Os passos são lentos. Parece sofrer com as duas pernas tortas. É impossível passar despercebido, mas se houver um desatento na área, ele faz questão de cumprimentá-lo e requerer a atenção para si. As pessoas que o veem parecem satisfeitas com sua presença. Devidamente fardado, ele reúne os jogadores no meio de campo, os fazem ri com duas ou três de suas histórias, revela as atividades do dia e os motivos para a prática das mesmas e assiste seus comandados darem o sangue por ele.(Confira a matéria do Viva Esporte acima).
É assim que Edmilson Santos, 63 anos, comanda todos os dias um treino de futebol. Resolve tudo na conversa. E não importa a equipe sob seus cuidados, muito menos a qualidade técnica dos atletas, ele normalmente consegue o resultado positivo no jogo.
O 'Velhinho', como é carinhosamente chamado por alguns jogadores, parece gostar de tirar leite de pedra. Nesta temporada, por exemplo, fez o Socorrense figurar entres os melhores times do Campeonato Sergipano, mesmo tendo uma das folhas salariais mais baixas e com atletas bem jovens. Quando já estava confortável na tabela de classificação, trocou o Siri pelo rico River Plate, mas que estava em uma profunda crise interna, na lanterna da competição e sem esperanças.
Como a maioria dos seus comandados falam, ele tem uma abordagem simples, direta e sincera. Assim, conquista fácil seus jogadores e os resultados positivos aparecem de forma rápida. No caso do River Plate, em menos de quatro rodadas, a mesma equipe que parecia não ter jeito, foi ganhando pontos e jogando futebol vistoso. Agora, no G4, é difícil imaginar os 'Petroleiros' fora da próxima fase da competição.
O GLOBOESPORTE.COM foi à casa do treinador, conheceu um pouco da sua história como atleta, como se tornou técnico e sua inspiração. Depois, previamente ciente de sua metodologia, acompanhamos um dia de treino no River Plate, ouvimos seus atletas e o presidente do clube. Gentil com a imprensa, promoveu um rachão, mas quando saímos, realizou um treino tático longe dos olhares das câmeras. Conheçam o 'velhinho' Edmilson Santos, que tem jeito para quase tudo.
O coach Jymy Hag
Segundo Edmilson Santos, o rumo de sua carreira mudou no Vitória de Setubal de Portugal, quando ainda era um talentoso jogador de futebol. Com dribles desconcertantes e gols bonitos, o Jairzinho dos pobres, como foi apelidado na década de 70, deixou Propriá, sua cidade natal, para fazer história no Itabaiana, Sport até chegar na Europa.
Com passagens marcantes em vários clubes de Portugal, ele faz questão de citar o Vitória. Foi lá que ele conheceu o técnico inglês Jymy Hag.
- De início não gostava muito de sua metodologia. Como tinha um bom futebol, não era tão cobrado nos treinos no Brasil. Mas com ele as coisas eram diferentes. Ele era muito exigente. Explorava o máximo nos coletivos. Fiquei chateado de início, mas depois percebi que meu futebol melhorou. Desde então, tento me inspirar nele quando comandar um treino. Eu quero que meus atletas rendam o máximo que podem - explica Edmilson Santos.
Com Jymy Hag como modelo, o Velhinho começou sua nova fase no futebol no Maruinense. Clube, na época, da primeira divisão do Campeonato Sergipano. O ano de 1986 foi o divisor de águas entre o Edmilson jogador e o treinador. Dois anos antes, ele fez o curso de técnico de futebol em Portugal, mas, ao contrário do que parece, a mudança de cargo não foi tão simples.
- Foi um trauma muito grande quando minha carreira de futebol acabou. Eu nunca pensei que chegaria naquele ponto. Não me planejei para pendurar as chuteiras. Comecei a perder alguns incentivos e isso me deixou muito chateado. Mas estava determinado a continuar no futebol, foi então que virei técnico - conta.
Onde ensina
Seus quatro netos acompanham a entrevista do avô com muita atenção. Edmilson tenta passar uma lição que ele não praticou na infância: estudar.
- Não fui muito feliz neste ponto. Matava aula em Propriá para jogar bola. Fugia mesmo. Quando o América foi campeão sergipano (1966) é que fiquei impossível. Coloquei na cabeça que iria fazer minha vida jogando bola. O que eu tenho hoje devo ao futebol, mas se tivesse estudado as coisas poderiam ser melhores - explica.
Mas em campo as coisas são diferentes. Ele tem autoridade de sobra. Está entre os melhores jogadores sergipanos. Passou por clubes pequenos e gigantes de sua época. Leandro Kível, atacante do River Plate, tem motivos de sobra para ouvir o seu treinador.
- O conheço há pouco tempo, mas parece que nossa amizade é de longa data. Ele é muito simples, humilde e correto. Sabe falar com o jogador. Sabe cobrar e ajudar. É diferente de todos os outros técnicos com quem treinei. Ele sabe fazer o time jogar para ele. Eu me esforço para agradá-lo - afirmou Leandro Kível, atacante do River Plate.
O discurso é o mesmo para os atletas que jogaram com ele no Olímpico de Itabaianinha, Coritiba de Itabaiana, Sergipe, Guarani, América, Gararu, Itabaiana. Entre todos os times que passou, uma boa recordação do Confiança, onde em 1988 conquistou o Estadual, curiosamente com o seu atual presidente, Ernando Rodrigues, como dirigente proletário. Tem passagens pelo futebol pernambucano, em especial o Porto de Caruaru, onde foi campeão da Copa Pernambuco, do interior e da segunda divisão.
O River Plate que ele mudou
Foi uma grande surpresa para os cronistas esportivos de Sergipe a contratação de Edmilson Santos por parte de Ernando Rodrigues. Conhecido como exigente, o presidente do River Plate costuma investir pesado, principalmente quando o assunto é liderança. Depois de insucessos com Dário Lourenço e Jorge Replay, o dirigente cogitou trazer o ex-técnico do São Caetano, Ailton Silva, que já comandou os petroleiros.
- Já estava de olho nele. Quando o Edmilson voltou para Sergipe chegou dizendo que só queria trabalhar com times de base. Mas depois veio o belíssimo trabalho com o Socorrense. Quando o River Plate ficou sem treinador, o sondei, e para minha alegria a resposta dele e a do Socorrense foi positiva. Aqui em Sergipe, ele e o Nadélio não devem em nada para nenhum treinador que vem de fora - afirma Ernando Rodrigues, presidente do River Plate.
Após conquistar um dos líderes e um dos mais questionados pela má fase do River Plate no início da temporada, o atacante Leandro Kível, Edmilson Santos manteve intactas relações antigas. Como a do meia Wallace e a do lateral Pedrinho. Eles tralharam juntos no Sergipe em 2009, na Copa do Nordeste.
- É raro encontrar um treinador que é ao mesmo tempo disciplinador e amigo dos jogadores. Ele é correto com o time dentro e fora de campo. Sua simplicidade em comandar nos deixa encantado. Já o conheço desde a época do Sergipe, temos uma forte amizade, o bastante para brincar com ele, o chamando de velhinho. Mas escreve aí: ele é um velhinho que ainda vai longe - profetizou Wallace.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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