Sucessão, falta de título e arena: Duba passa a limpo 23 anos de Madureira Desde 1992 no Tricolor Suburbano, Elias Duba convive com busca a novo presidente e desejo de morrer no cargo. Admite vendas e diz que futuro passa por novo estádio

elias duba, presidente do madureira (Foto: Hector Werlang)Elias Duba é presidente do Madureira há 23 anos, tem o desejo de continuar no cargo até morrer dentro do seu gabinete em Conselheiro Galvão. Mesmo assim, busca um sucessor. Aos 65 anos, é torcedor do Tricolor Suburbano apesar de ter nascido vascaíno. Daqueles de se emocionar ao ver um garoto vestir a camisa do clube em uma época em que a moda de usar fardamento de times europeus suplanta até o dos quatro grandes do Rio. Tem o orgulho de, ainda neste ano, lançar o projeto de construção de uma arena de 15 mil lugares, mas ressalta a decepção de nunca ter sido campeão estadual. Não, ele não é contraditório. Apenas um dirigente à moda antiga.   
O GloboEsporte.com conversou com Duba no último dia 26 de março. Procurou entender o sucesso do Madureira no Campeonato Carioca – no G-4, o time briga com boas chances de ir às semifinais. Em pouco mais de duas horas de papo, porém, o presidente revelou mais. Disse ser difícil manter o trio Rodrigo Pinho, Rodrigo Lindoso e Thiago Galhardo para a disputa da Série C. Não gostou do título da Taça Rio com empate diante do Bonsucesso (veja vídeo abaixo) – entende que os dois pontos perdidos podem fazer falta na disputa por vaga à semifinal com o Fluminense.    
As comparações com Eurico Miranda, presidente do Vasco, também foram assunto. E não lhe incomodam. Só o toque do celular, o que ocorreu por oito vezes, o tirou do sério.   
– Não sei mexer nessa coisa.
O que sabe bem é administrar o clube, garante. Com uma renda mensal de cerca de R$ 300 mil, fruto do aluguel de imóveis de propriedade do Madureira, Duba se gaba de não ter dívidas. Chega todos os dias às 10h e fica até as 17h. Outro orgulho é o reconhecimento – não há oposição. Tanto que a inscrição "administração Elias Duba" toma conta de paredes do estádio. 
Nunca viu falarem tanto do clube quando do lançamento do uniforme comemorativo aos 50 anos de viagem a Cuba, com o rosto de Che Guevara. Só espera que levantar a taça do Carioca 2015 seja mais importante... Confira a entrevista.



GloboEsporte.com - Qual o segredo do Madureira no Carioca? Chega a surpreender?

Elias Duba - Surpreende a colocação. A campanha, não. Apostei no sucesso pois mantive a base da Série C. É o time que chegou às quartas, disputou o acesso. Mantive a base. Perdemos alguns jogadores, poucos. Perdemos o Felipe, atacante, o Aslan, zagueiro, e o lateral-direito. Conseguimos um melhor, o Formiga. Puxei dos juniores o Daniel, zagueiro, muito melhor. E o atacante substituímos pelo Pinho, que já estava aqui. Ele despontou. Trouxemos o Galhardo, uma surpresa a todos para ser seu companheiro, uma peça importante. O cérebro do time continuou, mas agora despontou, o Rodrigo Lindoso. Faz um campeonato maravilhoso. A base é do Madureira. Fizemos cinco contratações para reforçar. Deu certo. Trouxemos o Formiga, o Galhardo, o Camacho, o João e o Robinho, mas este, coitado, se machucou e não teve muitas oportunidades.

Nada mais?

