Descrição da imagem: Daniel Dias sorri, ainda criança, segurando um guarda-chuva (Foto: Reprodução / Instagram)
Daniel Dias era uma criança para lá de ativa. A malformação nos dois braços e na perna direita jamais o impediram de correr, jogar bola, subir em árvore, e tantas outras brincadeiras de infância… Mas o que surpreendeu de verdade o pediatra João Fanuchi foi ver seu pequeno paciente andando de bicicleta. Daquele momento em diante, o médico não tinha mais dúvidas de que Daniel poderia ir muito longo. E como foi. Maior medalhista paralímpico brasileiro, o agora nadador conquistou nesta quarta-feira nada menos que seu 21º pódio.
Único médico especializado em crianças na pequena cidade de Camanducaia, na divisa sul de Minas Gerais com São Paulo, João Fanuchi acompanhou Daniel Dias desde que o nadador era um recém-nascido. Sempre se surpreendeu com a maneira como ele não se deixava limitar pela deficiência.
- Ele me impressionou muito por levar uma vida como criança normal. Com 15 dias, eu já liguei para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e ele foi acompanhado desde o início. Colocaram prótese nele assim que começou a andar. Ele gastava muito rápido as próteses. Durava poucos dias. Os pais ficavam desesperados, porque ele destruía, jogava futebol, subia em árvore, queria fazer todas as atividades. O Daniel era terrível – lembra Fanuchi.
Conforme o menino ia crescendo, apenas uma brincadeira das crianças ele não participava: andar de bicicleta. Sem mãos e com uma das pernas mecânica, não se sentia seguro para arriscar. Até que recebeu um incentivo do médico, que hoje, admite que estava até um pouco incrédulo de que o pequeno conseguiria vencer mais esse desafio.
- Com cinco anos mais ou menos, quando ele vinha ao consultório, falava que a única coisa que não fazia era andar de bicicleta. Achava que não conseguia. Eu falei: “olha Daniel, acho que você pode andar de bicicleta. Depende só de você, da sua vontade. Tem que ter fé em Deus e se esforçar”. Ele disse então que ia pedir uma para o pai. No íntimo, eu achava que ele nunca ia conseguir. Ele não tem a pegada das mãos. Era muito difícil – revelou o médico.
Como costumava fazer desde pequeninho, Daniel voltou a surpreender o pediatra. Não apenas surpreendeu, como emocionou e deu mais uma das muitas lições de força de vontade.
- Meu consultório tem janela para a rua. Então, estou lá um belo dia e, de repente, bate na janela. Quando abri e olhei, era o Daniel, sozinho com a bicicleta. Ele disse: “Doutor João, vim mostrar que estou andando de bicicleta”. E saiu pedalando no morro. Ele arrumou uma forma de andar sem segurar o guidão. Apenas empurrando para um lado e para o outro e apoiando os braços. Fiquei abismado com a aquilo. Chorei de emoção.
Como costumava fazer desde pequeninho, Daniel voltou a surpreender o pediatra. Não apenas surpreendeu, como emocionou e deu mais uma das muitas lições de força de vontade.
- Meu consultório tem janela para a rua. Então, estou lá um belo dia e, de repente, bate na janela. Quando abri e olhei, era o Daniel, sozinho com a bicicleta. Ele disse: “Doutor João, vim mostrar que estou andando de bicicleta”. E saiu pedalando no morro. Ele arrumou uma forma de andar sem segurar o guidão. Apenas empurrando para um lado e para o outro e apoiando os braços. Fiquei abismado com a aquilo. Chorei de emoção.
Daí para a frente, Daniel continuou crescendo. Sem limites. Descobriu a natação pouco depois, quando se mudou com a família para Bragança Paulista. Não demorou para começar a conquistar medalhas internacionais e explodiu como atleta em 2008, quando conquistou quatro ouros, quatro pratas e um bronze na Paralimpíada de Pequim.
Descrição da imagem: Dr João Fanuchi sentado em sua mesa no consultório de pediatria (Foto: arquivo pessoal)
- Chamava a atenção o fato de ele não se inibir com o problema físico. Não tinha vergonha e enfrentava tudo e todos. Até o bulling na escola, levou na boa. A aceitação, a vontade de superar essa deficiência. Arrumar uma forma de atingir os objetivos dele. Tem crianças com deficiências menores que a dele e que se intimidam, não querem participar das atividades. Ele, não. Era um esportista desde pequenininho. Sempre gostou de competir na escola. Sempre foi um menino muito iluminado. Quando começou a ganhar as primeiras provas, foi uma vez no meu consultório e contou que estava nadando e ia disputar a Paralimpíada. Foi lá e ganhou um monte de medalhas, voltou e desfilou em carro aberto. Com certeza, é um orgulho muito grande - concluiu o médico.
Há uma semana, quando Daniel Dias levou o primeiro dos seis pódios que já conquistou nos Jogos do Rio, João Fanuchi compartilhou parte de sua história com o nadador nas redes sociais. A homenagem rapidamente se espalhou, e chegou até Daniel. Então foi a vez de o menino que se acostumou a emocionar seu médico ficar do outro lado.
- Doutor João foi muito especial na minha vida, na minha infância. Quando vi o post dele foi emocionante. Saber que ele lembra desses detalhes. Que, de certa forma, marcou a vida dele também. Vejo ele falando que sempre acreditou em mim. Isso é muito bacana. Ter esse incentivo desde criança, muitas pessoas me incentivando, minha família e inclusive ele. São boas lembranças – disse Daniel Dias.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte.
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