Títulos, tempo de casa e vitórias em clássicos. Três ingredientes fundamentais para elevar um jogador ao status de ídolo de uma torcida. Mas há quem contrarie esta regra. Revelado na base do Guarani, Amoroso atuou pelo clube por pouco mais de duas temporadas ao todo, não levantou taça e nunca venceu a Ponte Preta entre os profissionais. Mesmo assim, o ex-atacante – hoje com 37 anos – é um dos poucos que passaram pelo Brinco de Ouro que pode descrever com exatidão a experiência de disputar o maior clássico do interior do Brasil.
A começar pelo seu último jogo na carreira. Em 8 de fevereiro de 2009, Amoroso vestiu a camisa 10 do Bugre por 68 minutos no empate com a Macaca, por 2 a 2, pela sexta rodada do Paulistão. Não fez gol, nem participou das jogadas decisivas da partida, mas saiu ovacionado pela torcida, que tanto ansiava pela sua volta, após 13 anos.
– Eu sempre disse que ia encerrar minha carreira no Guarani, não importa o que acontecesse e a situação que o clube tivesse. E o encerramento foi justamente num dérbi. Estava há nove meses sem jogar, mas me senti muito bem em campo – diz o ex-atacante.
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Mas esta nem é a sua melhor lembrança de um clássico. Acostumado a disputar jogos importantes em sua bem sucedida carreira no Brasil e no exterior, Amoroso guarda com carinho aqueles dérbis disputados quando ainda não era profissional. Na lista, estão um 3 a 3 com três gols seus e um impactante 7 a 2 no Brinco de Ouro, quando marcou três também.
– Devo ter uns 15 gols no dérbi. Não é um clássico fácil, mas é motivante. Ainda mais para quem cresceu vestindo a camisa do clube.
Amoroso lembra histórias dos dérbis que participou e brinca até com a vontade de calçar as chuteiras e ficar à disposição de Oswaldo Alvarez para o clássico deste domingo, pela semifinal do Campeonato Paulista. Mesmo fora de forma, acredita que poderia se encaixar no esquema bugrino e acabar com o jejum contra a Ponte e de títulos. Se é que precisa disso para ser um ídolo.
Como é ser considerado um ídolo do Guarani mesmo sem ter jogador 90 minutos de um dérbi contra a Ponte Preta como profissional (Amoroso foi expulso no primeiro, em 1995, e substituído no segundo, em 2009)?É gratificante. O torcedor bugrino sabe do meu comprometimento com o Guarani, com o clube, por ter começado nas categorias de base. Sempre joguei dérbi no amador e nunca tive uma derrota para a Ponte Preta. É maravilhoso ter esse carinho, mesmo não conseguindo vencer no profissional. Eu sempre considerei dérbi qualquer partida contra a Ponte, mesmo que não fosse pelo Guarani. Tive duas atuações por São Paulo e Corinthians e ganhei as duas. Para mim, era dérbi.
E você se despediu justamente no clássico com a Ponte Preta?Estava há nove meses sem jogar, tinha rescindido com um clube da Grécia (Aris FC). Ficou aquela indecisão do que fazer, se ia jogar ou parar. Daí recebi um "convite" do Guarani. Foi mais pressão da torcida do que vontade do Leonel (Martins de Oliveira, presidente do Bugre na época) de me contratar. Sempre digo que foram os torcedores que me contrataram, não o presidente. Não joguei as primeiras partidas da temporada, mas prometi que, mesmo machucado, ia para o dérbi. Não tinha como passar. Eu me senti bem durante o jogo, não tive problemas.
Aquele jogo teve algo de diferente?Acordei no domingo e vi o tempo nublado, carregado. Quando deu 17h, caiu o mundo em Campinas. Chovia muito forte. Pensei: "Como pode chover justo agora?". Achei até que ia inundar tudo. Só estava pensando na chuva, nem estava preocupado com a Ponte Preta. Na palestra do Luciano Dias (técnico), perguntei para os jogadores quem sabia explicar para mim o significado do dérbi, porque naquele grupo ninguém tinha começado no Guarani. Eu falei que eles iam sentir o significado quando estivéssemos chegando ao estádio. O ônibus chegou, eu fui até o motorista e pedi para parar. "Vamos descer no meio da torcida", falei. Aí, todos os jogadores desceram no meio da galera, entraram pelo campo, na parte dos torcedores, só para sentir o clima.