Tem mais um: o treinador. Sempre acompanhei, sempre quis trazer ele para cá. Mas nunca dava. Namoramos muito, agora conseguimos casar. Toninho Andrade começou no Olaria. O acompanhei desde lá. Fez bom trabalho na Portuguesa, no Americano, no Cabo Frio, no Macaé. Quando deu de ele estar desempregado, e eu, sem treinador, foi o primeiro da lista. Fiz o convite. E vivemos um conto de fadas. O Toninho, além de conhecer o futebol, e o futebol do Rio, tem uma qualidade: a formação do elenco. A união do grupo. Ele consegue unir o grupo em torno dele. O que eu vejo... Um jogador faz gol, e todos vão abraçar o treinador. Ele tem pulso, cobra. É coerente e tem o grupo na mão. 
Aqui no Madureira... não tem diretor de futebol. Quer estar na beira do campo, dentro do vestiário, dá opinião errada. Ele vai lá comer sanduíche ou tomar Coca-Cola. E jogar conversa fora. 
Elias Duba
O senhor é aquele presidente que interfere na escalação?
Não discuto sistema tático, parte técnica. Quando contrato um camarada, vejo nele condições de comandar o time. Não vou por aí. Agora, quero saber as condições de todos os jogadores. Quando vejo que tem jogador que não joga ou que merece oportunidade, chamo ele para falar. Disso faço questão de participar. Até porque o Madureira não tem vice ou diretor de futebol. Tive até dois anos atrás. Não tenho mais. Isso atrapalha. Aqui no Madureira, e em outros clubes, o diretor de futebol quer estar na beira do campo, o que não pode mais, dentro do vestiário, dá opinião errada. Ele vai lá comer sanduíche ou tomar Coca-Cola. E jogar conversa fora. Eu não vou ao vestiário. A não ser para pagar premiação ou quando me chamam. Pelo título da Copa Rio, me chamaram para participar da oração. Queriam que estivesse presente. Eu vou. Até porque sou religioso. Não abro mão: domingo tem aqui a Missa de Ramos. É tradição. Todas as paróquias se reúnem aqui, a missa é no campo, e a arquibancada lota. Nem o Flamengo traz tanta gente. É diferente, são idosos e família. Assisto com a minha família dentro do campo. Sou católico. Como me chamaram, fui. Mas não participo. O diretor quer viajar, aparecer. Tenho uma equipe de profissionais. Tem tanta gente que acho que tem o mesmo número de jogadores. São praticamente dois de cada. São esses que têm de trabalhar. O diretor não tem de estar ali. É a comissão técnica. Tem coordenador, tem supervisor. Tem psicólogo, preparador físico, massagista, roupeiro.

Ter dirigente, então, foi uma experiência ruim?

Não é que tive experiências ruins. São meus amigos, continuam sendo. É pela minha experiência. Não deve ter diretor. Dirigente é para colocar o time em campo, contratar e discutir o que é melhor. Essa é a função do dirigente. Dentro de vestiário, não é legal. Só em comemoração. Não acho que tenha validade. 
Rodrigo Pinho, gol do madureira (Foto: Úrsula Nery / Agência Ferj)
Rodrigo Pinho (E) é destaque do time de Toninho Andrade (Foto: Úrsula Nery / Agência Ferj)
Cite um exemplo de debate com o treinador.

Tem um menino da base do Madureira. Eu que o contratei. Ele veio jogar pelo América, time júnior. Me encantou. Quis trazê-lo. Foi fácil pois tenho relação com a família. Vejo que tem futuro. Estava vendo que ele estava preterido até do banco. Chamei o treinador. Ele disse ter outras preferências. Preciso que ele jogue. O outro jogador não é meu. Está de passagem. O treinador lá trabalhando não percebe coisas que eu tenho de atentar. Chama-se Bruno. Precisa jogar, amadurecer. E isso vai acontecer dentro do campo. Tem 19 anos. O treinador já levou ao banco, já motivou. O menino tem proposta de ir para a segunda divisão da Inglaterra. Estava meio desgostoso pois não participava. Para o ano que vem, vai ser titular do Madureira. 
Eu nunca mando. Sempre peço. Se eu o contratei (treinador), tenho de ter confiança
Elias Duba
E, na conversa, o senhor manda?

Eu nunca mando. Sempre peço. Se eu o contratei, tenho de ter confiança. Vejo o trabalho, observo. Não sou omisso. Estou vendo o dia a dia e os jogos. É surpreendente como treinador. Ele (Toninho Andrade) identifica com o que eu penso. Não é que eu pense certo. Mas eu vejo uma má atuação, e ele vai lá e muda esse jogador. Taticamente, não enxergo muito. Mas também não sou cego. Ele vê o que eu vejo. Há identidade. Era assim com o (ex-treinador Antonio Carlos) Roy também. A confiança é mútua. Jamais vou dizer quem deve jogar. A escalação é dele. Até porque quando tiver de cobrar, vou cobrar. A relação é boa. Tem dado certo.

