Apesar das dificuldades, o maior obstáculo ainda é o preconceito. O jovem está focado e há um mês deixou sua cidade natal, Juazeiro do Norte (CE), para trilhar caminho como atacante na equipe profissional do Petrolina, da Série A-2 do Campeonato Pernambucano. Neste 26 de setembro, Dia Nacional do Deficiente Auditivo, o GloboEsporte.com conta esta história.
FUTEBOL: UMA PAIXÃO DE LONGA DATA
Hoje é muito comum a realização do teste da orelhinha no nascimento de uma criança, mas quando Douglas veio ao mundo, o exame não era tão acessível. Mesmo assim, sua família descobriu cedo que havia algo diferente com ele.
- A gente descobriu quando ele tinha um ano e sete meses. Ficávamos chamando-o enquanto ele estava de costas no berço, e ele só olhava com assobio muito alto. Fomos ao médico, mas sempre nos diziam que o Douglas não tinha nada. Resolvemos ir a uma fonoaudióloga em Barbalha (CE), e depois de alguns exames ela descobriu que ele realmente tinha uma deficiência auditiva. Ele passou a usar aparelho a partir dos dois anos e até os 15 fez sessões de fonoaudiologia. Hoje, fala quase normalmente e tem uma percepção boa de voz - explica o pai de Douglas, o comerciante Cícero Moraes.
- Quando eu era pequeno, jogava bola, aí comecei a gostar muito de futebol. Meu sonho sempre foi ser jogador. Eu gosto muito de jogar bola porque sou muito fã de Neymar e assisto aos jogos dele. Então gosto de jogar de atacante, de ser artilheiro do campeonato. Este é o meu sonho: jogar em um grande clube e principalmente conhecer o Neymar, porque ele é o meu maior ídolo - relata Douglas.
RESPONSABILIDADE DE GENTE GRANDE
Quando Douglas completou seis anos, Cícero o colocou em uma escolinha de futebol. De lá, ele só saiu aos 12, quando foi para a escolinha do Icasa, onde jogou até os 15. Com 16, foi para base do mesmo clube, onde ficou por um ano. Pelo time cearense, Douglas participou da Copa do Brasil Sub-17. Depois de um teste, foi convidado para o time principal do Petrolina, vice-líder do grupo A da série A-2 do Campeonato Pernambucano. Mas nem sempre ele encontrou as portas dos clubes abertas.
No vestiário, Douglas usa aparelho para se comunicar (Foto: Amanda Lima)
- Ele já enfrentou preconceito, sim. Alguns técnicos de times em que ele se inscreveu nos testes o reprovaram sem nem dar chance, sem nem ver o futebol dele, dizendo que um menino que não escuta não tem condições de jogar direito. Tinham os coleguinhas também, que o chamavam de mudinho, mas esse apelido ele mesmo tirou dentro do campo, fazendo gol e se destacando. Não precisou ninguém pedir para não apelidarem, ele mesmo conquistou o respeito - orgulha-se Cícero.
No clube sertanejo, Douglas assumiu nova rotina. Agora ele mora no alojamento do time, longe da família. Todas as tardes, vai caminhando até o estádio Paulo Coelho, onde participa do treino do Petrolina. À noite, frequenta a nova escola, onde cursa o terceiro ano do ensino médio e se prepara para o vestibular de Educação Física. Mas ele parece estar tirando as novidades de letra, já que no Petrolina ele só recebe elogios e conta com o esforço dos colegas para driblar as dificuldades na comunicação.
- O desempenho técnico dele é muito bom, ele tem velocidade, qualidade e finaliza bem. A dificuldade que nós temos é de comunicação. Porque já que ele não pode usar o aparelho durante os treinamentos e os jogos, a gente procura explicar o treino antes. Se tiver que mandar um recado, a gente manda um atleta chegar próximo dele e tocá-lo para que ele me olhe, porque ele entende leitura labial - declara o técnico do Petrolina Neco.
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UM FUTURO, UMA CERTEZA
Douglas ainda não entrou em campo pelo Petrolina, já que foi regularizado recentemente no Boletim Informativo Diário da CBF, mas se depender da torcida da família, essa e outras conquistas não vão demorar a chegar.
Cícero já visitou o filho duas vezes em um mês para tentar enganar a saudade (Foto: Magda Lomeu)
- A gente torce demais, porque é a vontade dele, e eu acho que ele vai conseguir. Não é porque eu sou pai, mas acho que ele tem futebol para jogar num time grande. É muito interessado, muito disciplinado, muito direito, e a gente dá o maior apoio. Seja o que Deus quiser, se for pra felicidade dele, a gente tá apoiando, tá torcendo pra ele - revela Cícero.
Para o jovem jogador, a receita do sucesso está pronta, agora é segui-la.
- Quando eu estou na hora do jogo, eu só tenho que prestar atenção, ficar esperto para ver o que o técnico está pedindo. Então, para mim, a deficiência não atrapalha em nada. É só jogar bola e ficar esperto - conta Douglas.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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