Responsável pelo policiamento nos estádios do Rio de Janeiro, o tenente-coronel João Fiorentini é testemunha das violentas brigas entre torcidas rivais no futebol carioca. Um mal que costuma resultar em mortes e abalar o charme de clássicos não apenas na Cidade Maravilhosa, mas em todo o país. O comandante defende, porém, que o problema não se limita apenas às ruas e aos palcos das partidas. Em entrevista ao"SporTV News", Fiorentini acusou os dirigentes de clubes cariocas de distribuir ingressos a torcidas organizadas em troca de apoio político, contribuindo dessa forma para a manutenção da violência entre torcedores.
A ameaça de violência volta a se fazer presente neste fim de semana, quando sete disputas regionais vão ocorrer pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro - no Rio, Fluminense e Vasco se enfrentam neste sábado, e Botafogo e Flamengo fazem duelo no domingo. Ambos os jogos serão no Engenhão.
- Nenhum presidente me disse de forma oficial, mas é o que eu observo. O clube alega que, a cada dois anos, existe eleição, então, se o presidente atual ameaçar medida mais dura contra a torcida, o setor dissidente tenta fazer acordo com ela, dizendo que se a sua corrente for eleita, os ingressos serão distribuídos - afirma o policial militar.
No início deste ano, a Polícia Militar procurou os quatro grandes clubes do Rio para propor uma solução em conjunto. Segundo Fiorentini, não houve nenhuma resposta concreta por parte dos dirigentes.
- A partir do momento em que a torcida se envolve num ato desse, criminoso, e o clube não suspende remessa de ingresso para a torcida, ele está colaborando com a violência, sim.
- A partir do momento em que a torcida se envolve num ato desse, criminoso, e o clube não suspende remessa de ingresso para a torcida, ele está colaborando com a violência, sim.
No comando do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), Fiorentini afirma que a atuação da polícia para conter os atos violentos entre as facções organizadas é prejudicada pela presença dos torcedores agressivos no palco dos jogos. Ele critica o apoio indireto dado pelos clubes a criminosos.
- Como é impossível para qualquer polícia do mundo estar em todas as esquinas, aqueles torcedores considerados mais violentos são afastados dos estádios, sequer podem sair. No Brasil, adotamos o sistema contrário. Enquanto no resto do mundo ele fica em casa, aqui ele recebe ingresso para ir ao estádio de futebol - diz o comandante, que acusa todos as agremiações cariocas.
- A Torcida Jovem do Flamengo recebe, assim como todas as torcidas do Flamengo, todas as do Vasco. As de Fluminense e Botafogo recebem - dispara.
A mais recente vítima da violência entre torcidas foi um vascaíno. Diego Leal, de 30 anos, foi assassinado no último domingo, 18 de agosto, a tiros e facadas por torcedores do Flamengo. O crime ocorreu dentro de um bar, logo após o clássico entre as duas equipes no Engenhão, pela 18ª rodada do Brasileirão. Seria a vingança pela morte do rubro-negro Bruno Saturnino, atacado por vascaínos há três meses. Tio de Diego, Luis Fernando Leal pouco pôde fazer além de lamentar a perda do sobrinho por um motivo tão fútil.
- É muito duro, rapaz… Dentro do estádio é aquela alegria, aquela coisa linda a torcida, mas quando sai parece que muda tudo, torcedores trocam a roupa pela de bandidos - afirmou.
O Fluminense foi o único clube carioca a esclarecer a relação entre as eleições e os ingressos passados a torcedores. Sem comentar as declarações do comandante do Gepe, a agremiação afirmou que as disputas eleitorais são decididas pelos sócios, não pelas torcidas organizadas, por isso os ingressos não poderiam ser usados como moeda de troca política. O Tricolor ainda informou que a obrigação de garantir a segurança dos cidadãos e torcedores é da Polícia Militar, não dos clubes de futebol.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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