Como foi o planejamento do Madureira?

Tínhamos um objetivo: chegar entre os sete. O campeonato do ano que vem é diferente. Os dez primeiros estão na última fase. Não estão em seletiva que vai haver. Queria chegar entre os sete. O Madureira foi prejudicado neste ano pela tabela. Pela colocação do passado, fizemos muitos mais jogos fora do que em casa. Em casa, serão quatro. Todos os outros 11 serão fora. Isso se deve à colocação do Madureira no ano passado. Queria estar no grupo final, mas também mandar o maior número de jogos. Alcançamos esse objetivo. Era a primeira meta. A segunda meta era a Taça Rio. Só entre os pequenos. A terceira, nunca pensada antes, é estar entre os quatro. Quando começou, prometi R$ 100 mil a ser dividido se chegassem à semifinal. No dia a dia, dou premiação. Chamo de combustível. É um estímulo. Estando entre os quatro, queremos o título.
elias duba, presidente do madureira (Foto: Hector Werlang)
Camisa do Madureira de 2006 está exposta no gabinete de Elias Duba (Foto: Hector Werlang)
Como funciona este combustível?

Não há combinação. Dou quanto eu acho que devo dar. Comecei com R$ 300. Isso foi no primeiro jogo. Aí digo, "vou aumentar". Não dei nada no empate com o Flamengo. Não pago por empate. Mas aviso: "Se ganhar aquele jogo, dou por aquele do Flamengo". O jogo que achei fundamental, contra o Volta Redonda, um de seis pontos, dei R$ 1 mil. Eu não prometo: apenas aumento. Falo antes. Se chegar entre os quatro, é R$ 100 mil. O título, nem sei. Aí, talvez até dê a chave do clube. 

Qual o critério para definir o bicho?

É pela minha cabeça. Não dou menos. É igual ou maior. O primeiro foi R$ 300 a cada jogador. E tem por lances também. Goleiro meu tem de sair do gol. Se errou, a culpa é minha. Teve duas saídas, toma aqui: R$ 200. Meu atacante fez gol, toma: R$ 100 por gol. Fulano deu passe, R$ 100. Defesa não toma gol, R$ 100 a cada um. Tem até por jogada bonita. João, esses dias, ia fazer gol de placa. Disse a ele: "João, a bola não entrou, mas gostei. Toma R$ 100". Tem ainda para o melhor em campo, outros R$ 100. Por isso, me apelidaram de Silvio Santos. Foi o Galhardo. Levo na brincadeira.

Jogador não se acostuma mal? Não pede mais?

É uma forma de motivação. É a minha parte. Motivar o grupo. Não admito que me cobrem. Sou sincero. Os recebo a hora que for. Resolvo o que puder. Libero se tiverem proposta. Liberei uma vez o Sorato. Artilheiro do estadual. Não sou eu que impeço de ganhar dinheiro. Não tem isso. Sou transparente e amigo deles. E não admito que me cobrem.
Isso não atrapalha as finanças do clube?

Jamais dou o que não tenho. Só boto a mão onde alcanço. Duvido que algum atleta que tenha passado aqui, nesse tempo todo que estou, e foram centenas, diga: "O presidente prometeu e não cumpriu". Não faço isso. O dinheiro vem da receita do Madureira. Não depende do futebol. É óbvio que é modestamente, faço dentro das suas condições. Jamais vou pensar no Messi. Uma vez veio um treinador aqui e disse para largar na mídia que iríamos trazer o Maradona. Não sou assim. Não vou me expor ao ridículo. Vou promoter o que posso fazer. Já contratei jogadores de nome. Podia naquela altura. Hoje não posso. O que posso é isso. Estou satisfeito. É o futebol mais bonito do Rio. Joga para o ataque, time balanceado, melhor defesa e um dos melhores ataque.



É difícil administrar um time pequeno? Como estão as finanças?

