Brasil Afora: metade do time do Alto Acre é formada por irmãos e primos Dos 11 titulares que estavam à disposição na estreia no estadual, cinco são parentes. Incentivo ao futebol partiu do pai, amador na década de 80, no interior do Acre

 

Uma equipe de futebol em família. Assim pode ser definido o Alto Acre, clube que representa quatro municípios do interior do estado no futebol profissional: Brasileia, Capixaba, Assis Brasil e Epitaciolândia. Dos 11 jogadores que normalmente atuam entre os titulares em jogos do estadual, neste início de temporada, cinco são parentes. E com apelidos peculiares.
São três irmãos: o lateral-esquerdo Márcio Maia Oliveira (Bolão), o lateral-direito Antonio Tomás de Oliveira Maia (Macaxeira) e o atacante Mauro Maia Oliveira. E ainda tem os primos: o zagueiro Gerlan Maia de Souza (Maradona) e o lateral-direito Jandrei Maia de Oliveira. Todos vestem a camisa do clube desde 2013.

Alto Acre tem meio time formado por irmãos e primos - Mauro, Maradona, Jandrei, Bolão e Macaxeira (Foto: João Paulo Maia)
Meio time é formado por irmãos e primos: Mauro, Maradona, Jandrei, Bolão e Macaxeira (Foto: João Paulo Maia)
O mais novo, Macaxeira, 21 anos, ganhou chance entre os 11 na derrota por 1 a 0 para o Plácido, no meio da semana, e ressaltou o clima familiar dentro do clube.
- É muito bom. Como sou o mais novo, eles me ajudam muito, é tudo que preciso. Dá orgulho nossa família ser quase a metade do time. Eu me inspiro no meu pai. Ele está nos momentos ruins e bons, nunca me deixou na mão - disse.

Alto Acre tem cinco jogadores da mesma família no time (Foto: João Paulo Maia)
Alto Acre tem cinco jogadores da mesma família no time (Foto: João Paulo Maia)
Para o atacante Mauro Maia, 26 anos, o irmão mais velho, a união do Papagaio da Fronteira pode fazer a diferença no campeonato - apesar da derrota por 5 a 2 na estreia diante do Atlético-AC.
- É gratificante jogar no mesmo clube que meus irmãos e primos. Essa família de boleiros pode surpreender, sim, ainda temos mais peças para chegar e reforçar a equipe - completou Mauro.
Um dos primos, Jandrei Maia, 32 anos, disse que nunca viu uma história parecida e garantiu que jogar em família faz a diferença.
- É uma experiência ótima, pois não é só no futebol profissional. Na nossa cidade jogamos juntos. Sempre tivemos o sonho de montarmos uma equipe, mas por ocasião do destino estamos no Alto Acre. Já é bom jogar com companheiros, imagina com irmãos e primos - destacou Jandrei, que também trabalha como vendedor em Epitaciolândia.
O técnico Serginho Gois, 39, que comanda o clube pela primeira vez, afirmou que já vivenciou um caso parecido. Em 2012, quando foi o treinador do Náutico-RR, eram três famílias que formavam a equipe - cada uma com três ou quatro jogadores.

Zagueiro Maradona ao fundo e o lateral Macaxeira driblando adversário (Foto: João Paulo Maia)
plácido x alto acre arena da floresta campeonato acreano 2015 (Foto: João Paulo Maia)
- Quando eles respeitam o profissionalismo do clube não atrapalha, nunca vi de brigarem. Pelo contrário, eles se cobram muito, por serem irmãos ou primos, é diferente dos outros companheiros. E isso é bom - frisou Gois.
INCENTIVO DO PAI
A força da família no futebol não é de agora. O pai de Bolão, Macaxeira e Mauro foi jogador de futebol amador no interior do Acre. Antonio da Silva Oliveira, que trabalha como funcionário público, aproveita as folgas do fim de semana para acompanhar os filhos e sobrinhos nos jogos, além de ajudar a organizar o vestiário enquanto o time está em campo.

Antonio Oliveira, ex-atleta amador e pai de três jogadores do Alto Acre (Foto: João Paulo Maia)
Antonio Oliveira, ex-atleta amador e pai de três jogadores do Alto Acre (Foto: João Paulo Maia)
Seu Antonio, 64 anos, é do município de Epitaciolândia, que fica a 206km de Rio Branco, e disse que os cinco jogadores também nasceram na cidade. Ele atuou com a camisa do Fluminense, time amador de Senador Guiomard, na década de 1980.
- Sempre incentivei meus filhos a jogar futebol. A mãe deles faleceu numa cirurgia, há 17 anos, e eram todos pequenos. Foi o momento mais difícil da minha vida. Criei todos sozinho e tenho orgulho do que são hoje - declarou.
QUARENTÃO
No Papagaio da Fronteira, quem também chama a atenção é o meio-campo Angilberto Gurgel, mais conhecido por Anjo. E não é nem pelo que ele faz em campo. O jogador, de 43 anos, é o mais velho em atuação no Campeonato Acreano.

Com uma chuteira rosa e cheio de fôlego, ele pediu mais espaço na equipe. Começou no Andirá, em 1990. Passou por três temporadas no Rio Branco, depois Vasco-AC, Adesg e Atlético-AC. Só depois dos 40 pôde jogar com a camisa do Alto Acre, time da cidade onde nasceu.

alto acre x vasco-ac meio-campo anjo (Foto: João Paulo Maia)Anjo (de verde) mostrou estilo diferente, com chuteira rosa, e fôlego (Foto: João Paulo Maia)
- O professor deixa para me colocar no segundo tempo, mas falta ele me colocar mais cedo. Não tenho a mesma vitalidade, mas posso contribuir ainda. É meu último ano a pedido da diretoria - avaliou Anjo, cujo apelido foi dado pela mãe.
CLUBE PERDEU TUDO
Em fevereiro deste ano, o município de Brasileia, onde fica localizada a sede do Alto Acre, sofreu a maior enchente da história do Rio Acre. Segundo a Defesa Civil Estadual, 90% da cidade ficaram debaixo d'água no auge da cheia. O clube e alguns jogadores perderam tudo, de acordo com o presidente João Carlos Passos.
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- Estamos treinando somente na metade do campo. Não temos coletes, bolas, nada. Nem contrato os jogadores têm, alguns não têm para onde voltar, pois suas casas foram condenadas pela Defesa Civil. O psicológico da equipe está realmente muito abalado. É uma situação bem difícil. Mesmo sem condições de treinar e nos prepararmos 100%, faremos o melhor possível - disse o cartola, em entrevista ao GloboEsporte.com.
Na luta contra o rebaixamento nas últimas temporadas, o Papagaio da Fronteira esperava disputar as primeiras posições em 2015. Mas, após três derrotas e um empate no estadual, o clube é cotado para brigar para não cair. Ainda sem vencer, o time encara o Náuas no próximo domingo (5), às 18h (local), na Arena do Juruá, em Cruzeiro do Sul, no interior do estado. 



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