Brasileira se realiza na piscina após ser baleada em assalto: "Tudo é possível" Nadadora Patricia Pereira pega 15 ônibus por dia para treinar, passa por dificuldades financeiras, mas festeja recomeço depois de perder o movimento das pernas com tiro

Descrição da imagem: Patricia Pereira sorri após ficar em quinto nos 50m peito (Foto: Lydia Gismondi) 
Um ano para voltar a sentar, dois para reaprender a falar. Patrícia Pereira precisou começar do zero depois de ser baleada em um assalto em 2002. Voltar ao ponto de partida faz parte de sua rotina desde aquele 25 de janeiro, quando foi surpreendida por um assaltante quando estava trabalhando em uma caixa lotérica. Há sete anos, aprendeu também a nadar e encontrou no esporte paralímpico um novo sentido para sua vida. Hoje, a atleta de 39 anos distribui sorrisos no Estádio Aquático dos Jogos do Rio, feliz com estreia nas Paralimpíadas, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo caminho.
- Tudo que um ser humano pode esperar depois de um acidente é imaginar que tudo é possível. Você acreditar, não abaixar a cabeça e mostrar que nós somos brasileiros e não desistimos nunca. Eu sou uma dessas. A vida tem prós e contras. O irônico é que fui parar na cadeira de rodas, e o mais irônico ainda é que eu soube sair dela. Independentemente das circunstâncias de uma adversidade da vida, é levantar a cabeça e acreditar que pode fazer diferente. Foi o que eu fiz - contou a nadadora. 
Descrição da imagem: Patricia Pereira sorri após ficar em quinto nos 50m peito (Foto: Lydia Gismondi)
Eu venho de uma realidade onde você vende o almoço, café e a janta para poder comer daqui a três dias. Então, chuta alguém que está muito feliz... Sou eu. Só com a cara e a coragem eu cheguei na Paralimpíada. Isso significa que não é para eu desistir"
Patricia

O sorrido largo, sempre no rosto de Patricia nos Jogos Paralímpicos do Rio, esconde uma história triste e de muitos desafios. Aos 24 anos, a capixaba mãe de dois filhos viu sua vida mudar completamente após ser vítima de um assalto na loja em que trabalhava, em Vitória (ES). Um tiro na região do pescoço a deixou tetraplégica. Os primeiros dois anos depois de ser baleada foram os mais difíceis. Levou um ano para conseguir sentar; dois para voltar a falar. Aos poucos, foi recuperando o controle do tronco e alguns movimentos dos braços. As pernas, no entanto, permaneceram paralisadas. 
A intimidade com o esporte ajudou em sua reabilitação. Em um primeiro momento, a capixaba que jogava futebol antes do assalto passou a praticar basquete em cadeira de rodas. Mas o maior desafio surgiu em 2009, quando foi incentivada a trocar as quadras pelas piscinas, mesmo sem nunca ter aprendido a nadar.
- Eu gosto de desafio. A natação hoje nada mais é do que um desafio, porque eu não sabia nadar. Recebi o convite, mas não aceitava. Confesso que fiquei apavorada. Mas um dia resolvi perder o medo e acreditar. Quando me convidaram pela terceira vez, não resisti. A natação é uma forma de você se sentir livre, se sentir capaz. Eu tenho dois filhos, sempre fui o pilar da minha casa, e nada como você se reinventar mostrando que está ali, ativo. 
Patrícia Pereira dos Santos, natação (Foto: Washington Alves / MPIX / CPB)
Patricia está ativa, nadando e ganhando medalha. Em sua estreia paralímpica, nadou nas eliminatórias e ajudou o Brasil a conquistar a prata no revezamento 4x50m livre misto até 20 pontos, na sexta (dia 9). Também chegou à final dos 50m peito SB3, terminando em quinto lugar, na quarta-feira, e ainda vai nadar os 50m livre S4 na sexta. Experiência que tem recompensado todas as dificuldades que passou até chegar no Rio. 
- Pego entre 12 e 15 ônibus por dia. Treino em um canto, faço fisioterapia no outro, personal no outro, academia... são locais distintos. Cada deslocamento, são dois ou três ônibus, e isso quando dou a sorte de não pegar nenhum com defeito. Tem bastante carro adaptado na cidade (Vitória), mas a manutenção e a forma como utilizam são erradas. É triste, mas é a nossa realidade. Eu venho de uma realidade onde você vende o almoço, a café e a janta para poder comer daqui a três dias. Então, chuta alguém que está muito feliz... Sou eu. Só com a cara e a coragem eu cheguei na Paralimpíada. Isso significa que não é para eu desistir. 

  Varjota  Esportes - Ce.              /         Globoesporte.

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