O Madureira é a fusão de três clubes. Tem dois pontos privilegiados para o comércio. Com a fusão, tivemos patrimônio rentável. Empresas nos pagam aluguel. No orçamento, a receita desses imóveis nos permite ter uma folha salarial a ser paga. Em 23 anos, jamais atrasou um mês de salário. Não devemos impostos. Uma vez ou outra tem uma reclamatória. Mas a maioria dos funcionários tem o mesmo tempo de casa do que eu. São antigos, mais amigos do que funcionários. Tanto que toda a sexta-feira temos um encontro. Faz uns dez anos. Sempre após o expediente, que termina às 17h. Ali, jogamos conversa fora. Podem me falar o que quiser. É para contar piada e falar de tudo, menos sobre o clube. A folha salarial é de R$ 150 mil. No estadual. É alto. A folha normal é de R$ 70 mil. Fora de campeonato. Durante o estadual, contrato e aumento o dos meus. Única competição rentável. No Brasileiro, pago para jogar. A receita do estadual, oriunda da TV, me permite fazer uma gracinha a eles.

Isso permite, então, manter um grupo valorizado…

Quero manter o grupo para a Série C. Mas sei que vou perder uns três jogadores, pelo menos. Já chegou proposta. Me nego a falar agora. Mas depois do estadual, sei que vou perder. Disse a eles que quero a cabeça aqui. Acabando, cada uma vai resolver a sua vida. Não vou prejudicar. Pelo contrário, ajudo no que puder. Agora é a hora de contratação total. São os mais badalados: Rodrigo Lindoso, Rodrigo Pinho e Thiago Galhardo. Pelo Pinho aparece (proposta) todo o dia.

E a substituição?

Já tenho jogadores em vista. Bato escanteio e cabeceio. Faço tudo aqui. Delego à minha comissão para que fiquem atentos a jogadores que possam aparecer. Vejo todos os jogos, acompanho, procuro saber.

Qual o objetivo, então, na Série C?

O objetivo é subir para a Série B. O Madureira precisa subir. Vibrei muito no ano passado. Achei que dava. Mas faltou experiência, como sempre. De jogadores rodados. Tinha parceria com a Traffic. Eles prometeram ajudar e fazer time para subir. Mantive o meu time, e eles pagaram o salário de quem eles trouxeram. Mas achei que vinha gente melhor. Na hora H, faltou contratar. O Macaé fez isso e subiu. Ficou atrás na classificação. No mata-mata, senti que faltou experiência. E um treinador. Se estou com este aqui, tinha classificado. A parceria com a Traffic não existe mais.

Estar na Série B muda o patamar do clube?

O Madureira precisa subir pela visibilidade. Aí, atraio patrocinador. Na Série B, todos os jogos são televisionados. Fica mais fácil. Na Série C, um ou outro passa. Na B, o Brasil todo vê. A B é quase tão boa quanto a A. Temos bom nome, boa vitrine. Para ter futebol rentável, tem de estar na Série B. O salto de qualidade ocorreria ainda mais com os projetos que temos. Mas não quero nem imaginar estar na A. Não temos suporte para isso.

Quais são esses projetos?

Faltam detalhes: ter uma arena para 15 mil pessoas. Dá salto de qualidade na receita. O projeto é estudado há três ou quatro anos. Estava sob responsabilidade de uma empresa, mas não tinha idoneidade. Ela chegou a fazer o projeto. Buscamos outras. Apareceram algumas. Até que uma dessas foi escolhida por mim. Ela vai construir um shopping no terreno do clube, com dois andares de estacionamento. O campo em cima. É um estabelecimento comercial popular, interligado com o Mercadão de Madureira. Tem de ser o mesmo tipo de negócio. É para o pessoal do subúrbio, de quem compra na Zona Norte. A proposta é maravilhosa. Faltam os documentos para a prefeitura aproveitar.
Estádio Conselheiro Galvão, Madureira (Foto: Hector Werlang)
Conselheiro Galvão: sala de troféus é repleta de conquistas do Madureira (Foto: Hector Werlang)


Como funcionaria?