E em campo não terminou do jeito que você esperava, não?
Todo o primeiro tempo foi da Ponte e o segundo, do Guarani. Eu tinha uma aposta com uns amigos pontepretanos. Se o Guarani perdesse, eu teria que pagar 50 litros de chope e uma galinhada. Se eu ganhasse, eles que me pagariam. Quando a gente foi para o vestiário, só pensava nesta aposta. Voltamos para o jogo e o Fernando Gaúcho fez um golaço de voleio. Depois, fez um gol contra de cabeça, até o Cleverson empatar com um chute no ângulo. Mas eu estava me sentindo bem. Não recebi nenhuma falta, os caras me respeitavam. Eu dominava, levantava a cabeça e só distribuía.
Todo o primeiro tempo foi da Ponte e o segundo, do Guarani. Eu tinha uma aposta com uns amigos pontepretanos. Se o Guarani perdesse, eu teria que pagar 50 litros de chope e uma galinhada. Se eu ganhasse, eles que me pagariam. Quando a gente foi para o vestiário, só pensava nesta aposta. Voltamos para o jogo e o Fernando Gaúcho fez um golaço de voleio. Depois, fez um gol contra de cabeça, até o Cleverson empatar com um chute no ângulo. Mas eu estava me sentindo bem. Não recebi nenhuma falta, os caras me respeitavam. Eu dominava, levantava a cabeça e só distribuía.
O que mudou do primeiro dérbi para o último que você disputou?
Mudou muita coisa. O time de 1995 era muito melhor. Tinha Djalminha, eu e o Luizão na frente. Fernando e Fábio Augusto eram os dois volantes que deixavam a gente à vontade para jogar. O Guarani vinha bem no Campeonato Paulista. Foram dois momentos. Em um eu estava machucado e no outro estava voltando de contusão. O legal é que eu sempre quis jogar contra a Ponte. Não sei se era o destino. Ou eu machucava, ou não terminava. Sei lá, difícil explicar.
Mudou muita coisa. O time de 1995 era muito melhor. Tinha Djalminha, eu e o Luizão na frente. Fernando e Fábio Augusto eram os dois volantes que deixavam a gente à vontade para jogar. O Guarani vinha bem no Campeonato Paulista. Foram dois momentos. Em um eu estava machucado e no outro estava voltando de contusão. O legal é que eu sempre quis jogar contra a Ponte. Não sei se era o destino. Ou eu machucava, ou não terminava. Sei lá, difícil explicar.
Fale sobre o seu gol no dérbi de 1995. Você aproveitou cruzamento do Djalminha e logo depois foi expulso. Ficou uma frustração?Ele batia a falta na primeira trave e eu entrava em velocidade. O Djalminha pegou a bola, olhou para mim, deu uma piscada e eu, assim que ele partiu, já corri na frente do zagueiro. Ele bateu e eu fiz o gol de letra. Eu estava com duas camisas e, quando fiz o gol, tirei uma camisa e joguei para a torcida. Voltei para o jogo e tomei o amarelo. Na sequência, quis bater uma falta rápida e o Júlio César ficou segurando meu pé. Fui afastar, ele fez uma cena e fui expulso. Fiquei triste. O Guarani estava muito bem no jogo, estava 2 a 0 com 30 minutos. Pensei que ia ser uma goleada histórica.
Jogos | 44 |
Gols | 28 |
Passagens | 2 |
Expulsões | 1 |
Qual foi o dérbi mais marcante da sua carreira?Não foi nenhum dos que joguei no time principal. Em 1994, eu estava no Japão e tinha feito um acordo com o Beto Zini (presidente na época) que, se recebesse uma proposta, queria ficar no futebol japonês. Se não fosse para voltar para o Japão, não queria mais jogar futebol. Ele não quis e por isso fiquei três meses sem jogar. Até voltei para Brasília. Depois de um tempo, o Beto me ligou e prometeu que ia me negociar se aparecesse um clube em 30 dias. Caso contrário, eu ia ficar no Guarani. Voltei a treinar numa quarta-feira e tinha dérbi domingo. A Ponte fez 1 a 0, eu empatei o jogo e virei. A Ponte foi lá e empatou. Jogo vai e vem, cruzaram uma bola e fiz o terceiro. No fim, o Claudinho empatou. Aí, o Beto Zini veio conversar comigo. "Como é que eu vou te vender?". Daí, acertei minha permanência no Guarani. Este dérbi foi marcante.
