80 anos de Ferroviário: nove títulos e quase duas décadas de tristeza Após pior susto da história em 2012, o terceiro maior clube do Ceará investe em política a longo prazo para recuperar tempos vitoriosos


Ferroviário 1995 (Foto: Site Oficial do Clube)Ferroviário, bicampeão em 1995. De lá para cá, só
decepções (Foto: Site Oficial do Clube)
Há 18 anos, pouca gente arriscaria dizer que o Ferroviário teria tão pouco - para não dizer nenhum - motivo para comemorar numa data de aniversário. Neste 9 de maio, o clube completa 80 anos de fundação apenas com o consolo de ter iniciado uma recuperação a longo prazo em 2013. O que não deixa de ser grande feito, é verdade, diante das circunstâncias que vive a equipe.
- O grande desafio é instituir uma política. A variação que se tem nos últimos anos de ideias, pessoas e hábitos é que causou tudo isso - revela o presidente Edmilson Junior, um dos que chegou ao clube no segundo semestre de 2012, para a nova gestão coral.
Novos ares e ideologias na Vila Olímpica Elzir Cabral são suficientes para acreditar num Ferroviário diferente do que só decepcionou sua torcida nos últimos anos. E talvez por isso o foguetório a ser realizado pela diretoria nesta quinta, após missa na sede do clube, às 17 horas, signifique mais que um 'parabéns para você'.
Ainda como parte da programação, o clube promove o lançamento do 'Almanaque do Ferrão', dia 30 de maio, segundo informou o diretor social do Ferroviário, Rui Leite Neto, ao GLOBOESPORTE.COM/CE. A publicação trará a ficha técnica dos 3449 jogos oficiais e amistosos da sua trajetória e os dados de quase dois mil jogadores que vestiram a camisa coral, além de curiosidades e dados estatísticos relativos a treinadores, presidentes e recordes.
Dentre as lembranças mais vitoriosas, estará o nono e último título do Ferroviário: o bicampeonato estadual de 1995. De lá para cá, nada de festa. Ela poderia voltar a acontecer em 2006. O time por pouco não subiu da Série C para a 'B', ao terminar em quinto lugar, quatro pontos distante do Grêmio Barueri, que conquistou a última vaga para o acesso.
A única equipe que o Ferroviário não conseguiu vencer foi a do Criciúma, campeão da Terceirona na época. A campanha inclui até uma goleada sobre o Bahia, no Presidente Vargas, por 7 a 2 - cinco gols foram só no primeiro tempo.
Ferroviário x Bahia pela Série C do Campeonato Brasileiro de 2006 (Foto: Kiko Silva/Agência Diário)Ferroviário x Bahia pela Série C do Campeonato Brasileiro de 2006 (Foto: Kiko Silva/Agência Diário)
Mas o Tubarão da Barra percorreu trajetória contrária à lógica. Nunca mais disputou o Campeonato Brasileiro e se limitou a disputas locais. A pior delas aconteceu um ano antes da morte de um dos fundadores e maiores torcedores do Ferroviário. Aos 104 anos, Valdemar Caracas viu o time ser rebaixado para a segunda divisão local.
diretoria conseguiu reverter o vexame no tapetão, livrando-se da queda ao denunciar irregularidades do Crateús durante o campeonato. O susto trouxe consequentes reformulações no clube e, como um capítulo de novela repetido, esperança por dias melhoras.
- O clube viu de perto os horrores de uma queda pra segunda divisão. O coração chegou a parar e foi salvo pelo desfibrilador do Tribunal de Justiça Desportiva. A partir daí, passou a cuidar mais do coração, ou seja, a se preocupar com a saúde financeira e estrutural - explica o jornalista e comentarista da TV Verdes Mares, Paulo César Norões.
Reinício arrasador, mas queda na continuidade
Valdemar Caracas chegou a assistir um início histórico do Ferroviário no Campeonato Cearense de 2013. Mas não resistiu e não pode vibrar com os gols 17 gols de Giancarlo na primeira fase, que levaram o time ao 'vice' da etapa inicial do estadual.
O atacante, hoje no Vitória, é o símbolo do pensamento da atual gestão. O jogador chegou no clube em 2012 e passou a integrar o time Sub-20, base para o profissional deste ano. Reforços vieram para completar a equipe, só que ninguém foi o bastante para evitar um velho desfecho. A equipe encerrou sua participação na lanterna do estadual. Agora, no entanto, sem achar que 'está tudo errado'.
- Tudo isso é fruto de vários atropelos, mas a caminhada continua, não abrimos mão. A proposta maior continua vigente, firme e forte, que é estruturar administrativamente e financeiramente o clube. O futebol é consequência dessa recuperação - explica Edmilson Junior.
Apesar da queda de rendimento na segunda fase, os acertos em 2013 colocam a diretoria com saldo positivo na temporada. Além de Giancarlo, outros jogadores atraíram olhares de grandes clubes. O volante Foguinho, por exemplo, assinou contrato com o Ceará.
- Já foi um bom recomeço - reforça Paulo César Norões.
Giacarlo marcou o gol da vitória do Ferroviário contra o Crato (Foto: Normando Sóracles/Agência Miséria de Comunicação)Giacarlo: passagem feliz e rápida pelo Ferroviário (Foto: Normando Sóracles/Agência Miséria de Comunicação)
Passado vitorioso e estimulante
A história é o grande estímulo para quem faz parte do Ferroviário Atlético Clube não se intimidar, na luta diária. O Peixe já foi conhecido como 'Clube das Temporadas', por vencer times do naipe do Fluminense super-campeão carioca de 1946.
O clube dos operários da estrada da Rede de Viação Cearense (RVC) media forças de igual para igual com Ceará e Fortaleza, principalmente com o talento inconfundível de jogadores que viriam fazer época nesses dois clubes, tempos depois. Jorge Veras, por exemplo, treinador das categorias de base do Fortaleza atualmente, foi artilheiro da Série C do Brasileiro de 92, pelo Peixe coral.
- Tive a felicidade de jogar pelos três grandes clubes do futebol cearense, mas minha maior projeção foi através do Ferroviário. Se duvidar, sou um dos jogadores que mais fez gol em Campeonato Brasileiro. Se você me perguntar qual é o meu segundo time, com certeza é o Ferroviário, por tudo que passei lá dentro - afirma o funcionário e torcedor tricolor, autor de aproximadamente 70 gols pelo Tubarão, em cinco temporadas, conforme suas contas.
Além do faro para boas contratações, o time ainda tinha fama de revelar estrelas, como os atacantes Jardel, Pacoti, Mirandinha e Mota. Eles e muitos outros calçaram as primeiras chuteiras na Barra do Ceará, antes de ganharem o mundo e os grandes contratos.
Apesar de não ter começado no Ferroviário, Giancarlo é o mais novo integrante da lista de goleadores do Ferroviário. Fez 18 no Campeonato Cearense e foi embora, mas reascendeu na torcida o sonho de ver mais nomes corais na história do futebol cearense. Quem sabe, nos próximos anos, o nome do clube esteja no topo como antigamente e novos '9 de maio' tenham grandes motivos para se comemorar. 

 Varjota  Esportes - Ce.       /             Globoesporte

Nenhum comentário:

Postar um comentário