Menino de 11 anos funda e treina time de futebol na periferia de Fortaleza Wesley Bruno se espelha no técnico do time de coração pra comandar os colegas. Grita, vibra e cobra como PC Gusmão


 Ao estilo barulhento de PC Gusmão, atual técnico do Ceará, um garotinho de apenas 11 anos e 20 kg coloca ordem em uma dúzia de meninos do bairro Novo Barroso, na periferia de Fortaleza. Wesley Bruno não sonha ser jogador de futebol, como a maioria na comunidade, e sim, técnico. Até porque para atacante, zagueiro ou meio-campista ele não tem sequer porte (Veja reportagem ao lado).
Ele nasceu com um problema. Aos quatro meses, tinha só oito quilos. Ele já foi do Iprede (Instituto da Primeira Infância) – entidade que combate a desnutrição infantil do Estado do Ceará – e hoje pesa 20 quilos.
- A médica diz que eu tenho que internar ele (sic) pra ganhar peso, mas não deixo meu filho internado não – relata a mãe, Francisca Costa.
A mãe se vira pra convencer o menino a comer o que pode e ele junta esforços para realizar o sonho dele e dos colegas, no Cearazinho – nome dado à equipe. A maior conquista nos seus 11 anos de vida foi uma bola.
- Consegui ligando pro Ceará (o verdadeiro), dizendo que queria tirar o pessoal da rua, do mundo das drogas. Aí, uma diretora lá conseguiu uma bola autografada pra mim – explica o garoto.
Wesley, de 11 anos, comanda time em bairro da feriferia de Fortaleza (Foto: Marcos Montenegro/Globoesporte.com)Wesley posa com os 'alunos' e a bola do projeto
(Foto: Marcos Montenegro/Globoesporte.com)
Ele arregassa as mangas dos braços finos e aparentemente fracos, inspirado no que aconteceu com o irmão de criação. Não quer que os colegas sigam os caminhos que ele viu José Igor percorrer. O jovem de 19 anos foi morto, segundo ele, 'por não seguir os conselhos do pai'. Ainda pequeno, Wesley pensa como gente grande. Quando vai 'trabalhar' no campo de areia do Novo Barroso, deixa os problemas em casa para se preocupar com outros.
- Nós precisamos de mais bolas, chuteira, uniforme... Tudo pra incentivar o pessoal a continuar sonhando e não ir pra marginalidade – apela o garoto, trocando as letras da palavra “marginalidade”.
Com a mesma seriedade com que pede ajuda, ele grita para os “comandados”. 'Valoriza a posse de bola', 'fecha o buraco na zaga'... Se diz um técnico retranqueiro e, quando necessário, ordena: 'Derruba o atacante!'. Tem também um pouco de psicólogo, como todo treinador precisa ter. A hora da escalação, por exemplo, é hora sagrada.
- Eu falo para o pessoal ter paciência, porque quem fica de fora da escalação vai ter uma chance depois. Tem que ter calma.
Técnico com moral
Hoje, as camisas de Barcelona, São Paulo e Flamengo se misturam no mesmo time e algumas delas vestem até gente mais velha que o próprio técnico. Gente tão madura quanto para saber que disciplina se aprende desde cedo.
- Ele “bota” moral mesmo. Até em gente mais velha como eu. Esse técnico aí tem futuro - assegura Luís Otavio, de 13 anos, jogador do Ceará genérico.
Perto dali, os mesmos “alunos” são colegas de classe de Wesley. As notas sempre estão entre as melhores da sala. Afinal, o “professor” tem que ser o exemplo para a meninada. Definitivamente, não há argumento para dizer o contrário: Wesley é “O Cara.” E antes que a reportagem do GLOBOESPORTE.COM vá embora, ele pede pra mandar um recado:
- PC Gusmão, é melhor tomar cuidado comigo, senão vou tomar sua vaga - avisa o menino.
Wesley, de 11 anos, comanda time em bairro da feriferia de Fortaleza (Foto: Marcos Montenegro/Globoesporte.com)Wesley, de 11 anos, comanda time em bairro da periferia de Fortaleza. Projeto foi criado por iniciativa dele e conta apenas com a boa vontade do garoto (Foto: Marcos Montenegro              /     


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