 jogadores, 96 colocaram o clube de São Januário como provável rebaixado. Dos clubes de maior torcida do Brasil, é aquele que mais lida com descrença - resultado do rendimento fraco no início do ano, da crise financeira e do recente desmanche no elenco.
Com Paulo Autuori no comando, o time cruz-maltino tenta provar que a descrença é exagerada. O treinador, porém, se mostra compreensível com as dúvidas.
- Esse descrédito é perfeitamente normal. Pelo histórico recente, não há motivo para que pensem o contrário. Mas enquanto isso, nós vamos trabalhando. Então, é uma questão de escolha nossa: vamos reagir a isso nos lamentando ou trabalhando para mudar essa situação?
Todos os clubes foram votados ao menos uma vez no quesito rebaixamento. Dois cariocas foram os menos citados: o Fluminense, apenas uma vez, e o Botafogo, duas. Santos (três votos), Grêmio (três), Cruzeiro (cinco) e Corinthians (cinco) também foram pouco lembrados.
* Colaboraram Felipe Zito, Gustavo Rotstein, João Lucas Cardoso, Lucas Liausu e Thiago Pereira.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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