Ferroviário é rebaixado em campo, mas promete apelar à Justiça Diretoria coral diz ter 'carta na manga': dois atletas do Crateús que teriam atuado de forma irregular. Jogadores comemoraram após a partida

Após a partida em que o Ferroviário venceu por 2 a 1 o Guarani de Juazeiro, na tarde deste domingo, os jogadores do time coral comemoraram de forma extasiante. Por alguns minutos, causou espanto a comemoração, já que o time seria rebaixado mesmo com a vitória. Do artilheiro do Ferrão, Canga, veio a pista.
- Nosso papel hoje aqui era ganhar o jogo. A diretoria mandou ganhar o jogo e o resto era com eles. A nossa parte nós fizemos - disse o atacante.
Toda a situação ficou explicada logo a seguir, quando o supervisor de futebol do clube, Francisco Pereira, o 'Chicão', tirou a carta que, segundo ele, o Ferroviário trazia na manga.
- Nós temos um trunfo guardado há algum tempo. Dois jogadores do Crateús atuaram de forma irregular no campeonato. Nós já sabíamos disso. Mas guardamos a informação. Amanhã mesmo estamos entrando na Justiça Desportiva - afirmou Chicão.
Os dois jogadores em questão são Bruno Recife e William. Segundo Chicão, a acusação de que os dois atletas do Crateús atuaram, mesmo suspensos, será levada logo cedo à Justiça Desportiva do Futebol no Ceará.
Segundo o artigo 214 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), incluir na equipe um atleta em condições irregulares para participar da partida pode gerar pena de perda do mesmo número de pontos de uma vitória. Desta forma, o Crateús poderia perder três pontos para cada um dos jogadores irregulares - caso comprovada a acusação e o TJDF-CE assim sentencie.
Perdendo seis pontos, o Crateús ficaria com 20, enquanto o Ferroviário se manteria na 1ª divisão com seus 21 pontinhos.
Esperanças

Wítalo e Gean acompanhando também no radinho
(Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)

Antes da partida começar, a matemática para o Ferroviário - terceiro time de maior tradição no futebol cearense - não ser rebaixado era simples. O time precisava vencer e torcer para que o Icasa, em Juazeiro do Norte, não conseguisse derrotar o lanterna e já rebaixado Itapipoca.
A esperança da torcida coral era imensa. Mesmo em situação delicada. Os apaixonados andavam com o radinho de lado para ficar de ouvido atento aos placares nos outros jogos - principalmente no resultado de Icasa x Itapipoca.
- Vamos ficar acompanhando pelo radinho o resultado do jogo do Icasa com o Itapipoca, que é importante para nós - disse Gean Soares, torcedor que estava com seu radinho de lado.
11 sobreviventes

Relação de jogadores do Guarajuazeiro sem nenhum
reserva (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)

Do lado do Guarani de Juazeiro, apesar de não estar ameaçado de rebaixamento, a situação não era das mais motivadoras também. Em grave crise financeira, o clube enviou apenas 11 jogadores para pôr em campo.
- A situação é complicada, mas nós já conversamos bastante antes do jogo que é para não corrermos riscos. Ter muito cuidado com as dividas para não perder jogador nenhum, porque a gente não pode se dar a esse luxo - contou o goleiro do Guarani, Fábio.
No banco de reservas, a situação era quase de abandono, já que não tinha reserva nenhum no time do Guarani de Juazeiro. Lá, firme e forte, estava o preparador físico, que deu uma de técnico por um dia, Jairo César.
- Acabou sobrando pra mim. Sou funcionário do clube e tenho que ser profissional neste momento. Se eles precisam que eu venha, eu tinha que vir. Tenho que acatar a diretoria - desabafou Jairo.
Vou não, saio não

Márcio Tarrafas se recusou a sair de campo (Foto:
Kid Júnior/Agência Diário)

O 1º tempo do jogo estava tão nebuloso e cinzento quanto o céu em Maranguape, onde passou o dia quase todo chovendo. De lances relevantes, um para cada lado. Uma cabeçada de Bruno Paulista, aos 28 minutos, que acertou o travessão do goleiro Fábio. Além de um contra-ataque do Guaraju, puxado por Anderson, que quase abriu o placar.
O lance mais interessante e inusitado veio após o treinador Roberto Cearense indicar uma substituição. Inconformado com o meia Márcio Tarrafas, que não atendia a seus apelos de jogar com mais velocidade, o técnico coral pediu a entrada de Jean. No entanto, chegando à beira do campo para entrar, Jean foi surpreendido com Márcio Tarrafas assinalando que não sairia.
- É palhaçada isso que aconteceu - gritou Jean, inconformado com a atitude do companheiro.
Roberto Cearense teve que engolir e ainda ouvir a torcida gritando o nome de Márcio Tarrafas das arquibancadas.
- No intervalo vou conversar com o jogador - disse o técnico.
Tarrafas volta e o Ferrão vence
A conversa no vestiário parece ter feito o técnico Roberto Cearense mudar de ideia. Afinal, Tarrafas voltou e não foi mais substituído durante o restante da partida. Para dar mais ânimo ao time coral, os torcedores gritavam das arquibancadas ao saber que o Itapipoca havia empatado a partida com o Icasa. No mesmo instante, aos 10 minutos, Canga abriu o placar para o Ferroviário, com um toquinho na saída do gleiro Fabio.
A comemoração nas arquibancadas não durou muito, já que o gol do Itapipoca foi anulado lá em Juazeiro do Norte. A situação ficou pior quando o Guarani empatou o jogo em Maranguape, com gol de Paulo Robson, aos 22 minutos, aproveitando cruzamento da direita.
Mas um pênalti salvaria o Ferrão. Aos 30 minutos, Adriano foi derrubado na área. Rafinha foi para a cobrança e colocou o time coral mais uma vez na frente no marcador.
Aos 37 minutos, o Ferroviário ainda perdeu um jogador, com a expulsão do zagueiro Guilherme. No entanto, o Guarani não mostrou forças suficientes para conseguir reagir e a partida terminou no 2 a 1 para o Ferroviário, sob protestos e desespero da torcida coral.

Torcedores do Ferroviário vão embora tristes com o resultado (Foto: Kid Júnior/Agência Diário  /   Varjota  Esportes - Ce.