Você se acostumou a jogar dérbis quando ainda não era profissional. Tem algum resultado expressivo no clássico?Teve um 7 a 2 uma vez, no time aspirante. O Guarani tinha empatado no campo da Ponte e precisava da vitória para classificar. Com o empate, a gente sabia que ia fazer a diferença em casa. A Ponte saiu na frente, eu empatei o jogo. Só que, no aspirante, tinha uma regra que falava que, depois de dez faltas sofridas, o time poderia cobrar uma falta da linha da grande área e sem barreira. E a gente tinha pontas infernais, que sofriam falta a toda hora. Eu fiz dois gols assim. O torcedor lembra deste jogo, porque os bugrinos vinham antes para o Brinco para ver o aspirante jogar. Era um time forte, que dava espetáculo e ganhava de oito, dez.
O dérbi foi o clássico mais marcante da sua carreira?O dérbi campineiro é diferente. Envolve uma cidade inteira. Só quem joga, quem vive, quem passa o dia a dia esperando pela partida sabe a importância que tem, a motivação em cima do jogo, a repercussão da mídia envolvendo este clássico. Eu, mais do que ninguém, gostaria de estar neste jogo de domingo. Vou estar na arquibancada, mas com uma vontade de pegar a chuteira, colocar no pé e entrar pelo menos um pouquinho. Era o clássico que mais me motivava. A camisa do Guarani era minha segunda pele, a que mais gostei de usar.
E onde o Amoroso se encaixaria neste time do Guarani?Junto com o Fumagalli. O Fabinho ia cansar de fazer gol, assim como o Bruno Mendes, de tão rápidos que são. Ia ser complicado parar. Fumagalli mais pela direita, eu pelo lado esquerdo. O Fábio Bahia e o Danilo Sacramento como volantes. O Guarani ia ser um time diferente.
Nunca houve uma sondagem para jogar pela Ponte Preta?Tenho amigos pontepretanos. Vários, aliás. Com certeza tem aqueles amigos que sonhavam me ver na Ponte. Eu brincava e dizia que infelizmente eles não teriam esse prazer. Não é que a Ponte não encaixa no meu perfil. Por ter sido revelado no Guarani e ter esse coração bugrino, acho que não jogaria. Todo bugrino também gostaria de ter o Dicá no seu time, mas ele falaria a mesma coisa. A minha é a mesma situação.
Você se considera o maior ídolo do Guarani?O Guarani tem outros grandes ídolos. Careca, Neto, Evair, João Paulo, Amaral, Boiadeiro, Zenon. São jogadores que fizeram história também. Eu posso falar que me considero um ídolo pelo que eu representei para o Guarani, pelo carinho com o clube. Por onde passei, sempre me preocupei. Maior ídolo da história, eu não me considero. Sou um ídolo respeitado pelos torcedores, que sabem que eu realmente gosto do Guarani.
Quem pode fazer a diferença no dérbi deste domingo?O Fumagalli tem sido fundamental no esquema tático do Vadão. Pela bola parada, pela visão de jogo, pode fazer diferença. Na Ponte, é o Cajá. São os dois meias pensantes, os camisas 10, que precisam ter uma atenção especial. Os dois passam e chutam bem e podem fazer a diferença neste dérbi.
Tem favorito no clássico?Se o dérbi fosse em algum momento dos últimos dois anos, colocaria a Ponte como favorita, pelo crescente que teve nos últimos anos. Hoje, falo que o Guarani tem grande chance de reverter isso. Por jogar na sua casa, acho que é o favorito desta partida.
E o palpite para o clássico?Não vou colocar empate de novo, um 2 a 2, que foi um número que teve em vários dérbis. O Guarani ganhando de 2 a 1 já fica de bom tamanho.
No domingo, o GLOBOESPORTE.COM acompanha a partida em tempo real com vídeos. O canal SporTV irá transmitir o jogo ao vivo, às 18h30m (de Brasília).
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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