O jogo acabou cerca de dez minutos antes, e a vencedora sentava-se à sombra, em um banco na beira da quadra. "Não tem nada que eu veja e diga 'não dá para fazer'", afirmava. Não era a voz de alguém tentando se valorizar. Tampouco soava como um ensaiado discurso tirado de um livro de auto-ajuda. Thalita Rodrigues, 18 anos, tenista número 4 do Brasil em sua faixa etária, falava com a naturalidade de quem não vê empecilho algum em jogar tênis sem o antebraço esquerdo.
Técnicos e especialistas afirmam que um atleta sem antebraço leva desvantagem. Falta equilíbrio para rebater bolas. Sem a mão, falta também precisão para o toss, o ato de jogar a bola para o alto no momento do serviço. Thalita desafia os entendidos. Seu lançamento, feito com a raquete, é dos mais precisos no circuito juvenil. Seu saque está entre os mais eficientes.A jovem de Brasília (DF) nasceu assim, resultado de uma rubéola que sua mãe contraiu quando gestante. Talvez por isso ainda soe um pouco surpresa quando ouve perguntas sobre como consegue ser tão eficiente sem poder contar com uma das mãos. Para Thalita, o tênis é natural, e sua história se parece com tantas outras no meio. O avô, Sobral, ensinou o pai, Oseias, que passou a paixão para a filha, que começou no esporte aos 8 anos.
- Eu já comecei a jogar assim. O saque é que meio que eu adaptei. Eu e meu pai vimos algumas maneiras e aí acabamos fazendo o saque assim. (O toss) é natural. Treinando o saque, a gente acaba treinando o toss. Acabei pegando uma técnica bem legal e estou conseguindo - diz Thalita, no Marina Barra Clube, no Rio de Janeiro, dias antes de conquistar o vice-campeonato da etapa carioca do Circuito Nacional Infanto-Juvenil.
Natural, como diz a adolescente, é, de fato, a melhor definição. Tanto que seus movimentos são sem esforço dentro da quadra. É preciso olhar com atenção para notar que a rotina de Thalita entre os pontos é diferente de suas adversárias - especialmente na hora de sacar. Enquanto apoia a raquete no braço esquerdo, usa a mão direita para colocar uma bolinha dentro de seu short. Em seguida, quica a segunda bola e pega a raquete com a mão novamente. Equilibra a bolinha em cima das cordas e, então, faz o toss. Quase sempre, perfeito, lançando a bolinha no lugar ideal para atingi-la com a raquete e completar o saque.
Apesar de estar bastante conhecida no cenário infanto-juvenil, Thalita ainda é vista com espanto por fãs casuais de tênis. Nada, no entanto, que a incomode.
- As adversárias já estão acostumadas agora, mas as pessoas passam e falam assim "nossa, aquela menina é diferente, né?". Mas aí vão me conhecendo cada vez mais. Ouço isso também durante os jogos. "Nossa, olha aquela menina!" "Ela joga bem!" Não me desconcentra porque eu já acostumei - explica, sorrindo.
Fã de Roger Federer e Serena Williams, Thalita faz planos ambiciosos. Quer tentar carreira como profissional e, quem sabe, disputar as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Para isso, sabe o que fazer. "Treinar mais e mais para ter grandes resultados".
No ranking brasileiro para meninas de até 18 anos, só três jovens estão à sua frente. Duas delas são Bia Haddad Maia e Laura Pigossi, grandes promessas que figuram entre as 25 melhores juvenis do mundo. Ambas já disputam torneios adultos com frequência. Thalita não tem tanta experiência. Até agora, disputou apenas um evento profissional, em Brasília, onde ganhou um wild card (convite) da organização. Sua estreia foi em um torneio com premiação de US$ 25 mil - difícil para quem nunca tinha saído do juvenil. Ainda assim, o começo foi promissor. A adolescente ganhou sua estreia no qualifying, antes de perder na rodada seguinte.
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