Joseph Blatter e Chuck Blazer em evento na Fifa: americano coleciona infrações (Foto: Getty)
IRS, o serviço de imposto de renda americano. Blazer teve que escolher entre ir para a cadeia e colaborar com as autoridades. Blazer se entregou - e entregou tudo o que sabia. Por isso, seu caso é exemplar e oferece uma espécie de "manual da corrupção" de cartolas.
O Departamento de Justiça americano, responsável pela prisão de sete dirigentes da Fifa, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin, destrinchou em seu relatório as infrações cometidas pelo ex-dirigente, réu confesso em casos que envolvem ainda o ex-presidente da entidade que comanda o futebol nas Américas Central e do Norte, Jack Warner.
O documento divulgado pelo departamento de Justiça cita que ele "conspirou para enriquecer, oferecendo e aceitando pagamentos ilegais, suborno, propina, e participação em esquema para venda de ingressos para Copas do Mundo”. Nos tópicos, abaixo, é possível identificar as infrações citadas:
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Em 1992, França e Marrocos concorriam para sediar o Mundial de 1998. O relatório relata como Blazer e seu comparsa, o "co-conspirador#1" - que seria Warner - venderam seus votos por US$ 1 milhão. Apesar do esquema, a França foi eleita em 2 de julho de 1992 sede da Copa de 1998. O caso de suborno nunca foi revelado.
Em 1991, a Concacaf passou a organizar a Copa Ouro, envolvendo países afiliados. Blazer era o representante da entidade e deu início a um contrato com uma grande empresa de mídia mexicana. Na edição de dois anos depois, porém, a situação mudou.
Em 1993, juntamente com Warner, Blazer iniciou negociações com o co-conspirador#2 (identificado depois como José Hawilla), responsável por uma grande empresa de marketing esportivo da América do Sul. As negociações avançaram e, mediante pagamento de propina, ficou firmado um contrato pelos direitos de TV, rádio, receita de vendas de ingressos, entre outras, para as próximas edições da competição.
O acordo incluía as disputas de 96, 98, 2000, 2002 e 2003 da Copa Ouro. Neste período, Hawilla e outros representantes de sua empresa enviaram centenas de milhares de dólares para contas associadas a Blazer. Os montantes eram direcionados a entidades diversas controladas pelo americano, como a Sportvertising, nas Ilhas Cayman. Em fevereiro de 2003, após um depósito de US$ 600 mil na conta de sua empresa, ele recebeu o contato de um banco pedindo providências a respeito da origem deste valor.
Blazer, preocupado, escreveu para Hawilla:
- Vamos precisar construir um contrato a respeito dessas e de outras transferências.
Pouco depois, Blazer recebeu um valor retroativo por "consultoria" em um acordo entre a Sportvertising e uma "empresa C", com sede no Panamá e também relacionada a bancos nas Ilhas Cayman.
Em muitos momentos em todo esse período, Blazer tratou de dividir com Warner os pagamentos recebidos de Hawilla e da Traffic em propinas. Por exemplo, em 1999, logo após receber US$ 200 mil, ele transferiu, da conta da Sportvertising, US$ 100 mil para conta controlada de Warner.
COPA DE 2010: LEILÃO DA CORRUPÇÃO E TRAIÇÃO
Em 2004, Marrocos, África do Sul e Egito disputavam o direito de sediarem a Copa de 2010. Meses antes da votação, como já tinha acontecido em 1992, Chuck Blazer seguiu para o Marrocos para tratar do caso juntamente com Warner, que a esta altura ocupava um cargo ainda maior de oficial do alto-escalão da Fifa, Concacaf e União Caribenha. Em solo marroquino, um representante do comitê organizador ofereceu a Warner US$ 1 milhão pelo voto secreto. Pouco depois, porém, Blazer soube por Warner que havia proposta superior.
A África do Sul teria, de acordo com a investigação, oferecido US$ 10 milhões em troca de apoio. Em conversa com um terceiro dirigente, identificado como co-conspirador#3, Blazer entendeu de que esta proposta já tinha sido aceita e que todos deveriam votar nos sul-africanos. Warner confirmou o acerto e prometeu dar US$ 1 milhão para Blazer. Em 15 de maio, a África do Sul foi escolhida para receber a Copa de 2010, e o trio citado indicou ter votado por isso. Faltava, no entanto, o pagamento.
Com o passar do tempo, Blazer questionou Warner a respeito dos US$ 10 milhões e soube que os sul-africanos não seriam capazes de fazer o pagamento com fundos vindos do governo. A solução foi a transferência para uma organização de futebol comandada por Warner - com fundos direcionados pela própria Fifa. Blazer, porém, continuava sem seu montante, até que ouviu do parceiro que a opção seria um pagamento em parcelas, uma vez que o co-conspirador#3 e outro dirigente também faziam parte do acordo.
Blazer disse aos investigadores que nunca recebeu o US$ 1 milhão prometido. Entre dezembro de 2008 e maio de 2011, três depósitos bateram em sua conta, totalizando "somente" pouco mais de US$ 750 mil.
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