A galeria de lojas seria interligada ao Mercadão. É atraente ao Madureira. Seria na altura do terceiro andar. A ideia para 15 mil lugares é para absorver os jogos dos grandes em Brasileiro e Carioca. Madureira é lugar central, estação de trem, de BRT. Só o estádio é em torno de R$ 300 milhões. A obra toda calculada é em R$ 1 bilhão. São 1,8 mil vagas de estacionamento e 900 lojas. O Madureira administraria o estádio, com piscina, quadras. O shopping é deles, o estacionamento é deles. O Madureira tem 10% da arrecadação de todo o faturamento. Durante 50 anos. Depois, o patrimônio é nosso. 
Este seria, então, o seu maior legado?

O Madureira vai dar salto de qualidade. Certamente seria meu maior legado. Não só em termos de rentabilidade. Mas de estrutura. Mas ninguém fez mais do que eu. Eu garanto. Em 15 anos, ganhei mais títulos do que todos os presidentes juntos. Tênis de mesa, fut7, futsal, natação, basquete. Chega a uns 400. 

Por que decidiu virar presidente do Madureira?

Entrei aqui por uma contingência. Entrei para acabar com os bailes funks. Era morador de Madureira e estabelecido aqui. Sou nascido e criado aqui. Vi a desgraça que era. O clube locava o espaço às festas. Mas era a maior confusão, com polícia. Desde lá, fui adorado pelos moradores da comunidade. As missas mudaram de horários, os ônibus não poderiam circular. Tudo por causa dos bailes. Acabei com isso. Fui ameaçado de morte. Quando ameaçavam a minha família, me preocupei. Mas nunca aconteceu nada. 

Qual o maior orgulho?

É ver o que eu fiz em 2006 (veja vídeo ao lado). Encher de torcida um quarto do Maracanã no titulo da Taça Rio (vitória de 1 a 0 sobre o Americano). Eu sei o que custou. Coloquei frota de ônibus, paguei ingressos, fiz camiseta, fogos, aquilo ficou lindo. Aquilo me emociona. Tanto quanto ver alguns garotos, pequenos, com camisa do Madureira. E eles dizem que são Madureira. Eu assumi quando o clube estava quebrado. Não tinha par de chuteira. Nada de camisa. Tanto processo trabalhista... Quase recuei. Sou destemido. Pago para ver. E estou até hoje.

Nunca pensou em desistir?

Sim. Voltei atrás por pedido dos funcionários. Meu receio é alguém entrar e não tratá-los com a mesma dignidade que eu trato. Vejo em cada um que são meus amigos. Que são sinceros. Tenho medo de deixá-los desamparados. Já falei à minha família que ficarei aqui enquanto a saúde permitir. Me dá prazer. São meus amigos. O quadro social não quer que eu saia. Foram mais de oito eleições por aclamação. O dia que não me quiserem não precisa falar duas vezes. O que me irrita é que a camisa tem distinção. Não deveria. Ao menos para a arbitragem. Isso me aborreceu muito. Briguei, dei murro em ponta de faca. E isso quase me fez parar. Já sai muito na porrada, bati em juiz, fui suspenso. Hoje estou mais na minha até porque a saúde não permite. Deixei de ser galinho de briga. Hoje vou por outros caminhos: oficio à Ferj, à Coaf. Vou por outro lado. Consigo. Ficou só o rótulo de ser dirigente brigão.
Mas falta uma coisa: ter dado título estadual ao Madureira
Elias Duba
Qual a maior decepção?

A decepção foi perder amigos aqui. Morreram nos meus braços. Depois, ex-diretores que eram ligados e se afastaram. Eles não fizeram nada pelo clube e depois falavam de mim pelas costas. O clube não me deu decepção. Perder é normal. Faz parte do jogo. Não tenho arrependimento. Mas falta uma coisa: ter dado título estadual ao Madureira. Minha primeira vice era uma mulher, Leni Veloso. Quando entrei, ela disse: "Você é o presidente que fará o Madureira campeão". Clube e torcida merecem. Quem sabe ainda não consigo.

Pretende ficar por muito mais tempo?

