Quando deixou a quadra após a final das Olimpíadas de Londres, Dani Lins estava aliviada. Não queria nem pensar em decepcionar Fofão. Precisava deixar a seleção no patamar que havia herdado. Tornou-se campeã olímpica e nunca esqueceu as palavras ditas pela experiente levantadora pouco antes dos Jogos, quando vivia um período de dúvidas e não aparecia mais como a primeira opção. A admiração só fez aumentar e os olhos nunca saíram de sua direção. O aprendizado acontece mesmo durante partidas decisivas, quando tenta imitar alguma jogada que considerou genial. Neste domingo, às 10h15, na Arena da Barra, elas estarão frente a frente pela última vez numa partida oficial. A final entre Rio de Janeiro e Osasco marcará a despedida da jogadora de 45 anos da competição. A TV Globo e o SporTV transmitem ao vivo, e o GloboEsporte.com acompanha em Tempo Real, com vídeos.
Fofão e Dani Lins prontas para a final (Foto: Alexandre Arruda/CBV)
- Fofão é um espelho. É alguém que faz você querer jogar igual. Sempre fui fã. Ver uma jogadora como ela, com essa idade jogando assim, é um incentivo para a gente querer treinar mais. Meu sonho é chegar longe como ela, depois de ter meus filhos. Vou até onde o corpo permitir. É triste saber que vai parar no fim desta temporada (o Rio de Janeiro ainda disputará o Mundial de Clubes). Quando estou ali perto dela na rede, não posso pensar que do outro lado está a Fofão. Penso que quero ganhar. Aí vejo que ela faz alguma coisa e tento fazer igual. Ela tem uma finta de mão e de corpo... Tem a manha, o toque, sabe jogar. Se não está no auge fisicamente, tem a cabeça e a experiência para contornar. Pouco antes das Olimpíadas de 2012, no Grand Prix em São Bernardo, ela me disse para ter tranquilidade, confiar em mim e conquistar meu lugar. É uma responsabilidade muito grande ser levantadora da seleção depois da Fernanda Venturini e da Fofão. Digo que quem ocupar aquele espaço tem que ter muito carinho, tem que cuidar como um filho mesmo. Fofão é uma pessoa maravilhosa e é triste ver que vai parar de jogar - disse Dani.
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Fofão sabia bem o que Dani estava sentindo naquele momento, após a vitória sobre as americanas, de virada, que garantiu o ouro. Tinha sentido na pele a pressão de virar número 1 depois de anos como reserva de Fernanda. Ficou feliz com a atuação e a preocupação de Dani. Acha que foi ali que entendeu que seria a titular da seleção.
- Não somos muito amigas, mas temos muito carinho uma pela outra. Acho que a Dani tem uma personalidade boa, carisma. Gosto muito dela. Agora é uma referência, é a melhor levantadora do Brasil e tem sempre que pensar em melhorar. Se tiver que deixar uma mensagem para ela é que sempre treine muito, se dedique e nunca pense que já sabe tudo. A gente sempre aprende algo todo dia e assim consegue ir longe. Não é fácil se manter em alto nível por tantos anos. Sei que quando estamos ali na rede, ela olha para mim depois de uma jogada como quem diz: "Vou fazer isso também". Eu dou um sorriso. Existe essa rivalidade entre os times (sorri) - afirma Fofão.
Jogadoras do Rio de Janeiro querem título para presentear Fofão (Foto: Divulgação)
Existe e elas gostam. Nas nove vezes em que se enfrentaram pelo título da competição, o Rio de Janeiro levou a melhor em seis. Nesta edição, as atuais campeãs venceram os dois jogos da fase de classificação (3 a 0 e 3 a 2). Com uma campanha que contabiliza apenas uma derrota em 24 compromissos, o time comandado por Bernardinho quer erguer o caneco que considera especial. E Fofão é o motivo. Ela diz que esta foi a temporada para a qual mais se preparou. Tanto a cabeça quanto o corpo. Nos últimos dias, o comportamento foi mudando, e a confusão de sentimentos se instalou. Tem evitado até mesmo ler o tanto de mensagens que não param de chegar na tentativa de se blindar e manter o foco na decisão.
- Não foi fácil, mas foi uma temporada gostosa, divertida. E devo isso a todos do time, que estão muito envolvidos. Ando passando por uma confusão de sentimentos. É uma mistura de tudo, um pouco de ansiedade, quero que chegue logo a final. Só que em cada dia vinha uma coisa na cabeça, e passei a ver que estou fazendo tudo pela última vez na Superliga. Tento não pensar nisso, mas não consigo isolar o pensamento. E tenho pela frente uma grande luta contra um adversário forte e para controlar a minha emoção. Espero que este domingo seja um espetáculo. Aposentadoria é uma palavra forte, que sempre pedi para não falarem perto de mim, mas vou ter que me acostumar a usar daqui a pouco. Vou ser a ex-Fofão e virar a dona Helia (risos). Estou escolhendo o momento de parar e isso poucos atletas têm oportunidade de fazer.
Dani e suas companheiras querem voltar ao alto do pódio (Foto: João Pires/Fotojump)
Dani Lins e suas companheiras respeitam o momento, mas deixam claro que farão o possível para voltarem ao alto do pódio. O último troféu foi conquistado na edição 2011/2012. A levantadora acredita que o time se fechou para superar a fase ruim, os problemas de lesões e cresceu na hora certa. Terminou a fase de classificação em terceiro lugar, com cinco reveses em 24 jogos. Números que neste domingo querem deixar para trás.
- Estou sentindo aquele friozinho na barriga que faz o Sidão sempre brigar comigo (risos). Depois do segundo ponto, isso desaparece. Será uma grande final contra uma grande equipe. Queremos quebrar essa sequência, essa hegemonia delas. E para isso, temos que fazer o nosso melhor. Nós crescemos nos playoffs, e o Rio de Janeiro é o time a ser batido. Que vença o melhor.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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