Apenas dois quilômetros separam as concentrações de Corinthians e Boca Juniors em Buenos Aires. Mas as diferenças são bem maiores que a distância. Enquanto os jogadores da equipe brasileira mal podem sair do quarto, sob o risco de enfrentarem um batalhão de jornalistas e torcedores que fazem plantão no saguão à espera de qualquer contato com os finalistas, os argentinos desfilam calma e livremente pelo local escolhido para descansarem.
O GLOBOESPORTE.COM foi à concentração do Boca, pouco antes de os atletas chegarem do último treino, fechado para a imprensa, na véspera da decisão. Quando o ônibus parou na porta do Hotel Madero, apenas dez torcedores (sete mulheres) esperavam em silêncio. O rapaz que segurava uma camisa do time e uma caneta nas mãos até desistiu de pedir autógrafos. Já uma bela morena fez questão de pedir fotos com quase todos. Os mais famosos e mais queridinhos do público feminino. Só Riquelme não tirou.
A descontração tomou conta desde o momento em que o meia Erviti segurou a porta giratória para impedir a entrada do zagueiro Schiavi. No saguão, absolutamente ninguém ousou incomodar o rápido trajeto até os elevadores. Por último, o técnico Julio César Falcioni entrou e se encontrou com um casal. A mulher está grávida. Logo o comandante do Boca chamou um integrante da comissão e pediu que arrumasse um par de ingressos para os dois.A orientação dos seguranças, educados, era clara: é proibido tirar fotos dentro do hotel. Diante da insistência da reportagem, foi chamada a simpática Jennifer Lorenzo, gerente de relações públicas do hotel. Ela liberou as fotos no saguão, desde que não houvesse nenhum jogador do Boca. Por volta das 14 horas, os atletas desceram para o almoço. Só deixaram as sacolas nos quartos. Alguns nem sequer tiraram a chuteira, mas o craque Riquelme passou de “crocs” cinza nos pés. Jennifer notou o interesse pela foto e se antecipou:
- Não!
A refeição durou cerca de 40 minutos. O camisa 10 também foi um dos primeiros a sair do restaurante. E parou para tirar fotos. Mas não eram jornalistas, e sim a amiga grávida de Falcioni. Privilegiada. Em alguns segundos, o tímido e calado Riquelme já estava de volta ao seu quarto. Mas outros jogadores preferiram se divertir com uma diferente mesa de sinuca de pano marrom. Ledesma, Viatri e Rivero foram alguns dos que se revezaram no taco.
A cada tacada certa, um delicado peteleco na orelha do adversário. Só dois jogavam e o resto observava cantando e fazendo piadas. Até chegar Schiavi, com uma sacola na mão, sorriso no rosto e abraços fortes nos companheiros.
A presença do Boca Juniors no hotel já é corriqueira. Os seguranças admitem que modifica a rotina, principalmente na véspera de uma partida decisiva como a final da Libertadores. O cardápio sofre alterações, os cuidados são redobrados. Por exemplo, quando a reportagem decidiu fotografar, discretamente, o técnico Julio César Falcioni ao telefone em uma espécie de jardim de inverno.
A cara emburrada era a de sempre. Falcioni se manteve sério por todo o tempo. Até um dos funcionários do hotel “pedir” que a câmera fosse desligada.
Tempo suficiente para perceber que o Boca Juniors vive ambiente de paz total e descontração antes de tentar o heptacampeonato da Libertadores contra a saga corintiana pelo título inédito.
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