Posso ficar até amanhã. Até quando a saúde permitir. Se quiserem ou se eu sentir que tenho rejeição ou se tiver oposição, penso duas vezes. Minha meta é fazer um sucessor. Fazia isso, e a pessoa adoeceu. Tenho problema de coração, sou diabético, sou homem bomba. Tenho colesterol alto. Tomo cascudo do meu filho médico. Digo que quero morrer aqui. Se for para ser infarto, que seja aqui. Depois me joguem as cinzas aqui. Não vai dar azar.
Como é a busca por esse sucessor?

Vai me doer muito se ver tudo o que construí ser destruído. Acho que terá pessoas mais capacitadas e farão melhor. Mas e se não? Vai me doer. Eu nasci Vasco, mas nasci em Madureira. Vivi a minha vida aqui, ganhei a vida aqui, meus filhos têm tudo graças a Madureira. Os conselheiros queriam colocar busto meu aqui. Não quero. Quando morrer, sim. Uma vez apareceu um que disse que queria ser presidente. Mas ele não poderia. Para ser presidente, tem de ser benemérito, ter serviços prestados, mais de dez anos de sócio e não pode ter sido punido. Tem de ter sido referendado por dez proprietários, de cinco beneméritos, três grandes beneméritos e um presidente de honra. Algumas dessas medidas são mecanismos de proteção. Algumas eu ajudei a construir. Para não entrar um camarada que quebre o clube, que queira arrumar algum. O patrimônio é grande, não é para qualquer um. 

Por qual motivo não há oposição?

Acredito que seja pela minha administração. Faz três ou quatro eleições que não aparece ninguém. Mas busco algum sucessor, alguém que tenha raízes aqui. Um filho de um diretor, um garoto que tenha vivenciado o Madureira. 

Qual a sua opinião sobre a briga entre Ferj e Flamengo e Fluminense?

Foi feito fórum para detectar o motivo do baixo público. Citaram ingresso, segurança, horário… Decidiu-se baixar o preço. Achou-se o denominador comum. Mas os caras são contra, Flamengo e Fluminense. Se fosse segurança, eles seriam contra. Tem de sentar e conversar. O presidente do Fluminense nunca foi à Ferj. Uma vez, o Eurico, que ainda nem tinha voltado como presidente, entrou por uma porta e o Peter saiu como se estivesse visto uma assombração. Nunca mais foi. O presidente do Flamengo eu estranho. É do bem, pessoa calma. Eles têm acordo com o consórcio. Mas não mostram a ninguém. Se baixar o preço, alegam, o sócio deles vai perder. Tudo bem. No Brasileiro, ótimo. Mas não pode jogar comigo e dar o desconto ao sócio. No estadual a renda é dividida. Eles não querem, isso é desleal. A briga foi econômica. 

O senhor concorda com a forma como o campeonato é disputado?

Não sou a favor da fórmula. Tem de ter menos clubes, como vai ser daqui a dois anos. Tem de melhorar na distribuição das cotas de TV. Pedem campeonato mais disputado… Há disparidade entre pequenos e grandes. Não pode um fazer com R$ 10 milhões e outro com R$ 200 mil. Tem de ser mais bem distribuído. 

Quem são seus aliados no futebol?

Eurico (Miranda, presidente do Vasco) e Rubinho (Rubens Lopes, presidente da Ferj) são meus maiores aliados. Eurico desde antes de eu ser presidente do Madureira. Rubinho a partir daí. Tenho boas amizades. São mais próximos, frequentam a minha casa.

Há quem diga que o senhor é o "Eurico dos pequenos"...

Já ouvi. Me chamam de poderoso chefão. Sempre me comparando ao Eurico. As pessoas acham que me aborrecem. Pelo contrário. Fico lisonjeado. Eurico é um baita de um dirigente. Tem defeito como eu tenho. Não tenho capacidade dele, nem a do Rubinho. Fico feliz da vida quando me comparam a eles.

Como será a sua vida depois do Madureira?

Não faz essa pergunta. Não sei o que será de mim ao sair daqui. Não sei se serei feliz, se vou ficar amargurado. Se morrer, tudo bem. Problema é de quem ficar. Dar as costas ao clube vai me deixar perdido. Isso só me gera dúvidas e nenhuma certeza. 



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